
Na quinta-feira, Porto Alegre recebe mais um bluesman norte-americano, Lorenzo Thompson. Ele vai se apresentar no Sgt. Peppers, acompanhado por uma banda de músicos locais liderados pelo guitarrista Solon Fishbone (primeiro a gravar um disco de blues no Estado, em 1994). No dia 27, o próprio Fishbone e sua banda Los Cobras participarão do Eisenbahn Jazz'n'Blues Festival, no Opinião. Não há pesquisa para comprovar, mas é provável que a cidade seja hoje a capital brasileira do blues. No último ano, foram lançados aqui seis álbuns do gênero: Labirintos, de Coié Lacerda e Harlem's Club; Doze Compassos de Blues, de Gaspo "Harmônica"; Do Delta do Jacuí ao Deserto do Atacama, de Oly Jr. e Gonzalo Araya (gaitista chileno já meio porto-alegrense) e Freeman Blues, de Cristiano Crochemore; além dos DVDs Bourbon Blues ao Vivo, de Gambona, Marcelo Neves e Ale Ravanelo; e Uranius Blues ao Vivo, do quinteto de São Leopoldo que tem à frente o saxofonista Urânio Laureano. Fora os shows, frequentes nos bares. Não é pouca coisa.
Tal movimentação explica a existência da Confraria do Blues, que promove a vinda de Thompson _ e de outros nomes internacionais. Foi criada em 2004, depois do Natu Blues Festival (no Opinião), pelo jornalista e guitarrista Zé Carlos de Andrade, professor da Famecos/PUCRS. Desnecessário dizer que o cara é apaixonado total pelo centenário gênero negro desenvolvido no sul dos EUA. Ele registra que o Estado tem mais de 20 grupos atuantes, a maioria em Porto Alegre, e também em Caxias do Sul, Santa Maria, Pelotas, Rio Grande... A cena caxiense é especialmente forte graças ao Mississippi Delta Blues Festival, hoje o principal do país, que sempre traz inúmeras atrações internacionais e, em novembro, terá sua sétima edição. Na Capital, além dos citados, atuam Luciano Leães & The Big Chiefs (tem um projeto de blues no StudioClio), Mercedes Band, Azambuja's Blues Band e Fernando Noronha &
Black Soul, este o precursor, ao lado de Fishbone, e de carreira já internacional. Aliás, Zé Carlos começou produzindo Fishbone.
A confraria está envolvida em três atividades. A primeira é o DVD Blues Made in Brasil, registro de shows de Noronha, Fishbone e Leães em diversos palcos, valendo como projeto-piloto para a realização de 12 documentários sobre o blues brasileiro. Outro, o show Guitar 4 the Blues, reunindo, como revela o título, quatro guitarristas: de novo Noronha e Fishbone, o paulista Neto Rockefeller e o argentino Danny Vincent. Por fim, o lançamento do portal Confraria do Blues na internet, em novembro/dezembro, acompanhado de um "festivalzinho", na palavra de Zé Carlos. O portal terá a história do blues, biografias dos bluesmen brasileiros, um canal de TV no YouTube e, entre outras coisas, vai vender camisetas, bonés e palhetas de guitarra.
Os blueseiros gaúchos cantam em português e em inglês. No caso de Oly Jr., cuja carreira começou em 1998, a "coisa" descobriu outro lado: a exclusiva marca local da milonga-blues, que ele vem desenvolvendo desde 2009 e que é, verdadeiramente, um achado.
Antena - Música para ouvir e dar passagem
Jeff kunkel
Meu Coração Brasileiro
> Pianista e compositor de jazz, além de professor de música em duas universidades dos EUA, Jeff sempre foi ligado na música brasileira. Viajando pelo Brasil em 2012, ele compôs 11 temas inspirados pelo que viu e ouviu, gravando no Rio seu primeiro disco, com títulos como Bossa para Mãe e Pai, Rodízio de Pizza, Praia do Leblon de Manhã e Bebop Brasileiro. Participam músicos cariocas como o flautista e saxofonista Mauro Senise e a cantora Vika Barcellos, além do gaúcho radicado no Rio Fernando Corona. Delira Música, 11 faixas, R$ 25 (em média)
Dudu Lima Trio
Clássicos
> O contrabaixista mineiro é um destaque da música instrumental contemporânea. Hermeto, Milton, João Bosco e Stanley Jordan estão entre seus admiradores. Este oitavo álbum, feito com o piano de Ricardo Itaborahy e a bateria de Leandro Seio, reúne clássicos da MPB, do jazz e da música clássica, como Concierto de Aranjuez (Joaquin Rodrigo), Nardis (Miles Davis), Insensatez (Jobim), Lamentos (Pixinguinha), Jesus Alegria dos Homens (Bach), Bye Bye Brasil (Chico) e Autumn Leaves (Johnny Mercer). Delira Música, 10 faixas, R$ 25 (em média)
Jorge Mautner
Para Detonar a Cidade
> Ele já era um polêmico escritor quando estreou como cantor e compositor, em 1972, com o LP Para Iluminar a Cidade (hoje objeto de colecionador). A turnê de lançamento percorreu o país, fazendo de Mautner um astro pop. Até agora inéditas, as gravações ao vivo de shows no Rio e em São Paulo, naquele ano, tornam histórico este álbum duplo. Aqui está o som cru da banda, e da época, em Quero Ser Locomotiva, Estrela da Noite, Olhar Bestial, Super Mulher, Sheridan Square e muito, muito mais. Discobertas, 19 faixas, R$ 40 (em média)