Cerca de quatro mil pessoas morrem anualmente em consequência de linfoma no Brasil. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam ainda que, por ano, são registrados 10 mil casos da doença. Nos últimos 20 anos, a incidência de linfoma dobrou, mas o desconhecimento sobre esse tipo de câncer pela população preocupa a comunidade médica e especialistas.
Por isso, no Dia Internacional de Conscientização de Linfomas, comemorado no sábado passado, as campanhas destacaram principalmente a importância das pessoas conhecerem os sintomas da doença.
De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), Carlos Chiattone, 70% da população não sabe o significado da palavra linfoma. Embora seja a sexta principal causa de câncer no Brasil, a maioria das pessoas desconhece o problema e, principalmente, os sintomas.
Diagnóstico precoce é o principal desafio no combate ao linfoma
Para a presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Merula Steagall, quanto mais rápido for feito o diagnóstico, maiores são as chances de cura. Segundo pesquisa da Abrale, 32% das pessoas que foram diagnosticadas com linfoma no exame de check-up não apresentavam sinal nenhum.
A especialista elogia, por exemplo, a Lei 12.732, em vigor desde maio, que estabelece prazo máximo de 60 dias para que pessoas com câncer iniciem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, ela alerta que, para a lei ser cumprida, é fundamental investir em equipamentos e pessoal nas unidades de Saúde.
- As pessoas acabam demorando muito para ter o diagnóstico, muitas vezes por causa do sistema, pois a solicitação de exames demora muito. O prazo de demora é cerca de seis meses, o que é tempo demais para esse tipo de câncer - acrescenta.
Outro problema levantado por Merula é o diagnóstico equivocado do subtipo do linfoma, que são mais de 80. Como ainda há muita confusão, às vezes o paciente acaba tendo tratamento para um tipo de linfoma que não é o seu.
O diretor de Especialidades da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Marco Antonio Dias Filho, explica que isso ocorre porque poucos patologistas têm hoje à disposição ferramentas necessárias para detectar.
- Muitos centros de diagnósticos não desenvolvem métodos imunohistoquímicos ou de patologia molecular, com soros específicos, que são o principal método de diagnóstico de linfoma.
Desinformação e falta de acesso ao tratamento são grandes obstáculos
Dias Filho afirma, ainda, que o linfoma acomete a todos indistintamente. Mas a desinformação e a falta de acesso ao tratamento são os maiores obstáculos à diminuição do número de mortes.
- Apesar de incidir mais em pessoas mais pobres, pela falta de informação e de acesso ao sistema de saúde, essa é uma doença democrática e mata muito rápido - salienta o médico.
Como não existe método preventivo para o linfoma, é importante ficar alerta a alguns sinais como nódulos no pescoço, na região axilar, virilha, febre, suor profundo à noite e perda de peso. Os caroços são indolores e, se o paciente detectar esses nódulos por mais de duas semanas, é bom que procure um médico para fazer o diagnóstico precoce.
Entenda a doença
O índice de incidência da doença dobrou nos últimos anos no país e chega a cerca de 10 mil casos, segundo dados do Inca. De acordo com Dias Filho, somente no centro de referência onde trabalha, em Belo Horizonte, são diagnosticados entre sete e 15 pessoas por semana com algum tipo da doença.
Os linfomas são cânceres das células do sistema imunológico e podem se manifestar de diferentes formas em qualquer lugar do corpo em que haja células linfáticas. Eles se dividem em dois grupos: Hodgkin e não Hodgkin. O primeiro tem cura em torno de 90% e o segundo grupo é mais complexo, com mais de 50 subtipos com manifestações clínicas e prognósticos distintos.
A biópsia, que é feita pelo patologista, consiste em pequena amostra de tecido. As opções terapêuticas geralmente são quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea.
O SUS garante a cobertura completa do tratamento de linfomas, que conta a partir da confirmação do diagnóstico. Os pacientes podem passar por cirurgia ou iniciar sessões de quimioterapia ou radioterapia, conforme a indicação de cada caso.
Entretanto, para Carlos Chiattone, atualizar os protocolos dos tratamentos é fundamental para controlar a doença e evitar que pacientes tenham que ser tratados novamente.
- É evidente que o custo dessas novas terapias é muito elevado. Mas é importante que o governo discuta com a indústria farmacêutica, negocie o preço, e que escolha um cronograma de introdução dessas novas medicações - declara o médico.
