Vida

Na folga

Alexandra Aranovich: Música da saudade

Recentemente, ganhei dois ingressos para assistir ao show do Palavra Cantada no Auditório Araújo Vianna em Porto Alegre. O grupo de música infantil é formado pela dupla Paulo Tatit e Sandra Peres que, desde o final dos anos 1990, embala nossos bebês e faz a criançada dançar, pular e cantar. Já foram mais de 10 discos produzidos, ultrapassando a marca de 2 milhões de CDs vendidos. Os caras são os Beatles dos bebês. E, diga-se de passagem, merecem todos os prêmios e reconhecimento que conquistaram. Além das letras sensíveis e criativas, seus arranjos exploram o rico universo dos ritmos brasileiros. Cantigas de roda, cantigas folclóricas etc. É pura poesia e brincadeira sonora.

Bem, perdi as contas de quantas noites dei um play na música Vagarinho do CD Canções de Ninar e adormeci agarradinha embalando minha primogênita. Ou de quantas vezes brinquei de Pulguinha (do CD Canções de Brincar), pulando com a ponta do dedo por todo aquele corpinho fofo e cheiroso de bebê Johnson. Parece que foi ontem, mas foi há 11 anos. Meu caçula, hoje com sete anos, foi um bebê agitado e pulou os discos mais calmos do grupo. Ele gostava mais do vídeo de músicas curiosas: Pindorama, Rato, Sopa e Criança não Trabalha.

Assim, como minha ligação emocional e auditiva com o Palavra Cantada era mais forte através da filha mais velha, tentei de todas as maneiras convencê-la a ir comigo ao show. Completamente a contragosto, ela (que hoje está quase do meu tamanho) me acompanhou. No teatro, nos sentimos peixes fora d'água: o grande público era formado por pais com crianças na faixa etária entre alguns meses até quatro anos. Minha companheira vestiu o capuz do casaco e procurou, de todas as maneiras, fugir do mico. Ainda bem que nossos assentos eram bem ao fundo, perto da saída.

As cortinas abriram, e o show começou. Inesperadamente, após a música Ciranda (... deixa de manha, de noite, de dia...), comecei a chorar sem parar. Aliás, grande parte do repertório musical me fez sentir um aperto no coração, uma saudade que nunca havia sentido antes. Tem uma hora na vida em que você se dá conta de que não tem mais bebês. Essa foi a minha. Nem olhando álbuns antigos de quando as crianças usavam fraldas eu me senti tão frágil.

Fui acalentada por ninguém menos do que minha própria filha. Foi a minha vez de entrar para dentro do capuz dela. E foi a sua vez de me dar o ombro, um colo. "Mãe, não te preocupa, vou ser sempre o teu bebê. Só não me pede para dançar lá na frente da plateia com as criancinhas. Nem pensar." Partimos antes do término do espetáculo, rindo de tudo. Voltamos para casa ouvindo California Gurls, de Katy Perry e Snoop Dogg. Cada fase tem um ritmo. Sentirei saudade de todos.

Em tempo, ainda sobre música e nostalgia: em 24 de agosto, véspera de feriado nacional do Dia da Independência, o Uruguai todo comemora a "Noche de la Nostalgia", ou Noite da Saudade. Trata-se de um dos maiores eventos do país. Tão ou mais celebrado do que o Natal ou o Ano-Novo. Nesse dia, ninguém fica em casa. Bares, restaurantes, hotéis e casas noturnas ficam lotados de pessoas das mais diversas idades, solteiros e casados, crianças e famílias. A ideia é simplesmente dançar ao som de velhos hits dos anos 1960, 1970 e 1980. Música para recordar. Que tal importarmos essa ideia?

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