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A garoa quente encheu os corredores, lojas e o cassino com adolescentes em maiôs pingando água e criancinhas espalhando água com os pés descalços enquanto os pais os arrastavam em um ritmo despreocupado. Mesmo assim, a luz do sol passava pelas janelas e banhava as estátuas douradas em um tom suave amarelado.
Era hora do coquetel, e enquanto eu me sentava à mesa no Plato's e observava as famílias passarem sem deixar de olhar os meus, eu estava tomado por uma sensação tão espalhafatosa e exagerada com esta terra da fantasia caribenha nas Bahamas.
A boa gente por trás do resort Atlantis em Paradise Island tinha, na verdade, construído uma ratoeira melhor. Com três dias passados em uma viagem que eu abordara cautelosamente, eu - nós - estava experimentando uma boa e velha diversão familiar (até mesmo salutar) exatamente como o prometido.
Nós havíamos nadado com um golfinho - ou pelos menos beijamos e dançamos com um. Deslizamos por um tobogã aquático de 18 metros em meio a um tanque cheio de tubarões e fugimos das quadras de basquete em direção das ondas na praia.
Quando a síndrome de Estocolmo bateu e uma separação breve foi necessária, nós deixamos nosso filho de oito anos para uma tarde de brincadeiras enquanto a mãe fazia um tratamento facial e o pai zanzava pelo cassino em uma tentativa de ganhar dinheiro suficiente para bancar esta pequena excursão pelas Bahamas.
Eu não ganhei. Como na famosa canção de Frank Sinatra, a sorte aparentemente soprara para "os dados de outro cara" e nossa escapadela ficou um pouquinho mais cara.
É claro que amo meu filho, mas enquanto me sentava à sua espera, eu o amei ainda mais.
Jack era o motivo por estamos ali. Desde que ele aprendeu a falar, Jack é um telespectador leal e apaixonado do Cartoon Network. O Atlantis passa uma brilhante campanha publicitária no canal destinada a conquistar corações e mentes das crianças de um jeito insistente que elas, por sua vez, capturam corações, mentes e - o mais importante - as carteiras dos pais.
Com viajantes e carrinhos com bagagem chegando e saindo dos seus mais de 3,4 mil quartos, era difícil não pensar em Las Vegas e sua atmosfera manufaturada. Nós chegamos de manhã, então precisávamos matar algumas horas antes de entrar no quarto, ou seja, jogar as malas, colocar roupas de banho e entrar no ritmo local, isto é, os 12 escorregas aquáticos, um conjunto vasto de piscinas e seis praias.
Foto: Damon Winter, The New York Times
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Raramente se fica longe de tartarugas marinhas e barracudas cruzando as lagoas e um caleidoscópio de espécies tropicais que nadam ao seu lado nos tanques de água salgada enquanto você caminha pelos 57,1 hectares dedicados a todas a fauna marinha.
O fato de que os vários hábitats, lar de mais de 50 mil variações de aproximadamente 250 espécies, estão claramente demarcados e oferecem explicações concisas do que está dentro não apenas me livrou de ter de me valer do meu pouco conhecimento de Biologia Marinha como também trouxe tranquilidade ao redor. E serviu igualmente para diminuir aquele frenesi de Las Vegas que senti a princípio.
Assim que nos entregamos ao parque aquático, no entanto, o ritmo se acelerou. As piscinas foram criadas para acomodar famílias com integrantes de dois a 80 anos. Contudo, a ação de verdade acontece onde o toboágua "Leap of Faith" o lança direto para baixo ao lado do templo e através de um tubo no tanque de tubarões a uma velocidade insana.
Um dos pontos positivos de Atlantis é a equipe grande que, dos crupiês no cassino aos que distribuem toalhas nas piscinas, sorri e dá informações úteis com uma mistura de encanto baamês e profissionalismo de resort. A atenção dos funcionários e as opções infinitas de diversão escondem o fato de que os quartos são bons e funcionais, mas servem principalmente para dormir e tomar banho. Como Las Vegas, o resort quer ver as famílias em suas instalações gastando dinheiro.
Foto: Damon Winter, The New York Times
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Não faltam lugares sossegados em Atlantis, e no dia seguinte nós decidimos encontrá-los. O mais interessante era o Dolphin Cay, oásis de água salgada de 5,7 hectares onde crianças e adultos podem assimilar tantos dados práticos sobre a vida marinha quanto quiserem.
Nós vadeamos pela água rasa em roupas de banho e esperamos a chegada de Palmer, golfinho fêmea cheia de energia, que ofereceu o nariz para uma beijoca e posou para fotos com cada uma das outras dez pessoas em nosso horário. Nos lhe demos peixe e depois a vimos executar truques de perto. Jack e as outras crianças se maravilhavam enquanto Palmer parecia dançar na água diante de nós, saltar alto no ar e mergulhar feito uma bola de canhão para desaparecer por alguns instantes e emergir novamente espalhando água sobre todos nós.
Foi muito mais educativo do que um show de humor em um saguão de Las Vegas, e muito mais incrível do que qualquer mágico local ou fliperama. Funciona.
Na verdade, o lugar inteiro funciona. Só é preciso entrar com algum investimento emocional e certa adesão de toda a turma, do adolescente mais recalcitrante ao pai mais reservado.
Contudo, seria bom se o Atlantis prestasse mais atenção aos detalhes nas opções de alimentação. Realmente, as crianças comem de graça, mas com mais limitações do que é possível explicar no Cartoon Network. Só é válido para crianças de até seis anos, e as refeições gratuitas só vêm com a compra de um plano de alimentação para adultos. Jack era velho demais para comer de graça, e eu jovem demais para ser prisioneiro de um bufê.
O que significava nos virarmos por conta própria. Não foi exatamente uma moleza, mas agora eu acreditava que Atlantis estava em débito conosco. Em vez de frango empanado havia bifes por mais de US$ 40. Será que também exageram as atividades só para crianças?
Deixamos o Jack passar uma tarde no AKA (Atlantis Kids Adventures). Falei para ele encarar a experiência como sua primeira reportagem; meu filho precisava descobrir se crianças como ele encontravam amigos e se divertiam como prometido.
Foto: Damon Winter, The New York Times
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Quatro horas mais tarde, de minha mesa no Plato's, eu vi Jack e Mary saltitando pelo mármore. Ele tinha um relato muito mais exuberante sobre a estadia no AKA do que eu no cassino. Jack abriu um sorriso largo, mostrou os dois polegares para cima e relatou as descobertas. Havia umas 20 crianças e seis monitores os guiaram durante um jogo de basquete, uma aventura nadando, uma sessão de pintura e depois a tarde terminou no fliperama.
- Conheci umas crianças da Califórnia - ele disse. -Foi legal, pai.
- Quer repetir a dose amanhã? - perguntei, com medo da resposta.
- Não, vamos voltar ao "Leap of Faith", "Lazy River" e as piscinas com a mamãe - ele respondeu.
- Isso! - eu pensei com meus botões.