
Entre 1999 e 2002, mais de cinco mil pessoas foram entrevistadas e tiveram o sangue analisado por pesquisadores dos Estados Unidos. Eles tinham entre 20 e 65 anos e nenhuma doença. Neste ano, os pesquisadores analisaram o sangue dos mesmos entrevistados e o resultado foi surpreendente: 21% dos adultos beberam, ao longo desses anos, uma lata ou mais de refrigerante. Mais do que causar diabetes e aumento de peso, o consumo diário de refrigerante causou mudanças nos cromossomos dessas pessoas.
- Isso significa que beber essa quantidade de refrigerante todos os dias atua diretamente n o processo de envelhecimento do nosso corpo. Mesmo que o processo de crescimento dos adultos tenha estagnado, as células continuam se multiplicando e se renovando. Quando elas fazem essas mudanças de forma mais lenta, então sintomas do envelhecimento chegam precocemente - aponta Ana Harb, professora de Nutrição da Unisinos.
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Os pesquisadores calcularam que cada ano de consumo diário da bebida significa menos 4,6 anos de vida. A alteração genética causada pelo refrigerante faz com que, além de diabetes e doenças cardiovasculares, problemas renais apareçam na vida dos consumidores antes mesmo de chegar à terceira idade.
Um estudo britânico de 2010 feito com ratos mostrou que os animais morriam cinco semanas mais cedo que que os habituais quando ingeriam muito fosfato. Essa substância está bastante presente em diferentes tipos da bebida, inclusive aquelas conhecidas como "zero açúcar". Além disso, ácido fosfórico em excesso faz com que a pele e os músculos murchem porque eles fazem o organismo desidratar.
- Mas o processo é reversível. Basta mudar o processo de alimentação antes de as doenças aparecerem - comenta a nutricionista.
A tarefa parece simples, mas não deve ser, afinal por ano mais de dois mil brasileiros morreram por complicações relacionadas a doença à obesidade.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) aponta que o estudo não estabelece uma relação de causa e efeito entre o consumo de bebidas e a alteração de DNA e que não há comprovação científica de em quanto tempo uma dieta pode interferir, nem se realmente interfere, no comprimento dos telômeros. A ABIR diz ainda que o consumo de bebidas foi medido utilizando-se um sistema de checagem de 24 horas e que vários estudos têm questionado a precisão desse método de coleta de dados nutricionais e recomendam uma avaliação a cada dois dias. A associação também comenta que uma pesquisa de 2010 utiliza uma metodologia mais rigorosa para coleta da amostra e aponta que o escopo do estudo, feito com pessoas com idades entre 20 e 65 anos, é muito amplo para se encontrar uma relação entre consumo de bebidas e envelhecimento de células. "Há que se observar que a pesquisa foi divulgada pela Universidade da Califórnia pouco antes deste estado americano aprovar uma lei para a taxação de refrigerantes", concluiu a nota da ABIR.