Havia frescor em Apenas uma Vez (Once, 2006), pela abordagem criativa do gênero musical, pela autenticidade e organicidade com que as músicas do casal de protagonistas adentravam na narrativa. Estreia do fim de semana no circuito, Mesmo se Nada Der Certo (Begin Again, 2014) constitui uma repetição da mesma fórmula, trocando atores desconhecidos por Mark Ruffalo e Keira Knightley, uma Dublin carrancuda por uma Nova York ensolarada. É claro, sendo assim, que o novo filme do diretor e roteirista irlandês John Carney carece de autenticidade.
Mas o longa tem qualidades, a começar pela atriz principal, que canta (relativamente) bem e tem charme como a garota legal que tinha o relacionamento perfeito até seu namorado (Adam Levine, da banda Maroon 5) trocá-la pelos louros da fama. Desiludida, ela canta por acaso em um bar e... lá está um executivo da indústria para descobri-la e transformá-la numa estrela. Nada grave, mas um problema: Ruffalo exagera em alguns trejeitos (gestos e tom de voz), passando da conta ao tentar demonstrar o desajuste de seu personagem com os rumos da indústria musical.
A aproximação dos dois faz Mesmo se Nada Der Certo parecer uma comédia romântica, e é aí que o filme cresce: Carney tem sensibilidade para mostrar o quanto uma sintonia como a que ambos desenvolvem, ao mesmo tempo pessoal e profissional, se equilibra sobre uma linha tênue de afetividade, entre a amizade e o romance. O ótimo desfecho, um tanto surpreendente (inclusive nas sequências em meio aos créditos finais), dá coerência a esse discurso sobre a ambiguidade de sentimentos que, a bem da verdade, nem sempre são precisos como indicam tantos filmes semelhantes produzidos em Hollywood.
Melhor ainda talvez sejam as gravações do disco da protagonista, em plena rua: Mesmo se Nada Der Certo pode não ser tão autêntico, mas tem um charme inquestionável.
Mesmo se Nada Der Certo
(Begin Again)
De John Carney. Com Keira Knightley, Mark Ruffalo, Adam Levine, Mos Def, Hailee Steinfeld e Catherine Keener.
Comédia dramática, EUA, 2014.
Duração: 104 minutos. Classificação etária: 12 anos.
Em cartaz no circuito de cinemas.
Cotação 3 estrelas (de 5).
