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Opinião

René E. Gertz, professor de História na PUCRS, comenta o filme "Heimat - A Outra Pátria"

Premiado filme alemão que aborda vinda de imigrantes ao Rio Grande do Sul no século 19 tem sessões especiais em Porto Alegre, de quinta a sábado, no Guion

MovieGod.de / Divulgação

No filme de Edgar Reitz, São Leopoldo não aparece, mas fala-se do Brasil e de Porto Alegre. Nenhuma cena, porém, se desenrola aqui. Mesmo assim, ele tem tudo a ver com nossa população. É que o cenário é a aldeia de Schabbach, no Hunsrück, região oeste da Alemanha, da qual provieram os antepassados de muitos gaúchos.

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Estamos em 1842. Muitos lembram do domínio napoleônico, que trouxe opressão estrangeira, e a necessidade de combatê-la. Foi quando se popularizaram as futuras cores nacionais (preto, vermelho e ouro), símbolo que agora navega no Reno. Os acontecimentos de 30 anos antes, no entanto, também lembram ideais de liberdade.

Entrementes, o domínio prussiano se impôs, sim, com algumas reformas. Aprende-se a ler e escrever em Schabbach, nas festas populares, porém, não se pode tomar o vinho "da colônia", pois o todo-poderoso senhor do lugar tem o monopólio. Os ideais de liberdade e de unidade nacional estão no ar, o famoso hino Deutschland, Deutschland über alles é de 1841. Esse clima vai desembocar na fracassada tentativa de unificação do país e de implantação de uma constituição liberal, em 1848. A unificação, sem constituição liberal, só vai acontecer em 1871, com Bismarck.

Além dos ideais de liberdade, também há algum desenvolvimento na aldeia. Constrói-se uma máquina a vapor artesanal, mas a massa do povo vive em condições precaríssimas, a mortalidade infantil grassa solta. Nessa situação, repercutem as mensagens de agentes do governo brasileiro fazendo propaganda de seu país. Moradores são tomados pela febre romântica de um paraíso tropical, no além-mar. É o caso do personagem central do filme. Através de leituras, ele conhece detalhes sobre tribos de índios do Brasil e seus costumes.

Mas não é ele que vai emigrar. Talvez seja espirituoso demais, pois até Alexander von Humboldt se interessa por sua criatividade. Quem emigra é seu irmão, recém vindo do pesado serviço militar, mais malandro que ele, a ponto de ficar com sua namorada. A carta que este manda do Brasil, 13 meses depois da emigração, é realista, aqui não é o paraíso, mas também nem tudo está errado.

Assim, o filme apresenta aspectos muito interessantes de nossa pré-história. Apesar de longo, é cativante. O pessoal de Bom Princípio poderá verificar se o Hunsrückisch que se fala é igual ao deles; a juventude dourada de Porto Alegre, que já aprendeu como se colocam pronomes, pode aprender como se ferram cavalos.

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