A próxima quinta-feira é dia de Armando Albuquerque. É que o show desta semana do Unimúsica da UFRGS vai se ocupar da música de Albuquerque e, de quebra, vai recordar a poesia dos tantos amigos que foram interlocutores do compositor - e da música.
Que eu esteja envolvido nessa aventura é mera coincidência. Ou talvez não. Desde que fui aluno de Armando Albuquerque no Instituto de Artes - também da UFRGS - nas lonjuras dos anos 1970, "me tomei de amores pela música", como ele mesmo disse certa vez.
Desde então, foram álbuns, teses de doutorado, concertos, mais álbuns. Hoje, já não tenho pretensões de pianista, a não ser para tocar a música "do Armando". E, mesmo assim, a música de Armando Albuquerque é pouco tocada por aqui.
Como contei aqui há dias, hoje é mais provável ouvir em São Paulo a música trepidante do nosso antropófago da Cidade Baixa, do que ouvi-la na Cidade Baixa. Os poetas que conviveram com ele, então, nem se fala. Quem ainda lê Augusto Meyer? O lado poeta do jurista Ruy Cirne Lima, alguém lembra? E Athos Damasceno Ferreira, que mais se conhece por ser nome de praça ao lado de uma confeitaria emblemática de Porto Alegre? Theodemiro Tostes, alguém?
Pois bem, o Salão de Atos da UFRGS, onde vai ser realizado o Unimúsica desta quinta - às oito da noite e de grátis! - fica nos limites da Cidade Baixa. Talvez seja o cenário ideal para conjurar uma música inclassificável por ser muito variada, uma poesia de tempos idos que, por ser de tempos idos, poucos lembram. Que tempos idos são esses, afinal?
Por certo, os 1920 do modernismo nascente de Porto Alegre. Época dos bebedouros famosos, como escreveu Augusto Meyer, que amamentaram heroicas gerações de chopistas. O final dos anos 1930 dos poemas de Athos Damasceno que a atriz Mirna Spritzer vai recriar na próxima quinta-feira. Na música de Armando Albuquerque, quase 60 anos de sonoridades, das mais agressivas às mais dramáticas, de 1926 a 1974. Belo recorte de um momento da arte porto-alegrense. Ou seria mesmo da arte brasileira, para exagerar no bairrismo e ajustar a perspectiva?
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Coluna
Celso Loureiro Chaves: Armando Albuquerque na UFRGS
O colunista escreve quinzenalmente para o 2º Caderno
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