
Nestes quatro anos como editora do Viagem, passei a conhecer alguns leitores do caderno pelo nome. São eles que participam assiduamente dos desafios da seção Seu Olhar, que mais comentam no Facebook e mandam e-mails.
Sei que a Rosângela Loeblein e a Valderez Anzanello mandam fotos estonteantes. Que a Maria Eloisa e o Amilton Gazzo são inseparáveis. E que a Claudia Pegoraro leva o filho aos destinos mais inusitados. São apenas exemplos de tantos, de gente que ajuda, todas as semanas, a tornar o Viagem ainda mais legal.
Sempre me chamaram a atenção os leitores que participam de quase todos os desafios do Seu Olhar - seja na serra gaúcha, no Pará, em Londres ou nos confins da Rússia, eles têm fotos e relatos para compartilhar. Do lado de cá, com frequência me perguntava como eles conseguem viajar tanto.
Na estreia no novo layout do caderno, decidi fazer uma edição especial e investigar um pouco sobre os hábitos de viagem de alguns dos nossos leitores mais participativos e pegar dicas preciosas que poderão nos ajudar (e incentivar!) a botar o pé na estrada com mais frequência.
A primeira e principal: não é preciso ser endinheirado para viver viajando. Quase todos revelaram guardar uma graninha por mês para as viagens, e tem até quem mantenha uma poupança específica para isso. Conhecer o mundo é uma prioridade para a maioria dos entrevistados, tanto que parte deles revelou evitar gastos "supérfluos" no dia a dia.
- Há muitos anos não pintamos a casa, não trocamos o sofá nem o carro. Não gastamos com futilidades e, antes de gastar com qualquer besteira, penso que aquele dinheiro poderia ser melhor investido numa passagem aérea - conta Claudia Pegoraro.
O esforço vale a pena, os leitores garantem. Um relato que todos compartilharam é de como viajar os fez crescer e os ensinou a dar valor às coisas certas. Depois de ser "picado pelo mosquito da viagem", nunca mais se quer parar. Como diz a chamada da capa, viajar é viver. E quem não viaja - seja para uma cidade vizinha ou para o outro lado do globo - está perdendo experiências que valem mais do que bens materiais.
Em busca da natureza
Rosângela Loeblein, 49 anos, é servidora pública na Secretaria da Receita Estadual. Mora em Campo Bom
Lugares que conhece: Antártida, Patagônia, Montanhas Rochosas canadenses, Sudeste Asiático, Nova Zelândia, Escandinávia, Nepal, Egito, África do Sul, Sul da Espanha, Grécia e vários Estados brasileiros
Viajante desde os 30 anos, Rosângela prefere destinos de ecoturismo ou que contemplem belezas naturais - daí fica fácil entender por que as fotos que ela nos manda são sempre tão belas. Como servidora pública, Rosângela tem 60 dias anuais para afastamento - que aproveita muito bem, viajando de duas a três vezes por ano.
Dicas da Rosângela:
> Dinheiro: destino parte do salário para uma poupança direcionada e este objetivo, e as passagens aéreas são parceladas em cartão de crédito.
> Para evitar problemas: organização prévia creio ser indispensável, além de bom humor e disposição para solucionar eventuais contratempos. Como nunca viajo sozinha, manter um ótimo relacionamento com os companheiros de viagem é fundamental.
> O que aprendeu com o tempo: sempre ter as metas prioritárias previamente traçadas.
> Viagem surpreendente: os magníficos templos do Camboja, as belíssimas paisagens naturais das Montanhas Rochosas canadenses e a Antártida, um lugar "de outro mundo".
Aventuras com o filho pequeno
Claudia Ferraz Rodrigues Pegoraro, 37 anos, e é promotora de Justiça em Jaguarão
Lugares que conhece: 58 países nos cinco continentes. Em junho, após a próxima viagem, serão 66
"Voltei hoje de viagem! E já vou de novo semana que vem!" Foi assim que Claudia respondeu ao e-mail para esta reportagem. Para ela e o marido, Marlon, viajar é a maior prioridade.
- Vivemos em função disso - conta Claudia.
Nem a maternidade freou o ímpeto viajante: são no mínimo dois meses e meio por ano na estrada, em uma média de quatro ou cinco viagens. O casal leva o filho Felipe, quatro anos, por tudo que é lugar. Depois, eles contam todas as aventuras do pequeno, que já conhece 27 países, no blog felipeo pequenoviajante.blogspot.com
Dicas da Cláudia:
> Dinheiro: as pessoas têm a ideia equivocada de que, para viajar, é preciso muito dinheiro. Dá para parcelar passagens aéreas em 12 vezes no cartão de crédito! Nós já notamos que, às vezes, gastamos menos em viagens do que teríamos gastado se tivéssemos ficado em casa. A melhor dica é ficar ligado em promoções de passagens aéreas. A nossa próxima viagem será supereconômica: quando você aluga um motorhome, tem apenas uma despesa que inclui o transporte e a acomodação, além de poder comprar comida em supermercado e cozinhar na sua própria cozinha! É uma ótima dica para uma viagem pela Europa em família.
> Como evitar problemas: eles normalmente acontecem em viagens porque as pessoas ficam mais relaxadas e se descuidam. E é bom respeitar outras culturas e costumes.
> Um erro: não estudar suficientemente o destino. Às vezes, estamos perto de um lugar fabuloso e deixamos de visitá-lo por mero desconhecimento. Outros erros são deixar de fazer seguro de saúde e comprar passagens com muita antecedência - às vezes, as promoções vêm na última hora.
> Aprendi com o tempo: a fazer roteiros que se adaptam perfeitamente aos gostos, interesses e timing da minha família. É preciso uma certa matemática para agradar a todos.
Conhecendo o mundo juntos
Amilton Monteiro Gazzo, 68 anos, e Maria Eloisa Possebon Gazzo, 60 anos, são nutricionistas aposentados e moram em Canoas
Lugares que conhecem: além de quase todos os Estados brasileiros, países como Argentina, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bósnia, Canadá, Croácia, Chile, Dinamarca, Espanha, Eslováquia, EUA, Eslovênia, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Inglaterra, Israel, Itália, Jordânia, México, Montenegro, Noruega, Portugal, Polônia, Paraguai, Principado de Liechtenstein, República Tcheca, Suíça, Suécia, Turquia e Uruguai
Amilton e Maria Eloisa começaram a viajar com mais frequência nos últimos 15 anos, seja com amigos ou com grupos programados por operadoras. Sempre que podem botam o pé na estrada, mas as viagens mais demoradas e mais dispendiosas são realizadas uma a duas vezes ao ano. A possibilidade de conhecer novos cenários, novas culturas e fazer amigos é o que mais atrai o casal no turismo.
Dicas do casal:
> Dinheiro: economizamos para poder viajar. Durante as viagens, não fazemos compras, apenas algumas poucas lembranças.
> Para evitar problemas: quando estamos em grupo, seguimos normas e horários estabelecidos nos roteiros. Procuramos cuidar da saúde, não cometemos excessos, não corrermos riscos desnecessários. No Exterior, aproveitamos mais o dia do que a noite. Também é importante ter bom humor, paciência e saber se adaptar aos imprevistos.
> Um erro: confiar demais em tudo o que a operadora promete.
> Aprendemos com o tempo: procuramos ler, pesquisar, ver filmes, conversar com amigos sobre o local que iremos visitar.
Paixão desde a adolescência
Camila Centenaro Levandowski, 34 anos, é servidora pública no TRT, em Porto Alegre
Lugares que conhece: no Brasil, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Maceió, João Pessoa, Fortaleza, Natal. No Exterior, Buenos Aires, Montevidéu, Cancún, Orlando/Miami, Nova York, Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Bélgica, Suíça, Áustria, República Tcheca
Camila participa tanto do Seu Olhar que é comum seus amigos comentarem as fotos no Facebook do Viagem com um: "De novo?". Pudera. Ela viaja desde a adolescência. Pelo menos uma vez por ano, faz uma viagem de 10 a 20 dias.
- Viajar me ensinou a ver que o mundo é muito maior do que o nosso pequeno universo diário, que existem muitos lugares, muitas pessoas, muitos gostos a se descobrir, que a gente tem de deixar de se preocupar com pequenos detalhes e aproveitar tudo - reflete.
Dicas da Camila:
> Dinheiro: gasto realmente o mínimo necessário com os custos fixos do dia a dia, para poder guardar para a viagem. Parcelo a passagem e pago o que posso antes, ou então, como hotéis, tento empurrar para a volta.
> Para evitar problemas: ir com tudo organizado (hotéis, transporte), seguro viagem, dinheiro trocado, cartões e telefone desbloqueados, uma muda de roupa na bagagem de mão, todas as informações impressas e conexões com um bom intervalo para não perder voos.
> Aprendi com o tempo: a esperar promoção de passagens para planejar férias. E, apesar de sempre reservar hotel com antecedência e com cancelamento gratuito, ficar cuidando promoções.
Hábito que vem de família
Letícia Milani, 27 anos, é sócia de uma marca de roupas femininas em Porto Alegre
Lugares que conhece: cerca de 90 cidades em uns 25 países, como Uruguai, Paraguai, Argentina, Estados Unidos, México, Portugal, Suíça, Espanha e Ibiza, Itália, França, Áustria, Holanda, Alemanha, República Tcheca, Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Luxemburgo, Mônaco, Turquia, Grécia, Croácia, Austrália, Indonésia e Tailândia. E diversas cidades do Brasil
Para Letícia, viajar foi um hábito herdado dos pais. Ela já morou na Austrália por oito meses e, de lá, fez uma "volta ao mundo" por quatro meses, quando conheceu 16 países. Atualmente, pelo menos uma vez por ano, ela pega o noivo, as amigas ou a família para uma viagem internacional de 10 a 15 dias - tempo que considera ideal para não se tornar cansativo. Em fins de semana e feriados, também faz viagens curtas. Ter o próprio negócio ajuda muito, diz ela, por proporcionar mais flexibilidade.
Dicas da Letícia:
> Dinheiro: guardo um valor mensal destinado para viagens e pesquiso muito os valores de hotéis, passeios e restaurantes para escolher o melhor custo-benefício.
> Para evitar problemas: planejar bastante antes para não perder tempo durante a viagem, principalmente hotéis e logística (como ir do aeroporto para o hotel e vice-versa, pesquisar se é mais vantajoso alugar carro ou ir de trem/ônibus etc.)
> Um erro: incluir muitos lugares numa mesma viagem, porque o deslocamento cansa muito. Atualmente, prefiro ficar mais tempo em cada lugar, curtindo sem pressa.
> Aprendi com o tempo: que imprevistos acontecem e temos de aprender a lidar com eles, que tentar conhecer 10 países em 20 dias é furada e que uma mala de tamanho médio com quatro rodinhas é essencial (invista numa marca boa!).
Trabalhar com o que se gosta
Claudia Strehl Neujahr Klein, 42 anos, é arquiteta de formação e agente de viagem por opção. Mora em Porto Alegre
Lugares que conhece: Argentina, Alemanha, Abu Dhabi, Áustria, Austrália, Aruba, Bélgica, Bulgária, Brasil, Canadá, Croácia, Chile, China, Colômbia, Curaçao, Dinamarca, Dubai, Egito, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Escócia, EUA, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hong Kong, Hungria, Holanda, Indonésia, Irlanda, Irlanda do Norte, Inglaterra, Islândia, Itália, Japão, Jordânia, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Macau, Malta, Marrocos, Mônaco, Noruega, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, San Marino, Sérvia, Suécia, Suíça, Turquia, Uruguai, Venezuela e Vaticano
Viajar é tão importante para Claudia que ela decidiu adotar o hábito como profissão. Embora pegue a estrada desde pequena, foi em 2007, quando conheceu o marido, Marcos, que não parou mais. De duas a três vezes por ano, o casal faz viagens que variam de 15 a 50 dias cada.
- Tenho uma boa parceria (na agência), o que permite que me ausente por alguns períodos do ano - conta ela.
O próximo destino é sempre algo novo, mas, às vezes, eles retornam a algum lugar que os tenha agradado muito.
Dicas da Claudia:
> Dinheiro: estabeleço prioridades, reservando sempre uma porcentagem do que recebo.
> Para evitar problemas: antes de mais nada, a gente deve relaxar e curtir a viagem sem ficar esperando pelo pior. Além disso, as viagens são programadas com no mínimo seis meses de antecedência. Pesquiso muito sobre os lugares e os costumes locais. Monto meu próprio guia de viagem com tudo detalhado.
> Um erro: chegar de madrugada em uma cidade no interior da China sem ter marcado o traslado até o hotel. Pegar um táxi foi uma experiência perigosa e estressante.
> Aprendi com o tempo: que não é preciso fazer desfile de modas quando se viaja. Uma bagagem menor, com os acessórios essenciais, facilita muito a vida do viajante.
Destinos para inspirar
Maria Helena Dias Rocha, 57 anos, é aposentada e mora em São Luiz Gonzaga
Lugares que conhece: Portugal, Espanha, Itália, França, Mônaco, Suíça, Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra, Turquia, Grécia, Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia e muitos locais do Brasil
Maria Helena sempre manda textos inspirados para o Seu Olhar, cheios de poesia e história. Começou a viajar aos 20 anos com a mãe em excursões.
Hoje aposentada, com mais tempo livre, pega a estrada cerca de três vezes ao ano, de 10 a 20 dias cada.
Dicas da Maria Helena:
> Dinheiro: traço metas, objetivos e faço uma poupança. É fundamental ter as prioridades bem definidas.
> Um erro: levar roupas e calçados desnecessários na mala.
> Aprendi depois de um tempo: que as coisas que você precisa estão condensadas na mala. É impressionante o que compramos diariamente sem precisar. Antes de comprar qualquer coisa, converto em viagens o que eu poderia fazer com esse dinheiro.
Tempo para curtir muito
Valderez Anzanello é economiária aposentada e mora em Veranópolis
Lugares que conhece: a maioria dos Estados brasileiros e 44 países, grande parte na América do Sul, na América do Norte e na Europa
Valderez sempre viajou, mas, agora, fora do mercado de trabalho, é que tornou-se uma viajante mais assídua. Tem feito, em média, três viagens maiores ao ano, com duração aproximada de 20 dias cada, entremeadas por outras menores e a lugares mais próximos.
Com o tempo livre, Valderez pode se dar ao luxo de escolher as melhores épocas para cada viagem, fugir das altas temporadas e grandes aglomerações de turistas e ir na contramão dos lugares mais procurados.
Ao escolher os destinos, ela alterna lugares frios e quentes, roteiros dentro do Brasil e no Exterior e se declara uma apaixonada pela América do Sul:
- O interessante é que, apesar de ter uma lista com lugares que pretendo conhecer, outros surgem durante as viagens, com a troca de informações e dicas de outros viajantes.
Dicas da Valderez:
> Dinheiro: viajar muito não é necessariamente gastar muito. Escolher baixas temporadas, usar milhas para a compra de bilhetes aéreos e a possibilidade de parcelamentos têm permitido minha organização financeira. Como quase tudo na vida são escolhas, e, no momento, a minha prioridade é viajar, direciono os meus recursos para essa finalidade.
> Para evitar problemas: procuro organizar a maioria as viagens junto a uma agência de turismo e fazer um seguro viagem. Todo o cuidado é pouco quando se trata dos documentos, cartões e moeda. Guardá-los em lugar seguro é prioridade.
> Aprendi com o tempo: a cuidar na escolha da operadora, de quem viaja com você e da melhor época para se visitar um lugar. Procuro organizar viagens que me permitam permanecer um pouco mais em cada lugar, ter um tempo livre para curtir e apreciar com mais calma os pontos mais importantes, o povo e a gastronomia.