
O fim de semana era de folga, mas não dos treinos. Depois de perguntar a amigos aonde podia correr uma hora e meia no fim de semana que passaria em São Paulo, ouvi dicas que incluiam Ibirapuera, Parque Villa Lobos, USP, Praça Vinicius de Moraes... Por comodismo (era perto da casa onde estava hospedada), acabei indo treinar no bem conhecido - ao menos para os paulistanos - minhocão. De cima do Elevado Costa e Silva, que fecha à circulação de veículos aos domingos e feriados para receber famílias, ciclistas, patinadores, atletas e corredores-turistas como eu, deixei os fones de lado e a música que sempre me acompanham nos treinos para "ouvir" o que acontecia a minha volta.
Foi divertido prestar atenção na gritaria da feira que ocorria logo abaixo do elevado, ouvir o som a sair da janela de um apartamento, livre da disputa com a buzina de automóveis, o deslizar de alguns skates. Sem medo de passar desavisada por um sinal fechado para pedestres, parei e registrei "recados", como esse da foto.
Lembrei, então, das palmas de quem assistia à São Silvestre em dezembro de 2013, que ecoavam dentro dos viadutos que estão no percurso da prova de rua mais famosa do Brasil. Daquela vez em que também fui correr na beira da praia da Joaquina, em Santa Catarina, ao entardecer, e como foi bom olhar para um céu carregado, que não prometia sol ao dia seguinte, e escutar o mar. Da vibração dos corredores de "Chi-Chi-Chi-le-le-le Viva Chile", nos meus primeiros 10 quilômetros internacionais, na Maratona de Santiago, em 2011, enquanto tentava mirar a Cordilheira dos Andes, ainda que escondida pelo tal "smog".
Treinando para a Maratona de Porto Alegre, às vezes me pego meio atada às planilhas (que obviamente são importantes para dar conta de um recado que exige tanto do nosso corpo), e esqueço de como é bom correr sem destino ou compromisso de tempo, comprometendo-se apenas em deixar as sensações virem, olhando e ouvindo, descompromissadamente. Valeu, Minhocão, pelo recado.