
- Isso aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil iá, iá!
O puxador da Imperadores do Samba entoava os versos de Ary Barroso acompanhado pela bateria da escola. No palco, três passistas dançavam em círculos em volta de um homem sentado em uma cadeira. Sem tirar o sorriso do rosto, ele olhava para as meninas e para a plateia.
A cena, que poderia acontecer em qualquer roda de samba do Brasil, era diferente por um motivo: o homem entre as dançarinas era australiano. As pessoas que lotavam a plateia e se divertiam com o número também eram australianas. Eram 1,2 mil australianos fazendo a sua festa no Bar Opinião, em Porto Alegre, nesta segunda-feira.
- Nós somos os fanatics, acompanhamos a Austrália pelo mundo inteiro. Onde a gente vai, fazemos uma festa assim - explica Luke Simmons, 34 anos, um dos organizadores do evento, apontando para a casa lotada.
O grupo de australianos fanáticos nasceu em 1997 e, desde então, segue os atletas do país onde quer que estejam. Eles vieram a Porto Alegre para a Copa do Mundo de futebol, mas também viajam para assistir partidas de rugby, tênis e até mesmo golfe.
No Opinião, dançaram e cantaram com a Imperadores do Samba. Alguns, mais tímidos, preferiam acompanhar o show de longe, escorados na parede. Outros sambavam desinibidos, brincando com os amigos - para quem veio da Oceania, eles não faziam feio.
Australiano se diverte durante o show da Imperadores do Samba. (Foto: Marcelo Carôllo/Agência RBS)

O futebol era o último assunto entre as conversas e interesses dos australianos. "Vamos perder!"; "Não temos chances!"; "Contra a Holanda? Você viu o jogo deles?". Respondiam, sem otimismo, quando questionados sobre o esporte que lhes trouxe para o Brasil.
- Nós somos o pior time da Copa. Sempre esperamos vencer, mas já sabemos que vamos perder. Viemos para aproveitar a festa - comenta Jo Steer, 30 anos, recém chegada em Porto Alegre.
Sobre o Brasil, uma unanimidade:
- Esse é um país lindo, maravilhoso. Mas devo dizer que o melhor daqui são as pessoas - declara Shawn Donohoe, fazendo coro aos comentários de tantos outros australianos que se encantaram com o povo brasileiro nesta viagem.
Os australianos só estranharam uma coisa em sua estadia em Porto Alegre: as filas. Não estão acostumados a esperar em linha para poder entrar nas festas em seu país. E, uma vez dentro da festa, não sabiam o que era ter de enfrentar uma fila para poder comprar a bebida e depois seguir para outra fila para poder retirar a bebida até chegar em Porto Alegre.
- Nós não estamos acostumados com isso. Na Austrália, isso tudo é muito mais simples - lamenta Simmons.
No palco, a Imperadores se preparava para encerrar sua participação na festa. As mulatas aplaudiram, a plateia ovacionou de volta, o homem sentado entre as passistas sorria e batia palmas.
- Obrigado, obrigado! - agradecia em um português enrolado o jovem, descendo do palco.