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Pesquisas levantam dúvidas sobre a segurança dos adoçantes

Produtos são importantes para quem precisa emagrecer ou tem diabetes

Marcelo Monteiro

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Desde que surgiram na indústria alimentícia, na década de 1950, os adoçantes têm os seus benefícios e potenciais riscos à saúde dissecados por especialistas de várias áreas. Recentemente, uma série de estudos engrossou a lista de possíveis perigos da ingestão dos chamados edulcorantes por seres humanos.

Em abril deste ano, um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) alertou para os riscos do uso da sucralose – um adoçante natural, derivado do açúcar de mesa – em alimentos e sobremesas quentes, como bolos, chás e cafés. Segundo o estudo, quando aquecida a 90°C durante 15 minutos ou mais, a substância tem sua composição alterada, liberando hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados (HPACs), compostos tóxicos que se acumulariam no organismo e seriam potencialmente cancerígenos.

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Mas a sucralose não é o único adoçante colocado na berlinda. Um dos edulcorantes de baixa caloria mais conhecidos, o sintético aspartame – também chamado de E951 e introduzido na indústria alimentícia em 1980 – já foi relacionado a efeitos colaterais como reações alérgicas, nascimentos prematuros e até casos de câncer.

No mês passado, pesquisadores do Fertility Medical Group, com sede em São Paulo, avaliaram eventuais influências do consumo de refrigerantes e café adoçados artificialmente na qualidade dos óvulos e nos resultados dos ciclos de reprodução assistida (fertilização in vitro) de 524 pacientes. Conforme a pesquisa, o consumo de bebidas dietéticas interferiu negativamente na qualidade do embrião e na sua chance de implantação no útero. Além disso, a probabilidade de engravidar foi diminuída em 10% nas pacientes que consumiam refrigerantes dietéticos. Já com o uso de adoçantes artificiais adicionados ao café, houve efeito negativo na qualidade do óvulo e dos embriões, na chance de sua implantação no útero e na probabilidade de a paciente engravidar.

Nada é conclusivo, alertam especialistas

Apesar dessas (e outras) pesquisas apontarem resultados preocupantes, a ciência não tem dados suficientes para afirmar que os adoçantes fazem mal e diversas dessas substâncias são liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a pela Food and Drug Administration (FDA), agência que regula os alimentos e os medicamentos nos Estados Unidos.

De acordo com o endocrinologista Airton Golbert, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o uso de adoçantes é importante para quem tem diabetes e para quem precisa emagrecer.

– Os adoçantes recomendados pelo FDA e pela Anvisa são seguros e podem ser usados. Houve uma suspeita de associação de câncer de bexiga com o uso de sacarina, mas não foi confirmada – rebate.

O Conselho Federal de Nutrição (CFN) também posicionou-se favorável ao consumo da sucralose, apontada como possivelmente cancerígena no estudo da Unicamp: "Apesar de informações circulantes de malefícios sobre a sucralose, não foram encontrados estudos científicos (desenvolvidos com humanos e em quantidade representativa) que suportem as afirmações de que o consumo do edulcorante aumentaria a secreção de insulina, causaria alterações na tireoide e câncer", diz o órgão, em recomendação oficial.

A nutricionista Ana Adélia Hordonho, integrante da Associação Brasileira de Nutricionistas (Asbran), afirma que a probabilidade de o consumo de edulcorante resultar no desenvolvimento de câncer em uma pessoa é praticamente nula:

– Para uma pessoa ter câncer por causa de um edulcorante, teria de consumir uma quantidade exorbitante diariamente. Não tem como isso acontecer. Os trabalhos que associaram o uso do adoçante com o câncer de bexiga, por exemplo, não foram reproduzidos em humanos, sendo que as quantidades oferecidas aos animais em laboratórios foram excepcionalmente maiores do que as consumidas habitualmente por humanos.

Enquanto a ciência não apresenta uma conclusão definitiva sobre o tema, há quem prefira não arriscar: o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) recomenda que os adoçantes sejam consumidos somente por quem tem diabetes.

– Por precaução, a nossa posição

(do Inca) é contraindicar o uso de adoçantes para a população de uma forma geral. Em alguns estudos experimentais com animais, houve associação do consumo ao desenvolvimento de câncer. As pesquisas em humanos não mostraram risco, mas também não mostraram que não existe o risco – argumenta a nutricionista Luciana Grucci Maya Moreira, da Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer do Inca.

Cuidado com a quantidade

Em meio às discussões, uma certeza: é preciso ficar atento à quantidade e à frequência da ingestão dos adoçantes. Segundo a nutricionista Mônica Beyruti, do departamento de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), antes de ser liberado para o consumo humano, um adoçante passa por inúmeros testes de toxicidade realizados em animais. A partir disso, a dose máxima testada e que não resulte em qualquer sinal de malefício às cobaias é diluída na proporção de uma para cem para ser liberada ao uso humano.

– Essa dose chama-se Ingestão Diária Aceitável (IDA) e é calculada por quilo de peso por dia. Existem as doses de segurança recomendadas para cada adoçante e, em geral, são valores bem altos – explica Mônica.

Também há consenso em afirmar que o uso de adoçantes é recomendado somente em casos específicos e deve-se sempre preferir as versões naturais (aquelas que não passam por processos químicos).

– Durante um período de restrição calórica para perda de peso, por exemplo, os adoçantes podem ser utilizados por praticamente não conterem calorias. No entanto, se o indivíduo não tem nenhuma patologia, como diabetes, existem condutas preferíveis ao uso de adoçantes artificiais. Ainda assim, se a utilização for necessária, o melhor é optar pelas versões naturais, como o estévia – afirma a nutricionista Aline Andrade.

O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), que representa a categoria em âmbito nacional, defende que, como margem de segurança, os adoçantes artificiais devam ser utilizados apenas por pacientes com necessidades clínicas especiais, respeitando-se sempre os limites de Ingestão Diária Aceitável (veja abaixo) e com a orientação e supervisão de um nutricionista.

Já as nutricionistas Beatriz Pelin Moser e Marise dos Santos Aguiar, integrantes do Conselho Regional de Nutrição (CRN), acreditam que as versões artificiais podem ser perigosas.

– Os adoçantes sintetizados em laboratórios não são alternativa saudável para o organismo humano – diz Beatriz.

Sem excessos

A IDA (sigla para a relação de miligramas de adoçante por quilos de massa corporal por dia) é uma recomendação de consumo máximo do produto. Normalmente, supera em muito o consumo habitual da maioria das pessoas.

Para saber a quantidade máxima de cada tipo de adoçante que você pode ingerir, basta multiplicar o seu peso (em quilos) pela IDA. Exemplo: uma pessoa de 50 quilos pode consumir 250 mg de sacarina, 550 mg de ciclamato e 2000 mg de aspartame por dia.

A maioria dos adoçantes de mesa e dos alimentos diet e light é formulada a partir das mistura de diferentes adoçantes. Assim, evita-se a concentração da dosagem de uma única substância, o que torna o consumo da quantidade limite ainda mais difícil.

Conheça ao lado o consumo máximo indicado para os adoçantes autorizados pela Anvisa.


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