
Identificar pontos de convergência e ampliar o intercâmbio de informações científicas entre países da América Latina. Com este objetivo, pesquisadores de universidades brasileiras e do Latin American Cooperative Oncology Group (Lacog) se reuniram com os norte-americanos da American Association for Cancer Research (AACR), uma das maiores entidades de pesquisa em câncer do mundo. A intenção do encontro, promovido pela Faculdade de Medicina da PUCRS no Tecnopuc, onde está a sede do Lacog, foi planejar ações para fomentar a pesquisa em prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer no continente.
O desenvolvimento de novos testes diagnósticos, transferência de tecnologia e uso de novas drogas também estão na mira dos pesquisadores. Para isso, eles pretendem iniciar, já nos próximos meses, uma série de eventos científicos e formação de especialistas por meio de estágios e pós-graduação no Exterior que irá estreitar os laços científicos da pesquisa entre os países.
Diretora executiva do AACR há três décadas, Margaret Foti foi responsável por ampliar o número de membros da entidade de 3 mil para 34 mil em mais de 90 países e lançar mais de sete jornais científicos sobre câncer, os quais estão entre os 10 mais prestigiados do mundo.
- Tenho muita sorte de estar neste cargo. Liderar diferentes tipos de pesquisadores e instituições tem sido emocionante desde o começo. É uma causa estimulante, todos trabalham com temas interessantes envolvendo epidemiologia, testes em laboratórios e casos clínicos. É ótimo poder ajudá-los a desenvolver programas de cuidado dos pacientes, diz ela em relação aos phds e doutores que realizam pesquisa de ponta na instituição.
Segundo Margaret, a parceria entre as entidades deixa o campo aberto para mais publicações e eventos de cunho científico e representa "sinergia e ajuda mútua". Impressionada com o avanço das pesquisas locais, a gestora mostrou especial interesse na promoção de intercâmbio de pesquisadores e acenou com a possibilidade de inaugurar uma sede na América Latina, em 2016.
Entrevista Carlos Arteaga
"Poderemos usar as mesmas soluções em diferentes países"
Presidente do AACR e professor de medicina e biologia do câncer da Vanderbilt University em Nashville, Tennessee, Carlos Arteaga sinaliza que os principais estudos norte-americanos apontam para a redução da mortalidade, alcançando mais de 50% de cura nos casos dos Estados Unidos. Confira a entrevista.
ZH - Como a experiência da pesquisa básica transnacional pode auxiliar o crescimento da pesquisa clínica?
Carlos Arteaga - Estimamos que um a cada dois homens de 80 anos e uma em cada três mulheres com mais de oitenta anos irão desenvolver câncer em algum ponto do corpo. A nossa principal missão é prevenir e tratar câncer e contribuir para a redução da mortalidade ao redor do mundo. Estudamos nos EUA, China, Canadá e agora incluímos a América Latina no combate desta doença global.
ZH - Por que escolheram o Brasil?
Arteaga - Contatos locais, profissionais, amigos. É o maior país e o mais populoso. Tem mais membros no AACR. Mas é importante destacar que não é uma iniciativa para beneficiar o Brasil, e, sim, a América Latina.
ZH - Como está o país no cenário global?
Arteaga - Hoje, nos Estados Unidos, a maioria dos cânceres está sendo curada. Note que, para ser a maioria, é um pouco mais do que 50% dos casos. Se olhar todos os tipos de câncer, a mortalidade está baixando para a maioria deles. O que chama a atenção é que a mortalidade por câncer no Brasil é mais baixa do que nos demais países da América Latina. Algo aqui (e na Argentina também) está melhor do que nos demais países.
ZH - Arriscaria dizer a razão para isso?
Arteaga - Aqui se nota mais ações de cuidado em saúde e bem-estar. A presença mais intensa de detecção precoce, mulheres com maior acesso à mamografias, homens fazem mais colonoscopias e exames de próstata. As pessoas têm dietas mais saudáveis. Pode ser a combinação desses fatores.
Não acho que seja uma diferença enorme, mas não deixa de ser uma diferença.
ZH - O que chamou a atenção no encontro?
Arteaga - Questões aqui expostas pelos cientistas não são diferentes das questões que temos nos Estados Unidos. Precisamos acelerar tentativas clínicas, investigar a próxima geração de câncer e aproveitar que o governo está começando a investir em novas áreas. São assuntos que podemos relacionar e poderemos usar provavelmente as mesmas soluções em diferentes países.