Vida

Terceira Idade

Número de idosos quase triplicará no Brasil até 2050, afirma OMS

Conforme novo relatório da organização, porcentagem de pessoas com idade acima dos 60 anos no país cresce acima da média mundial

Jaqueline Sordi

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Mateus bruxel / Agencia RBS
Em 2050, estima-se que 30% da população brasileira terá 60 anos ou mais

Em uma época de crise econômica, dúvidas sobre o futuro político do país e insegurança frente ao que está por vir, uma coisa é certa: o Brasil está envelhecendo - e mais rápido do que se imagina. É o que diz um estudo divulgado nesta quarta-feira, véspera do Dia Internacional do Idoso, pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, o número de pessoas com mais de 60 anos no país deverá crescer muito mais rápido do que a média internacional. Enquanto a quantidade de idosos vai duplicar no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará no Brasil.

Por aqui, a porcentagem atual, de 12,5% de idosos, deve alcançar os 30% até a metade do século. Ou seja, logo logo seremos considerados uma nação envelhecida - conforme a OMS, essa classificação é dada aos países com mais de 14% da população constituída de idosos, como são, atualmente, França, Inglaterra e Canadá, por exemplo.

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Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional para Longevidade no Brasil e membro da Rede Global de Cidades e Comunidades Amigáveis aos Idosos da OMS, explica que o crescimento dos idosos reflete o comportamento da população brasileira nas últimas décadas, que está com uma taxa de natalidade abaixo da taxa de reposição:

- Enquanto a expectativa de vida aumenta, a taxa de natalidade diminui. No Brasil, há mais de 15 anos nascem menos crianças que o necessário para repor os pais, ou seja, os casais estão tendo uma média de filhos inferior a dois. Enquanto isso, as pessoas estão vivendo por mais tempo. O resultado desta equação é um crescimento muito rápido na proporção de idosos no país.

Conforme Renato Bandeira de Mello, geriatra e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, enquanto países como a França levaram em média um século para se tornarem países envelhecidos, no Brasil este processo está ocorrendo de forma muito mais rápida.

Isso porque a redução na taxa de natalidade ocorreu muito próxima a um período de melhorias nas condições sociais da população, o que vem sendo observado desde a década de 1980:

- Tivemos melhoras significativas em diversos ambitos da sociedade, como o acesso à informação, que resulta no aumento da prevenção contra doenças e gravidez indesejada, assim como a criação do Sistema Único de Saúde, que promoveu um maior acesso à saúde, entre outras coisas. Apesar disso, podemos observar que o Brasil ainda não está preparado para atender adequadamente os idosos, e isso tende a piorar na medida em que essa população vai crescendo e se tornando mais relevante.

Viver mais não significa viver melhor

A conclusão do estudo, que em um primeiro momento pode refletir um avanço na qualidade de vida da população, preocupa especialistas. Isso porque, junto com o aumento na expectativa de vida, vem o alerta: viver mais não significa viver melhor. E, no Brasil, esse impasse é mais latente.

Segundo Kalache, enquanto em países europeus o processo de envelhecimento da população aconteceu de forma lenta e somente depois de um enriquecimento das nações, na qual problemas de infraestrutura já estavam resolvidos, o mesmo não ocorreu por aqui:

- O envelhecimento da população brasileira é um grande desafio para todos nós, pois vivemos em um país na qual ainda temos diversos problemas estruturais para serem resolvidos, como o sistema de saúde público, que é deficitário, um ensino básico de baixa qualidade, entre outros. E isso se reflete na qualidade de vida dos idosos.

De acordo com o relatório da OMS, um brasileiro que vive 75 anos teria uma média de 65 anos com qualidade de vida, sendo os últimos 10 associados a doenças, dependência de cuidados especiais e deficiências.

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- Enquanto isso, em muitos países, como em grande parte daqueles do norte da Europa, as pessoas tem uma expectativa de vida acima dos 80 anos, e um número de anos perdidos com doenças inferior a 10. Elas vivem mais mais tempo e com melhor qualidade - compara o especialista.

Este é, inclusive, um dos pontos principais levantados pelo relatório da OMS, que rejeita o estereótipo dos idosos como frágeis e dependentes, destacando que, enquanto algumas pessoas mais velhas exigirão cuidados e apoio, as populações idosas, em geral, são muito diversas e podem fazer várias contribuições para as famílias, comunidades e sociedade em geral.

Para Bandeira, um dos principais desafios atuais do Brasil melhorar a qualidade de vida dos idosos está relacionado à qualidade do atendimento primário de saúde e à formação de profissionais especializados em terceira idade:

- Precisamos incrementar políticas públicas de promoção e proteção à saúde ao idoso, assim como formar profissionais da saúde que tenham os conhecimentos fundamentais a respeito das peculiaridades do envelhecimento, como mudanças físicas, sociais e psíquicas, para que melhores condições de saúde e cuidado sejam oferecidas a essa população.

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