Quando fui atrás dos álbuns de futebol que o meu filho já completou, fiquei surpresa. O da Copa de 2014 é o seu sexto álbum. O guri coleciona figurinhas desde 2010, época em que tinha apenas três anos. Todos estão completos: quatro do Campeonato Brasileiro (2010, 2011, 2012, 2013) e dois da Copa (2010 e 2014). Tudo graças ao pai (seu grande ídolo e parceiro de coleção), aos avós (que não se importam em gastar uma mina de ouro em pacotinhos para ver o neto feliz) e aos encontros especiais nas tardes de sábado na banca de revistas da esquina da Rua Nova York com a 24 de Outubro. Baita programa em Porto Alegre.
Faço parte do time que torce por tudo aquilo que distancia as crianças das viciantes telas eletrônicas. E o álbum de figurinhas é craque nisso. Colar os cromos ajudou meu filho a desenvolver as habilidades motoras. Mais tarde, ele foi identificando os números, os estados brasileiros (aula de geografia) e os países e bandeiras em época de Copa do Mundo.
Porém, não tenho dúvidas de que o maior aprendizado foi mesmo o do troca-troca. Nada como se relacionar com vizinhos, colegas e até com desconhecidos sentando no chão da calçada do "corner" da Nova York, na banca do André e da Ceres.
O casal de proprietários da banca é uruguaio. Conta que a ideia do posto de troca nesse endereço partiu deles. A integração é totalmente informal e contagiante. Reúne crianças, tios, avós e pais. A gurizada decora os números ou jogadores que faltam, já os adultos precisam da "colinha" no papel.
O programa ficou ainda mais saboroso quando o André convidou, muitos anos atrás, um amigo, também uruguaio, para dividir o seu ponto: o Oscar, o querido tio dos churros. O carrinho do Seu Oscar conta muito sobre sua vida. Tem a foto dos filhos já crescidos, as bandeiras do Brasil e do Uruguai e o adesivo com as cores do Rio Grande. E, é claro, uma placa que indica que o gosto de sua preciosa iguaria é uruguaio autêntico. Prepare-se para comer um churro ajoelhado. Só cuide para não sujar de doce de leite o Neymar ou o Júlio Cesar. Poupe seus cromos!
Entendo pouco de futebol para descrever a emoção que deve ser abrir cada pacotinho, colar a última figura ou preencher um álbum como o da Copa do Mundo no Brasil. Mas comparo ao sabor dos churros (e desse, entendo bem): quem nunca comeu um, não teve infância. Quem nunca colecionou álbum de futebol, também. Na banca da Nova York, os "grandinhos e barbudos" dividem a paixão pela brincadeira com as crianças. A maioria em busca desse gostinho nostálgico que desperta as boas lembranças e, de quebra, aproxima torcedores. É fome de bola, de churros e da saudosa infância.