
Texto canônico da literatura brasileira, Antônio Chimango é a ponta menos conhecida da tríade regional formada por O Tempo e o Vento e Contos Gauchescos. Na véspera de seu centenário, em 2015, o poemeto será convertido pela primeira vez em um gênero digno de sua grandeza, a ópera. Batizado como Chimango, o Musical, o espetáculo da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) estreia sexta, às 20h, com apresentações também sábado, às 20h, e domingo, às 18h.
Antônio Chimango foi escrito pelo médico e senador Ramiro Barcellos (1851 - 1916) sob o pseudônimo de Amaro Juvenal e tinha um objetivo claro: satirizar a ascensão política de Borges de Medeiros (1863 - 1961), seu adversário e então presidente da província do Rio Grande do Sul. Por isso, na montagem, Medeiros vira "chimango", que significa um pequeno gavião campeiro. Para efeitos cômicos, ele é convertido na patética marionete de um coronel, que representa Julio de Castilhos (1860 - 1903).
A adaptação dessa trama aos palcos coube a Alpheu Godinho:
- Apesar da finalidade política, é um texto primoroso. Fui bastante fiel na adaptação, mas foi preciso alterar algumas coisas para que o espetáculo não durasse três horas - conta o dramaturgo, que optou por cortar o terço final do poemeto.
Um desafio foi a conversão dos versos originais, escritos em sextetos, para quartetos, que Godinho fez a pedido do maestro Arthur Barbosa. A mudança facilitou a composição da música, erudita mas pontuada por sonoridades que remetem a milongas e tangos. A linguagem campeira foi mantida e, por isso, o programa a ser entregue à plateia inclui um glossário (veja alguns os termos mais usados abaixo).
A equipe do espetáculo tem cerca de 150 pessoas, entre a orquestra e o Coro Sinfônico da Ospa, atores, cantores e bailarinos. No papel-título, está Raul Voges, dos musicais O Apanhador e Lupi, O Musical.
Um novo olhar sobre a tradição
Para conferir um ar contemporâneo a Chimango, o Musical, a Ospa confiou a direção a Marcelo Restori, fundador do grupo Falos & Stercus. Em contraposição à música de Arthur Barbosa, com tratamento operístico tradicional, a estética das cenas é bastante contemporânea. O palco tem inspiração nos pampas e, ao invés de ser plano, possui estruturas que distribuem os atores por diferentes alturas. Sempre em movimento, executando coreografias com referências ciganas, alguns atores vestem figurinos realistas, baseados nos trajes gaúchos, e outros mais simbólicos.
- A música respeita a ópera tradicional, e eu quebro isso com elementos absurdos. Houve uma opção de não ser literal - conta o diretor.
Inspirado por notícias recentes, Restori confronta a mitologia gaúcha com uma questão bem atual: a defesa da homoafetividade. Para isso, recorre ao simbolismo de uma cena na qual duas bailarinas dançam juntas e outra em que um ator veste-se de prenda e uma atriz, de gaudério.
- Resolvemos nos posicionar - diz Restori, referindo-se ao incêndio de um CTG de Santana do Livramento. - O imaginário gaúcho precisa ser confrontado com a contemporaneidade.
GLOSSÁRIO GAUDÉRIO
Confira alguns termos usados na opereta Chimango, o Musical:
> Chimango - Ave de rapina, o menor da família dos falconídeos
> Desmancho - Contrariedade
> Rolha - Patife, manhoso. Que se cala facilmente
> Marca na picanha - Quem é reconhecido como velhaco, tratante, patife
> Matar o bicho - Beber um trago, divertir-se
> Outra religião - O positivismo
CHIMANGO, O MUSICAL
> Opereta inspirada no texto Antônio Chimango, de Ramiro Barcellos, com o Coro Sinfônico e a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, cantores e corpo de atores e bailarinos. Música de Arthur Barbosa, libreto de Alpheu Godinho e direção de Marcelo Restori.
> Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h.
> No Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, S/N).
> Onde estacionar: estacionamento do Multipalco Theatro São Pedro a R$ 10 (associados AATSP) e R$ 15 (público geral).
> Ingressos: R$ 10 (galeria), R$ 20 (camarote lateral), R$ 30 (camarote central) e R$ 40 (plateia), com descontos para seniores, estudantes e titulares do cartão Clube do Assinante ZH. Na bilheteria do teatro (hoje, das 13h às 21h; amanhã, das 15h às 21h, e domingo, das 15h às 18h).