Estudante gaúcho é o primeiro brasileiro a entrar na "universidade dos sonhos"
Foto: Lauro Alves / Agência RBS

A sala de aula é virtual: está na tela de um computador instalado no quarto. Os professores não ficam falando por horas enquanto os alunos, em silêncio, absorvem (ou não) o conteúdo. As provas não são o principal método de avaliação. Para completar, a cada semestre, os estudantes mudam de país. São predicados como esses que deram ao projeto Minerva - modelo americano de reinvenção do Ensino Superior - o carinhoso apelido de "universidade dos sonhos".
A aprovação de um jovem gaúcho - o único brasileiro, aliás - na turma inaugural, cujas aulas começaram semana passada na Califórnia, assopra aos vestibulandos a ideia de que chegar lá não é impossível. Fácil também não é: o processo seletivo pelo qual passou Guilherme Nazareth de Souza, 19 anos, é no mínimo duas vezes mais concorrido que os das universidades americanas tradicionais, como Harvard. A Minerva aprovou, este ano, apenas 2,5% dos inscritos (de 1.794 candidatos, apenas 44 foram aceitos - 33 se matricularam), enquanto em Stanford, outra reconhecida instituição de ensino nos Estados Unidos, este percentual fica entre 5% e 7%.
Guilherme e seus colegas, representantes de 13 países, estreiam uma experiência de ensino considerada promissora. A Universidade Minerva, reconhecida pelo governo americano, pretende remodelar o jeito de formar seus alunos - a começar pelas salas de aula, inexistentes.
>> Leia mais notícias sobre vestibular
>> Leia as últimas notícias de Zero Hora
Os universitários acompanham as atividades letivas em tempo real, a partir de computadores, microfones e webcams instalados nos próprios quartos. Parece confortável, mas exige atenção: para além das provas de fim de semestre, o aluno é constantemente avaliado pela sua participação nos debates. Na Minerva, o aluno recebe nota não só pelo que argumentou nas discussões, mas também pela maneira como se expressou.
- As aulas são conduzidas a partir de uma plataforma digital e interativa, concebida para maximizar as interações entre alunos e professores. O software disponibiliza à faculdade todas as participações do estudante, permitindo um retorno mais rápido sobre seu aproveitamento - explica o diretor da Minerva na América Latina, Alex Aberg Cobo.
Currículo focado na formação de líderes
O currículo da universidade é baseado em exercícios de motivação e memória. De acordo com Cobo, o processo de aprendizagem inclui ensinar o aluno a desenvolver "hábitos mentais" que vão capacitá-lo a encarar desafios futuros.
Em resumo, a ideia é transformá-los em líderes - pessoas inovadoras, que "pensam fora da caixa" (diz o diretor que são essas as habilidades mais requeridas pelos empregadores da atualidade). E como isso não aconteceria se eles vissem a vida passar apenas pela janela do dormitório estudantil, a Minerva elaborou a melhor parte do seu plano de ensino, aquela que a maioria dos jovens em idade universitária imagina como ideal: viajar pelo mundo estudando.
Mais em conta que as escolas consagradas
Depois de um ano em San Francisco, onde transcorre a primeira parte do curso, os "minérvicos" vão mudar de país seis vezes em três anos - um destino por semestre. Outros destinos ainda estão incertos (cogita-se Hong Kong, Mumbai, Londres e Nova York), mas Guilherme, aprovado no curso de Economia e Matemática, já sabe que terá de levar mala e cuia para Buenos Aires, na Argentina, e Berlim, capital alemã - expectativas no céu para um guri que nunca havia morado fora do Brasil antes de partir para os Estados Unidos.
- Estudar dentro de realidades socioeconômicas tão diferentes é muito interessante. Espero que isso contribua para que a gente desenvolva uma visão mais global das coisas - afirma o jovem, que, assim como todas as "cobaias", vai receber bolsa integral de estudos durante o primeiro ano, cerca de R$ 50 mil, o que inclui as quatro taxas anuais do curso e garante, durante um ano, hospedagem e alimentação.
Aliás, como a Universidade Minerva não tem uma grande estrutura física, o custo para os alunos das próximas turmas, caso não obtenham bolsa, é quase 60% menor do que o cobrado nas típicas instituições universitárias americanas, que dispõem de campi megalomaníacos com centenas de salas de aula e dezenas de quadras esportivas.

Da UFRGS para San Francisco
Guilherme Nazareth de Souza (na foto acima) sempre foi estimulado pelos pais a estudar no Exterior, mas, ao ser aprovado no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2013, acabou gostando da ideia de cursar a graduação em Ciências Econômicas no Brasil. Já nos primeiros dias de aula, no entanto, sentiu que não se adaptaria à faculdade.
- Eu estava sendo muito pouco exigido. Havia muitas aulas de recapitulação de conteúdos que todo mundo já deveria saber. Perdia-se muito tempo - lembra.
Decidiu trancar a matrícula e se dedicar à seleção na Minerva, cujos processos de admissão passam longe do simples: preenchimento de formulário, análise de notas do período escolar, observação de atividades extraclasse (trabalho voluntário e participação em olimpíadas, por exemplo), teste de QI, provas de matemática, proficiência em inglês e, por fim (ufa!), entrevista.
Uma das vantagens que Guilherme vê no modelo proposto pela universidade americana é a multilateralidade, ao incentivar as trocas de ideias entre professores e alunos e entre os próprios estudantes. Monólogo de professor não tem vez.
- O estudante é questionado a todo momento sobre o tema da discussão. Na Minerva as leituras devem ser feitas antes da aula, para que a gente esteja mais bem preparado - relata.
Outro ponto que ele destaca é o fato de a instituição ser muito amigável a estudantes internacionais: 70% dos alunos são estrangeiros (em outras universidades dos Estados Unidos, como a Ivy League, esse índice é de 10%). Colocar em contato diferentes realidades e culturas faz parte do conceito da Minerva, conforme explica o diretor Alex Cobo:
- Além dos seis intercâmbios, essa convivência heterogênea também contribui para que os jovens ampliem sua visão de mundo.
Desenvolver a capacidade de análise crítica nos alunos, estimulando o pensamento criativo e as habilidades de comunicação, é uma estratégia para posicioná-los em um mercado de trabalho que, ao apontar para o futuro, ainda é um pouco incerto: de acordo com Cobo, pesquisas sinalizam que 65% dos estudantes, quando se formarem, irão exercer funções que hoje não existem.
Como se inscrever
Pelo site minerva.kgi.edu/application/start. Fluência em inglês é fundamental. Para a próxima turma, a universidade garante um número maior do que as 45 vagas de 2014.
Cronograma
- Candidatura: até 15 de janeiro de 2015
- Informe de resultados: até 16 de março de 2015
- Matrículas: até 1º de maio de 2015
- Início das aulas: setembro de 2015
Linhas de estudo
- Ciências da Natureza, Computação e Matemática, Artes e Humanas, Negócios, Ciências Sociais
Perfil do aluno Minerva
- Curiosidade sobre o mundo e as pessoas, interesse em vários assuntos, paixão por pelo menos uma das linhas de estudo, busca constante por superação, espírito empreendedor e criativo, potencial de liderança e habilidade colaborativa
Custo anual
- Cerca de US$ 28 mil. Alunos da primeira turma recebem bolsa integral, incluindo hospedagem e alimentação, no primeiro ano e não pagam a anuidade (US$ 10 mil) nos anos seguintes.
Como se preparar
- Dedique-se aos estudos, se ainda estiver na escola. É muito importante ter tido um ótimo desempenho no Ensino Médio, já que suas notas serão o primeiro filtro para avançar nas etapas de seleção da Minerva.
- Invista em atividades extraclasse, como trabalho comunitário, práticas esportivas e culturais. Qualquer indício de trabalho em equipe é relevante para os avaliadores.
- Procure descansar. Uma boa noite de sono na véspera dos testes de QI ajuda na tranquilidade e na concentração.
- Leia tudo sobre a Minerva. Nas entrevistas, os alunos são questionados sobre a universidade e seu modo de ensinar.
- Aperfeiçoe seu inglês o máximo possível. É preciso comprovar a proeficiência no idioma através do teste Toefl. A liberação da prova pode ocorrer caso o aluno tenha estudado em escolas inglesas ou americanas em seu país ou se viveu em lugares cuja língua principal é o inglês.
- Forneça muitas informações a seu respeito. Os diretores afirmam que, muitas vezes, os alunos falam apenas sobre sua trajetória escolar e dão menos foco a outras conquistas. Se você faz parte de um grupo de leitura ou frequenta um clube de cinema, acredite: isso também contribui para que os avaliadores saibam um pouco mais sobre você.
Fonte: Alex Aberg Cobo, diretor da Minerva na América Latina