
Paulo César Tinga foi a atração do Primeiro Seminário sobre Racismo no Futebol, realizado nesta terça-feira na Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Chegou caminhando com cuidado. Há apenas um mês, recupera-se de fratura na tíbia e na fíbula da perna direita sofrida durante treinamento na Toca da Raposa II e já caminha sem a ajuda de muleta.
Em meio ao debate sobre seguidos casos de injúria racial no futebol, com serenidade o volante disse que a torcida da Arena perdeu grande oportunidade de se solidarizar ao goleiro Aranha durante Grêmio x Santos, pelo Brasileirão, a noite das vaias.
- Se no primeiro jogo, o estádio reprovou os gritos de "macaco" feitos por uma minoria, no segundo perdeu a chance de demonstrar grandeza. Se só meia dúzia agrediu Aranha, o restante podia ter tido uma ação diferente - declarou Tinga.
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O volante participou do seminário promovido pela página do Facebook Observatório da Discriminação Racial no Futebol, mantida por Marcelo Carvalho, em conjunto com a FGF. Disse que, ao longo da carreira, presenciou e ouviu atrocidades nos estádios que denunciam a cultura do preconceito de toda a ordem.
- Uma pessoa não pode ter duas vidas: quando ela vai ao cinema e não gosta do filme ou do ator ela não sai com insultos raciais ou homofóbicos. No teatro é o mesmo. Por que no futebol ela se acha no direito de agredir? - condenou.
Outro participante do encontro, o sociólogo Edilson Nabarro, coordenador do setor de Cotas da Ufrgs, falou em "amnésia histórica", que faz esquecer o protagonismo dos negros nos clubes e na Seleção Brasileira, de Leônidas da Silva a Neymar.
- Os clubes têm de se comprometer a adotar medidas de coerção e punição, não podem manter apenas uma posição não-racista, sem ação concreta. O futebol pode tomar a frente no combate ao racismo na sociedade - declarou Nabarro, para quem o assunto do racismo nos estádios se instalou de vez. - A questão estourou, o país acordou.
Também presente ao seminário, o promotor do Torcedor, José Francisco Seabra Mendes Júnior, anunciou para outubro um encontro de promotores de outros Estados. Vai recomendar a ideia da responsabilidade dos clubes em casos de insultos raciais.
Já o diretor jurídico da FGF, Luiz Fernando Costa, lembrou que, pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), o clube que denuncia o torcedor que atirou objetos ao gramado pode no máximo sofrer multa. No caso da agressão racial, mesmo flagrando o torcedor, a instituição está sujeita a ser suspensa da competição.
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