Cultura e Lazer

Música a domicílio

Fenômeno alternativo, Sofar Sounds organiza shows secretos em Porto Alegre

Capital gaúcha já recebeu duas edições do projeto que leva bandas independentes a ambientes inusitados

Luiza Piffero

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Elisa Gott / Divulgação Sofar Sounds
Bibian Petek, com participação de Ana Lonardi, foi uma das atrações da segunda edição do Sofar Sounds em Porto Alegre, em maio deste ano

Você sairia de casa para assistir a um show sem ter a mínima ideia de quem vai tocar? E quanto a abrir sua casa para bandas incógnitas e uma plateia de estranhos? Milhares de pessoas responderam "sim" a essas perguntas e fizeram do Sofar Sounds um fenômeno alternativo presente em mais de 80 cidades ao redor do mundo. E Porto Alegre está entre elas.

Criado em Londres, em 2009, o projeto Sofar Sounds - Songs for a Room (ou "músicas para um cômodo") organiza shows em ambientes inusitados como residências, ateliês e galerias, entre outros. Em oposição à impessoalidade das casas de shows de grande porte, preza a intimidade e a informalidade de espaços pequenos e cheios de estilo - na capital gaúcha, por exemplo, os locais escolhidos foram o Estúdio Gorila e o Galpon, um ateliê coletivo recentemente convertido em espaço cultural.

Cada edição do Sofar reúne de três a cinco bandas independentes, e o público só fica sabendo quem são as atrações na hora do show. O local é divulgado cerca de 48 horas antes do evento. Toda a função é gratuita, mas é necessário inscrever-se antecipadamente no site do projeto e torcer para ser convidado.

No Brasil, esses shows a domicílio começaram a aparecer em 2012 e já ocorreram em oito capitais. No dia 8 de junho, o projeto estreou em formato de festival com o SOFAR+, em São Paulo.

Porto Alegre recebeu duas edições em 2014. O responsável por trazer o projeto ao país se surpreendeu com o interesse do público gaúcho:

- É a cidade que tem tido o maior número de seguidores. Além de a música ser diversa e com qualidade boa, o público parece estar carente - opina Dilson Laguna, que supervisiona os shows de todo o país a partir de São Paulo, com a ajuda de uma rede de voluntários regionais.

A primeira edição gaúcha ocorreu em 18 de março, em Porto Alegre, e atraiu mais de 200 inscrições - o Estúdio Gorila tinha capacidade para 60 pessoas e reuniu os shows de Eduardo Pitta, Phantom Powers, Cristiano Varisco e Quiçá, Se Fosse. Na segunda, quase 600 se cadastraram, e somente 90 foram convidados e puderam conferir o som de Instrumental Picumã, Dingo Bells, Bibiana Petek (com participação de Ana Lonardi) e O.C.L.A. (com Tonho Crocco). As próximas já têm data marcada: 19 de agosto e 14 de outubro. E Laguna estuda outras ações na cidade:

- Para 2015, queremos aumentar a assiduidade dos eventos, o que depende de conseguirmos patrocínio/apoio. E, possivelmente, fazer uma edição do festival Sofar+.

Palco por uma noite

A colaboração está entranhada no DNA do Sofar. Os organizadores do projeto pesquisam lugares e bandas e recebem recomendações por e-mail e via redes sociais. Pelo site oficial, qualquer um pode oferecer um espaço para receber o evento. As duas edições porto-alegrenses foram escolhidas a partir de indicações de conhecidos.

Para o Estúdio Gorila, que está completando um ano, receber o Sofar foi uma oportunidade de associar seu negócio à marca e ainda fazer contatos:

- Foi superprodutivo porque recebemos desde gente do rádio até músicos - conta Edo Portugal, sócio-proprietário do estúdio.

Depois da experiência, o estúdio virou parceiro do Sofar. Eles se encarregaram de levar os equipamentos para o espaço cultural Galpon, um ateliê coletivo que recebeu a segunda edição do evento.

- O pessoal do Sofar organizou a decoração usando o que a gente já tinha - lembra Isadora Mariano, gerente comercial do Galpon.

Escolha das bandas

A seleção das bandas que tocam no Sofar Sounds é feita por uma equipe especializada, na sede do projeto, em Londres. Eles recebem indicações dos organizadores no Brasil, mas a palavra final é deles.

- Os critérios são originalidade e excelência. Todos os estilos são bem-vindos - diz Dilson Laguna.

Essa chancela já abriu caminhos para bandas britânicas como The Staves, que atingiu quase meio milhão de visualizações no YouTube, e Bastilles, que assinou com um grande selo. No Brasil, o grupo Call me Lolla fez sua primeira aparição ao vivo no Sofar SP. Depois, gravou disco em Nova York e foi chamado para os festivais Mecca no Rio Grande do Sul e em São Paulo.

O Sofar é uma vitrine diferente. O público costuma ser restrito, mas formado por pessoas realmente interessadas em música.

- Você sente que o público está interessado em conhecer coisas novas. As pessoas só conversam nos intervalos - conta Bibiana Petek, que tocou no Galpon em maio.

A compositora, que já havia participado de uma edição em São Paulo, celebra a exposição no canal do Sofar no YouTube, onde ficou entre as mais vistas no país.

:::: Confira os vídeos publicados das apresentações em Porto Alegre:

COMO ASSISTIR 

> Próximas edições ocorrem em Porto Alegre nos dias 19 de agosto e 14 de outubro. O local e o horário só serão divulgados 48 horas antes.
> Inscrições pelo link encurtado http://tinyurl.com/kawobqh.
O processo de seleção é randômico, mas prioriza quem nunca participou do Sofar.
> Notícias do projeto podem ser conferidas em sofarsounds.com e facebook.com/SofarSoundsBrasil.

MAIS APRESENTAÇÕES CASEIRAS

Lembre outros artistas que já fizeram shows a domicílio

> Apanhador Só: O show "acústico-sucateiro" chegou a mais de 40 casas de fãs que contribuíram para o financiamento coletivo do disco Antes que Tu Conte Outra (2013). O grupo também fez shows elétricos na casa da mãe de um dos integrantes e planeja outros quatro no segundo semestre - ainda sem datas nem locais definidos.
> Musa Híbrida: Desde 2012, a banda apresenta pocket shows no interior de casas particulares ou em seus quintais. Já ocorreram em Pelotas, Porto Alegre, Sorocaba e Campinas. O lançamento do segundo disco, em agosto, será em uma casa de Campinas.
> Edu Conte: Estreou como cantor e compositor com um show feito na própria casa e transmitido ao vivo pela internet em janeiro de 2013. Depois de outras três edições, o seu Show de Apartamento migrou para palcos mais tradicionais da Capital. Agora, planeja um programa online chamado Encontros de Apartamento.
> Genifer Gerhardt - Entre maio e julho de 2013, a atriz levou a peça teatral Brasil Pequeno, com bonecos em miniatura, a 12 casas da Capital. Os proprietários inscreviam-se para receber a atriz em suas salas e cozinhas, e podiam convidar outras nove pessoas.

FAÇA VOCÊ MESMO

Para quem gostou da ideia do Sofar, aí vão algumas dicas para organizar um show em casa:

> Para o Sofar, mais importante que um espaço amplo, é um local com personalidade. Nos eventos do projeto, a capacidade fica entre 30 e 100 pessoas.
> Boa acústica ajuda, mas com shows intimistas e acústicos, não é pré-requisito.
> Cadeiras, comidas e bebidas... Nada disso é essencial. O Sofar só pede que o espaço tenha fontes de eletricidade. Segundo Dílson Laguna, para ser um bom anfitrião basta gostar de música e ser eclético. Não é possível escolher o gênero musical da banda.
> Não esqueça de prevenir os vizinhos, aliás, convide eles, e encerrar o evento em um horário razoável. Os shows do Sofar costumam começar por volta das 20h30 e terminar antes da meia-noite.
> E a quanto a licenças? "Por se tratar de eventos fechados, somente para convidados, e não cobrarmos ingresso, não precisamos de licença", responde Dílson Laguna.
> Locais pequenos combinam com shows acústicos e de bandas com poucos integrantes. A estrutura dos shows do Sofar é desmontada em menos de duas horas.

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