Cultura e Lazer

Para não esquecer

"Avanti Popolo" mostra pai amarrado à eterna espera pelo filho desaparecido na ditadura

Em cartaz a partir desta quinta-feira em Porto Alegre, premiado longa-metragem de Michael Wahrmann presta tributo ao cinema autoral feito no peito e na raça

Marcelo Perrone

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vitrine filmes / Divulgação
André Gatti e Carlos Reichenbach

Cinco de dezembro de 1974. Nesta data, parece ter ficado congelada em uma inércia física e existencial a figura do pai de um rapaz desaparecido por ação da ditadura militar no Brasil. Esse homem alquebrado desde aquele dia em que o filho não voltou para casa após ir estudar em Moscou (vivido pelo cineasta Carlos Reichenbach, que morreu em 2012) é a figura central do filme Avanti Popolo.

Seu torpor é despertado pela companhia do filho caçula, André (André Gatti), de volta ao lar paterno após separar-se da mulher. A relação entre eles é fria, distante. André tenta despertar as memórias do velho projetando antigos filmes familiares em Super-8 feitos pelo irmão ausente. A casa decrépita e tomada pelo mofo onde André reencontra o pai, na periferia de São Paulo, é como um personagem a reforçar o estado de espírito de seu morador.

Em cartaz a partir desta quinta-feira hoje no CineBancários (General Câmara, 424, no Centro), com sessões às 15h, 17h e 19h, Avanti Popolo (2012) é a premiada estreia em longa-metragem de Michael Wahrmann, uruguaio radicado em São Paulo desde 2004, após duas décadas vivendo em Israel. E é notável o poder de síntese que o diretor imprime nos enxutos 72 minutos de duração do longa.

Leia no blog Cineclube uma entrevista
com Michael Wahrmann.

Título de um hino comunista do começo do século 20, Avanti Popolo é, ao mesmo tempo, um filme-ensaio sobre a memória que sobrevive aos grandes traumas individuais e coletivos, um inflamado manifesto político e uma apaixonada carta de intenções sobre o ato de fazer cinema autoral no Brasil no peito e na raça.

Com trânsito nas artes visuais, Wahrmann faz do trabalho com atores não profissionais e da cenografia pontos de destaque em Avanti Popolo, que, entre os prêmios conquistados, levou os de melhor direção e o troféu da crítica no Festival de Brasília de 2013.

Pontuando a narrativa, os registros em Super-8 resultam em imagens oníricas de um passado que se esforça para resistir ao esquecimento. Em vão: "Eu não vejo mais nada, está tudo cinza", diz o pai aprisionado em suas próprias lembranças.  

 

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