
O turbilhão de emoções de uma Copa é único. Tudo gira muito rápido. Há um ano, as lágrimas eram a expressão do mais puro sentimento pátrio. Os nervos à flor da pele traduziam a alma guerreira disposta a dar a vida pelo pavilhão nacional. O grito na arquibancada era obra de arte popular, ainda que de ricos.
Agora é chororô, abalo emocional e torcida chata. O que mudou da Copa das Confederações para hoje, então? Tirando o futebol da Seleção, nada. É o time, e tão somente o time, que precisa voltar a ser o que era se o Brasil quiser eliminar a Colômbia, no Castelão dos hinos à capela.
E aí temos um personagem: Luiz Felipe Scolari. Assusta o declínio de rendimento a cada jogo na Copa, sem que o técnico consiga revertê-lo. O curioso é que se trata do mesmo Felipão que, há um ano, transformou uma geleia geral em equipe organizada e praticante do futebol total. Por isso patrolou os gigantes na Copa das Confederações ao ponto de virar favorito. Mas é fato: na Copa, o Brasil empatou com México e Chile, venceu a Croácia com ajuda da arbitragem e fez 4 a 1 em Camarões, lanterna do Mundial. A Colômbia ainda não pegou nenhum graúdo, mas ao menos ganhou bem suas quatro partidas.
Em vídeo, veja como o Brasil pode parar James Rodríguez
Felipão emite sinais claros de que está preocupado por não encontrar soluções. Raramente é visto sem trocar ideias com o auxiliar Flavio Murtosa e o coordenador Carlos Alberto Parreira. Escolhe jornalistas de sua confiança para conversar, tentando explicar o que está acontecendo. Libera bastidores antes lacrados no vestiário. Convoca a psicóloga Regina Brandão às pressas para terapia de grupo.
A semana emitiu sinais de que a mudança é urgente. Quem sabe fazendo o de sempre, já que o planejamento prevê poucos treinos entre uma partida e outra. Quem sabe na conversa, reunindo as críticas em um pacote e entregando-as embaladas aos jogadores, mexendo com os brios alheios. A historia do inimigo imaginário. Felipão é craque nisso.
O certo é que a Seleção tem de retomar o seu futebol, em vez de transformar o que antes era solução em problema. A marcação alta, a blitz que sufocava zagueiros, sumiu. Tarefa para Hulk, Oscar, Neymar e Fred, ainda mais contra um meio-campo habilidoso como o da Colômbia. Na gíria: quebrar o passe do time de José Pékerman. A bola não pode chegar serena para James Rodríguez e Cuadrado, os criadores da Colômbia.
As triangulações pelos lados sumiram. Daniel Alves, Oscar e Paulinho, pela direita. Marcelo, Neymar e, hoje, Fernandinho, na esquerda. Daniel e Marcelo têm de passar. Fred está mal, a perigo no time até para entrar um zagueiro (Henrique), mas centroavante precisa de garcom para não morrer de fome. Em vez de só a genialidade de Neymar tentar o drible, outros têm de copiá-lo. Orquestra de uma nota surpreende aqui e ali, mas não sustenta uma sinfonia inteira.
Paulinho, que retorna ao time, precisa religar o motor e não deixar buracos entre as linhas de ataque e defesa. A troca de posições entre Neymar, Oscar e Hulk é fundamental. Sem armador que pense o jogo (Felipão não convocou nenhum com este perfil), o meio-campo só será preenchido se eles se movimentarem e atrapalharem a marcação.
É como cantava a torcida diante da então temida Espanha, ao ver a Seleção fazendo tão bem o que ainda não fez nesta Copa. "Quer jogar? Quer jogar, o Brasil vai te ensinar". Jornalistas do mundo inteiro queriam saber a tradução dos versos que ecoavam no Maracanã. O goleiro Casillas confidenciou a Marcelo o quanto aquilo o impressionou. É o futebol da Seleção que precisa mudar, e não as lágrimas, os nervos ou o canto da torcida. O Brasil tem é de jogar. A começar por hoje.
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