Foto: Charles Dias / Especial

Desde muito cedo, bastava ver um projeto de pesquisa sendo apresentado que Deise Reis Carvalho se inquietava. Queria estar lá, mostrar suas próprias descobertas - ainda que incipientes -, desenvolver uma ideia e defendê-la perante ouvintes ávidos por entender como ninguém tinha pensado naquilo antes. Durante a formação, não foi diferente: via nas feiras de ciências um objetivo claro, mostrando que rumo deveria seguir. Foi tentando, lendo sobre vários assuntos, até encontrar seu caminho. E deu certo.
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Ela estava no colégio quando decidiu que o futuro estava na pesquisa. Nem sabia como, mas seria cientista. Por quê? Inicialmente eram as feiras da escola e a vontade de participar, mas logo foi também o gosto que tomou por criar projetos pessoais que, de alguma maneira, afetassem a vida das pessoas. Os resultados serviram para motivá-la mais e, somados à visibilidade obtida nessas experiências, culminaram em oportunidades pouco comuns a uma estudante do Ensino Médio.
- Comecei pesquisando sobre gordura trans, depois algo relacionado à acne, e fui indo até encontrar o caminho. Tentava por conta própria mesmo. Até que minha professora propôs um tema e me perguntou por que eu não investia ali - descreve Deise, hoje aluna do 2º semestre de Farmácia na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo.
Ela investiu: a temática era insetos, e o interesse estava na área da saúde. Leu em artigos internacionais que larvas usavam musgo ao seu redor como forma de camuflagem, e pensou se algo assim não poderia ser aproveitado para o bem dos humanos. Foi atrás de informações, fez testes, e agora está desenvolvendo um estudo sobre como tratar infecções a partir da atividade antiviral do musgo - pesquisa que a levou, no final de julho, a um fórum científico reunindo jovens de diversos países na Universidade de Aveiro, em Portugal.
- Os temas costumam partir do professor, mas depende do aluno dar prosseguimento ao projeto. Para que a iniciação científica dê certo, é fundamental o interesse do estudante - avalia Giancarlo Mocelin Muraro, analista do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que apoia diversos projetos de incentivo à pesquisa.
Prêmios e iniciativas escolares são incentivo
A história de Deise mostra que o caminho para quem deseja ser cientista não precisa começar só na universidade - e tampouco se limitar aos laboratórios. Uma paixão que pode ser despertada nos primeiros anos de vida começa mesmo a ganhar incentivo a partir do primeiro ano do Ensino Médio. É quando as feiras de ciências ganham força nas escolas e o aluno pode aliar o desenvolvimento de projetos e cursos técnicos às disciplinas tradicionais do currículo.
E, se essas oportunidades dependem da estrutura dos colégios, também há espaço para a iniciativa dos estudantes se sobressair. Além dos destinados a universitários e pesquisadores, alguns prêmios também promovem incentivo à iniciação científica, contemplando jovens com reconhecimento, benefícios (alguns até em dinheiro), e estimulando a continuação dos estudos.
Uma dessas iniciativas, o Prêmio Jovem Cientista, há 31 anos busca impulsionar a pesquisa no país - contanto que parta do próprio estudante o interesse de inscrever seus projetos no concurso.
- Quando a escola entra como um todo (no prêmio), o engajamento é muito bom, mas contamos muito com a iniciativa individual - revela o coordenador do prêmio, Felipe Fernandes.
Ele explica que, para seguir na carreira, é necessário aliar curiosidade e metodologia de pesquisa:
- Curiosidade todo mundo tem, o brasileiro não consegue se colocar diante de um problema sem buscar uma solução. Mas é importante colocar isso no papel. Aí, pronto, você tem um trabalho científico.
Uma das vencedoras do Prêmio Jovem Cientista no ano passado, a estudante Izabel Souza Barbosa, fez uma pesquisa de sociologia no Ensino Médio no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. A partir de um questionário promovido na escola onde estuda, a jovem mostrou como as aulas de educação física e o esporte poderiam combater o bullying - e conseguiu fazer com que a diretoria promovesse ações para combater essa prática.
A sugestão é formular os próprios questionamentos. A inspiração pode surgir de dificuldades do dia a dia, ou obstáculos encontrados na região onde o jovem mora. Há também a opção de conversar com professores e então descobrir temas acessíveis - ou nem tanto - sobre os quais se possa mergulhar em busca de soluções. Com a orientação de um professor, ou mesmo sozinho, a jornada de um cientista não tem hora para começar. Basta colocar em prática o desejo de aprender.

Dicas de Felipe Fernandes, coordenador do Prêmio Jovem Cientista na Fundação Roberto Marinho
- Procure um orientador para o seu projeto, mesmo que ainda não saiba exatamente o que pesquisar. Pode ser um professor com quem você tem mais afinidade.
- Defina também uma área em que você quer se aprofundar. Não precisa ser específica, como matemática ou história, mas algo abrangente, entre exatas e humanas.
- O orientador pode mostrar como buscar informações sobre aquele tema, o que já foi feito a respeito e indicar os possíveis caminhos e métodos para o seu levantamento.
- Durante as aulas de ciências na escola, questione o professor sobre algum tema que deixe você inquieto. Esse pode ser o início de um projeto que vá longe.
- A curiosidade é indispensável, mas busque aliar a ela uma metodologia de trabalho. Significa sistematizar as suas dúvidas e definir como encontrar soluções para elas.
Conheça alguns projetos de incentivo à produção científica ainda na escola:
Prêmio Jovem Cientista
O quê: parceria do CNPq com a Fundação Roberto Marinho, tem como objetivos revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em jovens pesquisadores.
Quem pode participar: são três categorias, voltadas para estudantes do Ensino Médio, universitários e alunos de mestrado e doutorado.
Prêmios: um notebook para cada um dos três primeiros lugares na categoria Ensino Médio, e prêmios em dinheiro para os vencedores da categoria Ensino Superior.
- O prêmio abre inscrições de 11 de agosto a 19 de novembro. O tema deste ano será segurança alimentar e nutricional.
Prêmio Jovens Fora de Série
O quê: iniciativa da Fundação Estudar com apoio da Junior Achievement, reconhece e premia adolescentes que se destacam em feiras de ciências.
Quem pode participar: jovens de 14 a 18 anos matriculados no Ensino Médio.
Prêmios: quatro bolsas de estudo para curso de inglês por um ano e um programa de potencialização de talentos por seis meses.
- Antes chamado Prêmio Estudar Ciência, em 2014 passou a incluir também as áreas de humanas e empreendedorismo.
Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia
O quê: realizado pela Reunião Especializada em Ciência e Tecnologia (RECyT) do Mercosul, incentiva a pesquisa científica e tecnológica voltada para os países da América do Sul..
Quem pode participar: estudantes de Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos, estudantes universitários e pesquisadores
Prêmios: distribui prêmios em dinheiro, além de destacar os participantes com menções honrosas, troféus e publicação do trabalho em livro.
- Devido a indefinições na liderança do Mercosul, o prêmio teve o início adiado neste ano e deve abrir as inscrições em 11 de agosto.