
Em 1999, eu lia em uma famosa revista semanal brasileira a respeito de uma banda que estava deixando a tradicional família norte-americana de cabelos em pé. Eles faziam um som agressivo, escreviam sobre paranoia, ódio e morbidades, usavam máscaras aterrorizantes e seus shows acabavam sempre em quebradeira. Como era perigoso o Slipknot em 1999! Mas, em 2014, eles não assustam mais ninguém.
Nesses 15 anos, os músicos deixaram de ser caipiras pobretões do Iowa para se tornarem milionários donos de seu próprio megafestival de música. Conseguiram isso dando aos seus fãs o que eles querem: um circo de horrores de mentirinha, levado por um rock genérico, derivativo e, no caso de The Gray Chapter, emotivo.
No álbum - o primeiro em seis anos - o Slipknot conferiu certo verniz épico às já conhecidas misturas de guitarras distorcidas, percussão e scratchs, apostando em músicas com andamentos distintos, backing vocals fazendo "ôôôô" e pausas dramáticas.
O vocalista Corey Taylor deixa um pouco de lado os temas sombrios que sempre permearam a discografia da banda para cantar sobre solidão (XIX), perdas (Killpop), partidas (Goodbye) e até pés na bunda (The One That Kills the Least). É verdade que tem uma faixa falando de psicopatia (If Rain Is What You Want) e outra sobre rebelião adolescente (AOV), mas o clima geral é de lamúria.
Talvez o disco seja o funeral de Paul Gray, baixista e fundador da banda, morto por overdose em 2010 e que dá nome ao trabalho. Mas, à julgar pela capa, que mostra uma figura feminina sensualizando com malha de esqueleto, talvez seja apenas o Slipknot respondendo a certa audiência menos agressiva do que a original, que idolatra vampiros vegetarianos e dorme de luz acesa. Que saudade de 1999.