
Primeiro vem o Natal das crianças e dos idosos que dependem de organizações de amparo depois é que Ana Maria Rodrigues planeja o dia especial da própria família. Aos 71 anos, ela lembra que sempre gostou de ajudar os outros, mas tinha pouco tempo disponível quando trabalhava formalmente. Durante toda a vida profissional, Ana foi secretária e organizava o dia a dia de grandes empresas da capital. No primeiro dia como aposentada ela se perguntou: "O que eu gostaria de ter feito e que ainda não fiz?".
- Não queria ficar em casa. Eu sabia que para manter minha saúde precisava estar ocupada e sempre sonhei em poder ajudar mais outras pessoas. Fui até uma organização de voluntários e perguntaram qual era a minha especialidade e eu não sabia o que dizer. Não sou professora, não sei fazer artesanato. Isso me chocou.
Pesquisa revela como brasileiros querem envelhecer
Expectativa de vida global aumenta seis anos
14% dos brasileiros com mais de 70 anos continuam trabalhando, revela pesquisa
Trabalhar em escritórios, para Ana, não era exatamente uma função que poderia fazê-la ajudar os outros, como ela sonhava. Começou distraindo crianças no intervalo de uma escola de turno integral. Dali passou a montar e organizar uma biblioteca para a instituição. No meio do caminho, Ana achou que o trabalho não era suficiente e foi atrás de um curso de voluntariado.
- Foi muito bom. Visitamos diferentes entidades para analisar onde nos adaptaríamos melhor, qual tipo de trabalho nos daria mais satisfação.
Há 15 anos, Ana mantém o trabalho na recepção de uma escola, atendendo pais e crianças, e há seis fazer recreação com idosos da Sociedade Porto Alegrense de Auxílio aos Necessitados (Spaan).
- Hoje, eu sou mais alegre, minha vida é movimentada. Dedico as terças-feiras à escola e as quintas à Spaan. Faço bingo, organizo feiras. Também dedico um sábado por mês a um residencial para moradores com deficiências mentais, onde o grupo de voluntários faz piquenique, levamos coisas que eles precisam.
Se manter ativa foi a fórmula da longevidade que Ana encontrou. Com voluntariado ela diz que cuida da saúde e não tem tempo para adoecer.
- O voluntariado promove um sentimento de valorização, vínculos afetivos, valorização do legado. Os mais velhos fazem uma das coisas que mais gostam com esse tipo de tarefas: ensinam o que sabem. Eles gostam de ter responsabilidades, de manter a disciplina, mesmo que vivam uma fase com mais liberdade - coordenadora de um projeto para idosos na Unisinos.
Doar conhecimento, aprender novas habilidades e qualificar o tempo livre parece ser um remédio para os idosos que se mantém ativos. O voluntariado mantém a energia e vitalidade de quem está numa fase conhecida pelo declínio físico e mental.
- Eles sentem que estão recuperando a saúde e permanecem bem porque estão fazendo o bem - explica a professora.
Quando a aposentadoria chega, o canal da sintonia do mundo do trabalho muda. Suzana explica que o ideal é se perguntar: para que canal quero mudar?
- Mudei minha vida com o voluntariado porque fico feliz e me realizo com a felicidade das pessoas com quem convivo. Eles sorriem só de verem o grupo de voluntários chegar. Voluntariado não é só preencher o tempo livre, é uma coisa de amor. Todo o carinho que depositamos nesse momento volta em dobro - conta Ana.