Aos 18 anos, depois de uma primeira tentativa frustrada de passar no vestibular ao final dos 17, lá pulava eu de euforia em meio à festa das tintas, depois de ver meu nome entre os aprovados para uma vaga na UFRGS. Foram algumas semanas de euforia até o início das aulas, depois de quase um ano de expectativa e muito estudo. Mas faltavam pelo menos outros cinco anos para chegar ao diploma. A carência de um objetivo de mais curto prazo me deixou desanimada e quase que a vida desandou.
Tive essa sensação de novo há pouco tempo, logo depois de disputar pela segunda vez uma prova de 42,195 quilômetros. Em fevereiro, depois de voltar das férias e de correr a São Silvestre ao final de dezembro, decidi que tentaria novamente a Maratona Internacional de Porto Alegre. Veio uma nova rotina de pelo menos quatro meses de planilhas, de ficar de olho na alimentação, de não matar os treinos de força complementares e de enxergar um objetivo ali naquele 18 de maio: completar a prova sem "quebrar". O desempenho foi melhor do que o esperado, e aquele tanto de adrenalina e frio na barriga perduraram pela semana seguinte, até chegar a sensação de desânimo. O que fazer agora, depois de um objetivo tão importante atingido, quando se é um corredor amador?
Para alguns, é só o tempo de descobrir uma nova vontade, como as provas de trilha e montanha, que exigem outros tipos de treinamento, partir para o triatlo, avançando em outras modalidades, ou só dar um tempo breve mesmo, de umas duas, três semanas, para se reajustar a uma nova rotina.
No meu caso, a também chamada "depressão pós-maratona" se juntou a outros tropeços da vida, muito provavelmente causados por estresse. Ao me sentir desanimada para diferentes tarefas, achei que poderia abdicar também de sair para os treinos, como um "direito" de quem está se sentindo triste.
Procurei ajuda especializada. No receituário, antes de tudo, não abandonar a corrida. Estudos recentes comprovam que correr tem como principal benefício, mais do que manter o corpo saudável, ativar os complexos circuitos do cérebro. Se a prática deixa a pessoa mais motivada, pela sensação de prazer que vem da produção de dopamina, o humor também fica mais regulado, com a liberação de serotonina, neurotransmissor que, em baixos níveis, é fator para o desenvolvimento de quadros depressivos e de ansiedade. Além da liberação do hormônio cortisol, que alivia o estresse, a corrida também melhora a qualidade do sono. Mas como correr se falta ânimo?
Lembre-se: uma coisa vai remediar a outra. E se a coisa sair muito de controle, não deixe de procurar um médico.