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É um assunto comum pelos corredores das escolas, da Educação Infantil ao Ensino Médio. A projeção da carreira a seguir é um convite à imaginação da criança e motivo de ansiedade entre jovens prestes a ingressar em uma faculdade.
Para Alyane Audibert, psicóloga e mestre em aconselhamento de carreira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a perguntinha "o que você vai ser quando crescer" desempenha um papel importante na infância, uma vez que o desenvolvimento da carreira ocorre desde que o indivíduo nasce. Na Educação Infantil, não se tem objetivo de que a criança tome alguma decisão, mas deve-se promover um terreno fértil para que essa escolha venha a ser a mais natural possível no futuro.
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Alyane aconselha os pais a darem asas à imaginação da criança, evitando rechaçar a resposta - por mais fora de contexto que pareça. Também defende que é uma boa oportunidade para auxiliar o filho a buscar conhecimento, pesquisando o que tal profissional faz, onde trabalha, entre outras informações. Se ela trocar de ideia na semana seguinte, não tem problema. Pode-se ajudar a reunir conteúdo sobre a nova profissão almejada.
- Ao perguntar a uma criança o que ela vai ser quando crescer, não importa o que ela vai dizer, importa a forma como isso vai ser tratado. Deve-se instigar a criança a pensar no mundo do trabalho - diz Alyane.
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Com o passar do tempo, a seriedade com a qual o assunto deve ser tratado pelos filhos aumenta, e os pais precisam continuar incentivando-os a buscar informações sobre carreira, promover autoconhecimento e desenvolvimento de competências. Realizar divisão de tarefas em casa, dando ao filho responsabilidades e ciência a respeito de eventuais consequências, é um tipo de ferramenta com reflexo vocacional.
De acordo com a psicóloga, existe um mito de que os pais não devem interferir na escolha da profissão, mas ela diz que os jovens preferem saber sua opinião. A decisão só deve ser tomada pelo futuro profissional.
- Resposta de fora pra dentro não condiz, está desvinculada, desconectada, não faz sentido. Ela precisa ser construída - ressalta.
Garantia de que a escolha é a certa, ninguém vai ter - nem aos 18 anos, nem aos 20, talvez nem aos 70. Mas, com o recolhimento de informações e reflexão desde cedo, é possível tomar uma decisão mais embasada, e o jovem vai se sentir mais seguro ao ingressar em uma nova etapa da sua vida.
Hoje, pintora. Amanhã...
Não demora sequer um segundo para Cecília Fialho Kieling revelar que quer ser pintora. No alto de seus cinco anos, ela já sabe até que vai praticar sua arte em Londres - embora não tenha muita ideia de onde fica esse lugar.
A arquiteta Amanda Fialho Moraes, 32 anos, e o servidor público Thiago Kieling Gomes, 30, acham graça na resposta da filha. Incentivam as intenções artísticas da menina e já a levaram a exposições. Acreditam que é uma oportunidade de experimentar diferentes possibilidades e desenvolver autoconfiança.
- É bom que ela brinque de ser cada coisa na infância para, no futuro, ver o que quer ser de verdade - opina Amanda.
Segundo Cecília, a certeza de que será pintora existe desde que nasceu. Mostra, orgulhosa, o caderno de desenhos que ganhou quando ainda sequer sabia falar e também as telas que pintou: uma involuntariamente abstrata e a outra, retratando uma ponte preta.
Mas os pais entregam sua indecisão. Contam que ela já quis ser médica, professora, cantora... E nunca julgaram sua resposta: dão carta branca à imaginação. Até mesmo porque, hoje, eles não são o astronauta e a patinadora que um dia juraram que seriam.