A expressão popularizada pelo Lauro Quadros se encaixa bem no sobe e desce da dupla: gangorra do Gre-Nal. O Grêmio não vence um clássico há dois anos. O desequilíbrio, entretanto, é ainda mais antigo. A gangorra enferrujou. O motivo da ferrugem não tem nada a ver com o Inter. O maior adversário do Grêmio é o próprio Grêmio, principalmente no ganha-pão: o futebol. É preciso unir as forças políticas do clube, mas acontece justamente o contrário.
O Grêmio era um time assustador para os adversários no Olímpico e tinha grandes façanhas longe de casa. Hoje, busca primeiro ter força na Arena. O contrato com a construtora OAS foi um mau negócio e dividiu o clube. Os dirigentes habitam no Olímpico, alguns treinos são lá. Há uma relação bipolar com a própria torcida, que não se desprendeu do antigo estádio. É só ver o episódio do último Gre-Nal quando os torcedores preferiram por conta própria sair da Azenha para o Beira-Rio e não no local combinado.
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O episódio gerou discussão em reunião do Conselho Deliberativo. Em vez de futebol, o debate é policial. No mesmo encontro, não houve quórum para votar pontos importantes como a volta da figura do vice-presidente de futebol no corpo da direção. O Grêmio abriu mão de ter o responsável pela filosofia de futebol. O que escolhe executivos, assessores, técnicos e jogadores.
Um dia o técnico é Luxemburgo, depois Enderson Moreira, ou Renato Portaluppi e agora Felipão. Um faceiro, uma aposta, um ídolo e o maior de todos no clube. Há 13 anos, não conquista um título importante. Em 2001, com Tite foi campeão da Copa do Brasil. Após este período, teve sete técnicos que não duraram mais que 12 jogos. Julinho Camargo e Vagner Mancini comandaram o time em seis partidas.
A troca com frequência do comando técnico é a prova da falta de convicção, seguida de diversas contratações. Neste período, foi rebaixado para segunda divisão. Pelo menos com Mano Menezes subiu e ainda chegou à final da Libertadores em 2007. Voltou a errar. O Grêmio não tem sequência na formação de um time com um meio-campo consistente faz tempo.
Felipão assumiu no Gre-Nal e mexeu em seis posições, sendo três novidades no meio. Não foi mal. Nasce um novo Grêmio em meio à temporada com Copa do Brasil e Brasileirão.O clube aposta na base. O volante Walace e o atacante Ronan, de 19 anos, são as revelações mais recentes. O grupo de jogadores precisa provar mais. São os desafios de Felipão. Até quando? Este ano tem eleição com o clube desunido.
A alma tricolor está no Olímpico, o corpo na Arena. Um dia o time é ofensivo, no outro é fechado. Uma hora aposta em cascudos, em outra o casquinha é a solução. O desequilíbrio do Grêmio é interno. É preciso uma ideia de futebol a longo prazo e esquecer a rivalidade local. Até porque gangorra é uma coisa antiga. O Grêmio não pode mais viver do passado de glórias. São milhões de torcedores à espera de resultados com união, projeto e trabalho, não de milagres.
*ZHESPORTES