
Arquitetura oriental e moderna convivem lado a lado em Seul. Mas o que mais se vê na capital da Coreia do Sul são arranha-céus espelhados e avenidas largas repletas de carros criados no próprio país. E há também muita, muita gente conectada. Smartphones e tablets nas mãos de estilosas sul-coreanas e homens alinhados fazem parte da paisagem da agitada cidade. Afinal, Seul tem pressa. A capital vive um ritmo acelerado do amanhecer até o início da madrugada - diariamente. Isso é um convite para conhecê-la, e não um transtorno.
A qualquer hora, a metrópole de 10 milhões de habitantes oferece atrativos aos visitantes. Não faltam locais diferentes na cidade fundada há seis séculos. Recantos, parques, restaurantes com a tradicional culinária sul-coreana, bares, confeitarias - há tantas opções que é até difícil escolher em qual entrar. Lojas, muitas lojas, em distritos comerciais quase que intermináveis são um indicativo de boas compras. E não apenas eletrônicos. Prédios de 10 andares inteiros de moda deixam o consumidor com tantas opções que não dá para dizer que não se encontrou nada de diferente ou interessante.
Apesar de Seul ser uma cidade acelerada - prova das avenidas largas, do trânsito intenso, do metrô eficiente e da conexão Wi-Fi em alta velocidade disponível por todo o lado - os habitantes da cidade são atenciosos e educados com os visitantes. Ao pedir uma informação, eles não dão um passo além até ter certeza que você entendeu bem o que é para fazer. O inglês, falado praticamente por todos, quebra qualquer barreira de comunicação. Nos principais pontos de circulação, as placas estão em inglês também.
Além disso, estão acostumados com a presença de turistas que vêm conhecer a cidade que deu um salto em quatro décadas. A parte do sul do Rio Ham - que corta a cidade de leste a oeste - era uma plantação de arroz. Hoje está tomada por prédios que tentam tocar o céu. Da mesma forma o distrito financeiro. Também repleto de edificações ocupadas por bancos de investimentos e empresas globais que movimentam o mundo dos negócios no país. Esses traços ocidentais, que poderiam indicar uma perda de personalidade, não afetam porque o sul-coreano tem muito orgulho do que construíram - saltando de um país miserável saído de uma guerra no qual quase foram esmagados pelos irmãos do norte nos anos 1950 até se tornarem um tigre asiático.
A realização da Olimpíada 1988 e da Copa do Mundo de 2002, juntamente com o Japão, tornaram Seul mais cosmopolita e conhecida. Até então, as lembranças mais recentes eram dos protestos de estudantes contra o governo ditatorial. Agora, a capital se prepara para sediar os Jogos Asiáticos. Uma área inteira da cidade está vindo abaixo para abrigar o espaço onde serão realizadas as competições. Numa ação de dar inveja nas nossas obras para a Copa. Mas isso não impressiona, afinal estamos em Seul - cidade que tem alma, com diz o próprio slogan "Hi, Seoul, soul of Asia".
Fôlego na hora das compras
A vontade de conhecer Seul é tanta que nem o cansaço resultado de 37 horas entre voos e esperas em aeroportos de Porto Alegre até a Coreia do Sul param o visitante. Como se está na Ásia, é inevitável a busca por prédios com a tradicional arquitetura oriental. Nesse caso, a parada obrigatória é o Palácio Gyeongbok, localizado no norte da avenida Sejongro.
Construído em 1395, foi destruído e reconstruído várias vezes - sobrevivente de guerras e de invasões japonesas. Na década de 1990 foi feita uma completa reconstrução, deixando os prédios - como a moradia do imperador e da mulher dele - impecáveis, retratando muito bem a época da dinastia Joseon. O clima de século 14 já começa na entrada da área do palácio com a troca de guarda. No clima da Seul tradicional, perto dali está o templo budista de Jogye, com suas estátuas de Buda e lanternas multicoloridas de lótus.
Depois de conhecer o lado tradicional da cidade, reserve um dia inteiro - e muito fôlego - para ir às compras. A área de Nandaemun é um imenso shopping a céu aberto, como nos mercados orientais. Roupas e acessórios fazem a festa - mas se a opção for por grifes famosas, atenção, porque, pelo preço baixo, levam a crer que não são produtos originais.
Ao longo do quase interminável passeio entre bancas serpenteando ruas e vielas, há quiosques e restaurantes com comida típica. Antes de pegar um prato, certifique-se do que é. Seja educado e não pergunte se é carne de cachorro porque as pessoas ficam bem chateadas com esse tipo de questionamento.
Também dá para fazer compras em lojas instaladas em shoppings. Não é o nosso conceito de shopping. São prédio, como se fosse de escritório, repleto de pequenas lojas - semelhante ao Total, em Porto Alegre. Como não são integrantes de grande redes, isso traz uma facilidade: sempre dá para negociar um desconto. Como ficam localizados num mesmo quarteirão, é fácil percorrer os prédios. Mas isso vai exigir muita resistência também porque a variedade de produtos, modelos, cores e estilos parece não ter fim. Para recuperar o fôlego vale um passeio às margens do Rio Ham. Seul fica de frente para o rio, aproveitando o clima dessestressante que a água proporciona.
Fronteira atrai turistas
Apesar da proximidade com a fronteira norte-coreana, são apenas 80 quilômetros, ninguém em Seul fica preocupado com as ameaças nucleares do ditador do país vizinho. Mas o clima de tensão acaba atraindo turistas para a região fronteiriça, que fica a 80 quilômetros da capital sul-coreana.
Se a opção é ir até lá, a melhor forma é procurar uma agência de turismo, porque há uma certa burocracia para poder circular na área repleta de militares sul-coreanos e americanos. Levar o passaporte junto é obrigatório.
São dois os pontos principais na fronteira. A primeira parada é para visitar um dos túneis feitos pela Coreia do Norte com o propósito de invadir Seul. Quem não gostar de lugar fechados, é melhor não descer a rampa de acesso construída nem entrar no corredor de teto baixo e paredes apertadas. Apesar das luzes instaladas e da ventilação, a sensação pode ser sufocamento. Mas os sul-coreanos não ficam preocupados com isso. Jovens, crianças de colo e idosos percorrem o estreito túnel para conferir a construção bélica da ditadura norte-coreana.
Ao começar a descida, é preciso colocar um capacete. Incômodo, principalmente devido ao calor, se mostra bem útil devido à quantidade de vezes que se bate no teto baixo. Na volta, é inevitável estar suado. Antes da descida, deixe mochilas e casados em armários com chave oferecido sem custo aos turistas.
De volta à superfície, uma inevitável parada na loja de suvenires. Se a opção é levar uma camiseta com dizeres da fronteira, não confie apenas em médium ou large, porque os padrões de tamanho são diferentes entre brasileiros e sul-coreanos. Até uma bebida alcoólica fabricada na vizinha Coreia do Norte há à venda.
Seguindo a viagem pela fronteira, a próxima parada é onde os regimes ficam frente a frente. Em um passeio acompanhado de perto por militares sul-coreanos chega-se na DMZ, uma espécie de Check-point Charlie como existia em Berlim no tempo da guerra fria. Um meio-fio de calçada mostra bem a demarcação entre as duas Coreias - divididas na guerra da década de 1950, quando o grupo apoiado pela então União Soviética ficou ao norte e o grupo que contou com o reforço militar dos EUA ficou ao sul. Do lado de lá de prédios azuis da ONU, soldados norte-coreanos ficam olhando de binóculos os turistas curiosos com o ambiente de tensão. Contudo, não há nenhum sinal de enfrentamento iminente, mesmo que os dois países nunca tenham assinado um armistício. Os sul-coreanos fazem questão de lembrar existe um só povo habitando as duas Coreias.