Copa 2014

Controle de distúrbios

Caminhão blindado com jato d'água será usado em protestos

Investimento do governo federal para a Copa do Mundo, veículo blindado deve chegar ao Estado na próxima semana

Débora Ely

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Brigada Militar / Divulgação
Em São Paulo, três policiais participaram de treinamento e conheceram o caminhão

Ao invés de balas de borracha, jatos d'água. Essa será a estratégia adotada pela Brigada Militar (BM) em protestos a partir da próxima terça-feira, data prevista para a chegada de um caminhão com canhão de água ao Estado. Resistente até a um tiro de fuzil e com peso total de 20 toneladas, o veículo será entregue a Porto Alegre e às outras 11 cidades-sede da Copa do Mundo pelo governo federal para uso na contenção de manifestações - mas, depois do torneio, seguirá como aparato às polícias. Ao custo superior a R$ 1,6 milhão cada, o blindado deve ser batizado no Rio Grande do Sul com o nome Gladiador.

O caminhão tem a capacidade de armazenar 4 mil litros d'água e comporta uma tropa de 21 homens. Nesta semana, dois sargentos e um soldado da BM foram a São Paulo realizar o treinamento para operar o blindado, adquirido pela Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge).

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Conhecidos pelo uso contra manifestantes em movimentos populares na Turquia e no Chile, por exemplo, as dimensões do caminhão e a possibilidade de causar ferimentos impressionam. Porém, o major Cláudio Feoli, responsável pelo treinamentos de tropas para atuação em protestos, destaca que veículos à prova de balas são uma das recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) para evitar o uso de qualquer tipo de armamento.

Caminhão semelhante é usado para dispersar manifestantes em Santiago, no Chile
Foto: Hector Retamal / AFP

- Podemos empregá-lo em qualquer tipo de manifestação, porque o caminhão exerce o efeito psicológico e, quando se quer direcionar a um alvo específico sem afetar os demais, pode se aplicar o jato d'água e atingir diretamente. Não considerados um exagero porque ele tem essa capacidade seletiva, que, bem empregada, poderá propiciar inclusive a aproximação da tropa com segurança - explica Feoli.

 
Junto à água é possível misturar tinta para auxiliar na identificação de manifestantes e até mesmo gás lacrimogêneo - mas a BM garante que não acrescentará o agente químico. O blindado ainda possui sistema de câmeras e poderá ser acionado não somente em protestos, mas também em operações de reintegração de posse e rebeliões em presídios. Professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani considera a aquisição excessiva.

- Uma das funções desse equipamento é a questão psicológica, de amedrontar o manifestante. Agora, o que chama a atenção é que poucas pessoas estão participando dos protestos e que, para o momento, é um pouco exagerado. Me parece muito mais um movimento de fortalecimento da polícia frente ao cenário do país do que uma necessidade - aponta Alcadipani.

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Professor de Sociologia e Teorias Políticas da Unisinos, José Luiz Bica de Melo também considera a chamada militarização das forças de segurança exagerada e até mesmo desnecessária para o momento.

- Entendo que a polícia tem de ter equipamentos e que faz parte da necessidade, mas o momento é inadequado porque constrói uma ideia de que há perigo e risco muito maiores do que realmente ocorre. Não vivemos uma rebelião como ocorre em outros países da Europa, por exemplo. Parece que, agora, o governo resolveu gastar tudo aquilo que não havia gasto antes, mas tem de se observar se é realmente isso que precisamos - defende Bica de Melo.

Segundo o professor, as manifestações de junho do ano passado contribuíram para o processo de fomentar o arsenal das polícias. Já o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho concorda com o uso dos caminhão:

- Acho um equipamento muito bom porque ele é bem menos lesivo do que uma bomba de gás ou uma bala de borracha, por exemplo, e permite um arremesso de água a uma boa distância, mas o jato d'água pode até derrubar uma pessoa.

Entre os itens encaminhados pela Sesge à Brigada Militar para uso em protestos, também estão roupas resistentes a pancadas, máscaras de gás, balas de borracha, granadas de gás lacrimogêneo e mochilas com extintores de fogo.

Veículo blindado tem capacidade para transportar 21 pessoas
Foto: Brigada Militar / Divulgação

*Zero Hora

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