
Você sairia de casa para assistir a um show sem ter a mínima ideia de quem vai tocar? E quanto a abrir sua casa para bandas incógnitas e uma plateia de estranhos? Milhares de pessoas responderam "sim" a essas perguntas e fizeram do Sofar Sounds um fenômeno alternativo presente em mais de 80 cidades ao redor do mundo. E Porto Alegre está entre elas.
Criado em Londres, em 2009, o projeto Sofar Sounds - Songs for a Room (ou "músicas para um cômodo") organiza shows em ambientes inusitados como residências, ateliês e galerias, entre outros. Em oposição à impessoalidade das casas de shows de grande porte, preza a intimidade e a informalidade de espaços pequenos e cheios de estilo - na capital gaúcha, por exemplo, os locais escolhidos foram o Estúdio Gorila e o Galpon, um ateliê coletivo recentemente convertido em espaço cultural.
Cada edição do Sofar reúne de três a cinco bandas independentes, e o público só fica sabendo quem são as atrações na hora do show. O local é divulgado cerca de 48 horas antes do evento. Toda a função é gratuita, mas é necessário inscrever-se antecipadamente no site do projeto e torcer para ser convidado.
No Brasil, esses shows a domicílio começaram a aparecer em 2012 e já ocorreram em oito capitais. No dia 8 de junho, o projeto estreou em formato de festival com o SOFAR+, em São Paulo.
Porto Alegre recebeu duas edições em 2014. O responsável por trazer o projeto ao país se surpreendeu com o interesse do público gaúcho:
- É a cidade que tem tido o maior número de seguidores. Além de a música ser diversa e com qualidade boa, o público parece estar carente - opina Dilson Laguna, que supervisiona os shows de todo o país a partir de São Paulo, com a ajuda de uma rede de voluntários regionais.
A primeira edição gaúcha ocorreu em 18 de março, em Porto Alegre, e atraiu mais de 200 inscrições - o Estúdio Gorila tinha capacidade para 60 pessoas e reuniu os shows de Eduardo Pitta, Phantom Powers, Cristiano Varisco e Quiçá, Se Fosse. Na segunda, quase 600 se cadastraram, e somente 90 foram convidados e puderam conferir o som de Instrumental Picumã, Dingo Bells, Bibiana Petek (com participação de Ana Lonardi) e O.C.L.A. (com Tonho Crocco). As próximas já têm data marcada: 19 de agosto e 14 de outubro. E Laguna estuda outras ações na cidade:
- Para 2015, queremos aumentar a assiduidade dos eventos, o que depende de conseguirmos patrocínio/apoio. E, possivelmente, fazer uma edição do festival Sofar+.
Palco por uma noite
A colaboração está entranhada no DNA do Sofar. Os organizadores do projeto pesquisam lugares e bandas e recebem recomendações por e-mail e via redes sociais. Pelo site oficial, qualquer um pode oferecer um espaço para receber o evento. As duas edições porto-alegrenses foram escolhidas a partir de indicações de conhecidos.
Para o Estúdio Gorila, que está completando um ano, receber o Sofar foi uma oportunidade de associar seu negócio à marca e ainda fazer contatos:
- Foi superprodutivo porque recebemos desde gente do rádio até músicos - conta Edo Portugal, sócio-proprietário do estúdio.
Depois da experiência, o estúdio virou parceiro do Sofar. Eles se encarregaram de levar os equipamentos para o espaço cultural Galpon, um ateliê coletivo que recebeu a segunda edição do evento.
- O pessoal do Sofar organizou a decoração usando o que a gente já tinha - lembra Isadora Mariano, gerente comercial do Galpon.
Escolha das bandas
A seleção das bandas que tocam no Sofar Sounds é feita por uma equipe especializada, na sede do projeto, em Londres. Eles recebem indicações dos organizadores no Brasil, mas a palavra final é deles.
- Os critérios são originalidade e excelência. Todos os estilos são bem-vindos - diz Dilson Laguna.
Essa chancela já abriu caminhos para bandas britânicas como The Staves, que atingiu quase meio milhão de visualizações no YouTube, e Bastilles, que assinou com um grande selo. No Brasil, o grupo Call me Lolla fez sua primeira aparição ao vivo no Sofar SP. Depois, gravou disco em Nova York e foi chamado para os festivais Mecca no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
O Sofar é uma vitrine diferente. O público costuma ser restrito, mas formado por pessoas realmente interessadas em música.
- Você sente que o público está interessado em conhecer coisas novas. As pessoas só conversam nos intervalos - conta Bibiana Petek, que tocou no Galpon em maio.
A compositora, que já havia participado de uma edição em São Paulo, celebra a exposição no canal do Sofar no YouTube, onde ficou entre as mais vistas no país.
:::: Confira os vídeos publicados das apresentações em Porto Alegre:
COMO ASSISTIR
> Próximas edições ocorrem em Porto Alegre nos dias 19 de agosto e 14 de outubro. O local e o horário só serão divulgados 48 horas antes.
> Inscrições pelo link encurtado http://tinyurl.com/kawobqh.
O processo de seleção é randômico, mas prioriza quem nunca participou do Sofar.
> Notícias do projeto podem ser conferidas em sofarsounds.com e facebook.com/SofarSoundsBrasil.
MAIS APRESENTAÇÕES CASEIRAS
Lembre outros artistas que já fizeram shows a domicílio
> Apanhador Só: O show "acústico-sucateiro" chegou a mais de 40 casas de fãs que contribuíram para o financiamento coletivo do disco Antes que Tu Conte Outra (2013). O grupo também fez shows elétricos na casa da mãe de um dos integrantes e planeja outros quatro no segundo semestre - ainda sem datas nem locais definidos.
> Musa Híbrida: Desde 2012, a banda apresenta pocket shows no interior de casas particulares ou em seus quintais. Já ocorreram em Pelotas, Porto Alegre, Sorocaba e Campinas. O lançamento do segundo disco, em agosto, será em uma casa de Campinas.
> Edu Conte: Estreou como cantor e compositor com um show feito na própria casa e transmitido ao vivo pela internet em janeiro de 2013. Depois de outras três edições, o seu Show de Apartamento migrou para palcos mais tradicionais da Capital. Agora, planeja um programa online chamado Encontros de Apartamento.
> Genifer Gerhardt - Entre maio e julho de 2013, a atriz levou a peça teatral Brasil Pequeno, com bonecos em miniatura, a 12 casas da Capital. Os proprietários inscreviam-se para receber a atriz em suas salas e cozinhas, e podiam convidar outras nove pessoas.
FAÇA VOCÊ MESMO
Para quem gostou da ideia do Sofar, aí vão algumas dicas para organizar um show em casa:
> Para o Sofar, mais importante que um espaço amplo, é um local com personalidade. Nos eventos do projeto, a capacidade fica entre 30 e 100 pessoas.
> Boa acústica ajuda, mas com shows intimistas e acústicos, não é pré-requisito.
> Cadeiras, comidas e bebidas... Nada disso é essencial. O Sofar só pede que o espaço tenha fontes de eletricidade. Segundo Dílson Laguna, para ser um bom anfitrião basta gostar de música e ser eclético. Não é possível escolher o gênero musical da banda.
> Não esqueça de prevenir os vizinhos, aliás, convide eles, e encerrar o evento em um horário razoável. Os shows do Sofar costumam começar por volta das 20h30 e terminar antes da meia-noite.
> E a quanto a licenças? "Por se tratar de eventos fechados, somente para convidados, e não cobrarmos ingresso, não precisamos de licença", responde Dílson Laguna.
> Locais pequenos combinam com shows acústicos e de bandas com poucos integrantes. A estrutura dos shows do Sofar é desmontada em menos de duas horas.