
Se o palco do Theatro São Pedro pudesse pressentir o que está por vir, estaria se preparando psicologicamente. A estreia da peça A Vertigem dos Animais Antes do Abate, nesta quinta-feira, promete banhá-lo em sangue e agitá-lo com cenas de sexo violento e incestuoso. O texto é do grego Dimítris Dimitriádis, autor nunca publicado ou encenado no Brasil, mas com grande prestígio na Europa.
Entusiasta e estudioso da tragédia, Luciano Alabarse já montou clássicos como Antígona, Medeia e Édipo. Ele divide a direção com Margarida Peixoto, repetindo a parceria de Marxismo, Ideologia e Rock´n´roll para agora mergulhar em uma tragédia contemporânea. Nela, o destino dos personagens é inexorável e não faltam recursos basilares do gênero, como o coro.
A trama se inicia quando o jovem Nilos Lákmos (Marcelo Ádams) decide casar-se com Militsa (Ida Celina). Em seguida, avançamos 30 anos para ver sua família formada e vivendo numa dinâmica peculiar: no interior da casa, as regras civilizatórias não existem e só o instinto é respeitado. A mãe deseja o filho sem pudores, o pai frequenta os quartos da filha e do filho, os irmãos transam uns com os outros. Uma peça de Alabarse nunca teve tantas cenas de nudez, que dirá de estupro e castração.
- A gente resolve com coreografias, luz e sombra. Ninguém vai ficar chocado, mas impactado com a carga emocional do espetáculo. - adianta Alabarse.
É nesse território selvagem que o texto planta questionamentos sobre a condição humana. Por mais que os personagens tenham criado seu próprio universo, as leis e convenções sociais estão logo ali. Enquanto eles pagam um preço alto por tanta liberdade, sobram dúvidas: afinal, o que é o instinto em estado bruto e até onde é possível ir para satisfazê-lo? O que se ganha e se perde ao acatar as leis sociais?
Margarida Peixoto assume os riscos de levar o tabu ao palco:
- É como saltar do 19º andar. Mas o teatro tem que ser questionador, algo tem que ficar depois que a peça acaba.
Para contrabalançar, a trilha sonora executada ao vivo no piano de Everton Rodrigues e na voz de Muni promete leveza. No palco, a atmosfera será de ensaio, com os próprios atores armando e desarmando um cenário minimalista.
Nos dias 4 e 11 de julho, o São Pedro terá, enfim, sua sessão de terapia. A Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) promoverá debates sobre a peça.
> Em vídeo, assista a um trecho da peça acompanhado de comentários dos diretores:
A VERTIGEM DOS ANIMAIS ANTES DO ABATE
Texto de Dimítris Dimitriádis.
Direção de Luciano Alabarse e Margarida Peixoto.
Estreia quinta-feira, às 21h. Em cartaz até 13 de julho, de quinta a sábado, às 21h, e domingos (dia 6, às 18h, e dia 13, às 20h). Duração: 1h30.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100.
Onde estacionar: no Multipalco (entrada pela Riachuelo) a R$ 18.
Ingressos: R$ 60 (plateia e cadeiras extras), R$ 50 (camarotes centrais), R$ 30 (camarotes laterais) e R$ 20 (galerias). Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante (cem primeiros ingressos), 20% para titular e acompanhante nos demais, 50% para membros da Sociedade Psicanalítica de POA nas sextas, 50% para idosos e 50% (às quintas) e 10% (nos demais dias) para estudantes. À venda na bilheteria do TSP, de segunda a sexta, das 13h às 18h30 (até as 21h, quando há espetáculos noturnos); sábado, das 15h às 21h; domingo, das 15h às 18h).