
Depois de aproximar crianças de canções e poemas considerados "de adultos", Adriana Calcanhotto parte para a música erudita. Acompanhada de membros da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul, ela apresenta Pedro e o Lobo e Canções Partimpim, sábado, às 18h, no Auditório Araújo Vianna, dentro da programação do 21º Porto Alegre Em Cena. Os ingressos custam R$ 40.
Quem subirá ao palco, na verdade, será Adriana Partimpim, o alter ego que a cantautora assume para falar às crianças sem subestimá-las. A fórmula está em seus três discos infantis - um deles ganhador do Grammy Latino. O concerto é montado com canções desses álbuns, uma peça de André Mehmari e, no centro das atenções, o clássico Pedro e o Lobo, do russo Sergei Prokofiev (1891 - 1953). A obra combina narração (por Adriana, em tradução feita por ela mesma a partir do inglês) e música, ao mesmo tempo em que introduz os instrumentos da orquestra às crianças. Cada personagem corresponde a uma sonoridade: o pássaro é a flauta; o gato é o clarinete; o lobo, três trompas; Pedro, as cordas; e assim por diante.
O projeto partiu de um convite da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) para Adriana e lotou a Sala São Paulo em quatro apresentações neste mês.
- A plateia não se segura ao reconhecer algumas das canções e acaba cantando - conta Wagner Polistchuk, integrante da Osesp que irá reger o concerto.
Ao músico André Mehmari, a Osesp pediu arranjos orquestrais para as canções de Adriana e uma nova peça (Festa dos Bichos) para ligar os dois momentos do concerto.
- Em todos os arranjos, inseri os temas de Pedro e o Lobo, como se os animais estivessem comentando as canções - diz Mehmari.
ENTREVISTA > Adriana Calcanhotto
Cada criança tem um músico ou musicista dentro de si? Como despertá-lo?
Como disse Fernando Pessoa, "Todo poema para crianças não poderia ser escrito por adultos". A forma de despertar acho que é expondo as crianças à poesia, à música, à arte. Parece mais ser o caso de como não matar o artista que cada criança é e com o tempo deixa de sê-lo, do que de como despertá-lo.
Você acha que a sociedade atual tende a subestimar as crianças? Quais as diretrizes que você segue quando você está criando algo para o público infantil?
Sigo as diretrizes de que estou fazendo meu trabalho, para pessoas. Falo com as crianças da mesma maneira que falo com todo mundo, e sinto que elas agradecem o tratamento. Infelizmente, há, sim, muita subestimação desse público. Mas o meu temperamento faz com que eu invente coisas para elas ao invés de ficar reclamando.
Você conheceu Pedro e o Lobo quando criança? A obra tem significado especial para você?
Sim, ouvia em disquinho e lembro de assistir à versão da Disney, de que não gosto tanto. Tem uma maravilha no original de Prokofiev que é o fato de ele contar a história com tão poucas palavras. Escutei diferentes versões enquanto estava estudando a peça, e a maioria usa a história como pretexto, acrescentando eventos paralelos, ganchos narrativos, enfeites. Escolhi manter a versão original porque me parece de longe a melhor e, sendo um clássico, o melhor para as crianças seria mostrar a composição como foi escrita.
Como você combinou suas canções com Pedro e o Lobo?
Comecei pensando na formação da orquestra para Pedro e o Lobo, ou seja, nada de piano, ou harpa, nada dos instrumentos que não estão na partitura de Prokofiev. Pensei também em temas como O Trenzinho do Caipira, um trecho de uma obra de Villa-Lobos no qual a orquestra soa como um trem. O Elefantinho, a mesma coisa: a orquestra faz os bichos. André Mehmari, que fez os arranjos, misturou melodias de Pedro e o Lobo em todas elas, então o programa inteiro fica parecendo uma sinfonia.