
Patrimônio Histórico Mundial, com prédios do século 17 e 18, o Pelourinho, bairro mais famoso de Salvador, recebeu neste sábado a segunda onda laranja em três semanas de Copa do Mundo.
A primeira, talvez mais numerosa, ocorreu no segundo dia da competição, no dia 14 de junho, data de Holanda e Espanha (5 a 1). Dez mil turistas foram atraídos pela estreia das duas seleções europeias.
Desta vez, os visitantes, entre holandeses, norte-americanos, chineses, japoneses, alemães, belgas, argentinos, mexicanos, suecos, dinamarqueses, suíços, australianos, chilenos e até fãs da Costa Rica, não foram tão numerosos quanto no mês passado, segundo a Secopa da capital baiana. A maioria era identificada por camisas e bonés das suas seleções, dos seus clubes e das suas nações. O clima era de festa e amizade. Todos fotografavam tudo com celulares. Um holandês vestido de padre, com falsos paramentos litúrgicos, e uma holandesa de cocar e maquiada como índia eram os alvos preferidos dos fotógrafos de final de semana.
Milhares de animados holandeses, laranja dos pés à cabeça, tomaram o Terreiro de Jesus, na parte baixa da cidade, ficaram concentrados nas praças durante cinco horas, ouviram marchinhas típicas do seu país, samba e axé, dançaram carnaval, beberam litros de cerveja e caipirinha e, depois das 14h, saíram em caravana rumo a Arena Fonte Nova, endereço de Holanda e Costa Rica, partida que definiu vaga nas semifinais do Mundial da Fifa.
Baianas tipicamente trajadas deram boas-vindas aos estrangeiros nas calçadas ainda molhadas pela chuva da manhã. Fizeram pose para fotos. Sorriram sempre. Não entediam o que falavam os visitantes, mas interagiam assim mesmo.
- Não sei o que eles falam. É uma língua enrolada, não é? Eu tento usar meu "castelhano", mas eles não entendem - explicou Simone de Souza, 35 anos.
Ao seu lado, Maise Santos, 25 anos, vendedora da Galeria Ebenezer, estava mais feliz do que a amiga Simone.
- Eles são os mais legais, junto com os franceses. Querem comprar quadros. Gastam entre R$ 100 e R$ 500 e não reclamam dos preços. Quero uma Copa todos os anos - pede.
O vendedor de camisas Marco Antônio Mota, 49 anos, não parece tão feliz com as duas conterrâneas. Cada cópia vale R$ 60. Ele faz por R$ 50.
- Eles pedem camisas laranja, mas eu não tenho. As da Seleção Brasileira não agradaram, nem as do Bahia ou do Vitória.
Não havia ninguém mais alegre do que Joel Clasie, 24 anos, natural de Amsterdã, torcedor do Ajax e fã de Robben e Van Persie.
- Uma lata de cerveja custa meio euro (R$ 2). Incrível. Acho que nem vou ao jogo - se divertia.
- Nem eu. Vou ficar num bar por aqui mesmo - completou o amigo de Joel, Stefan Lens, 25 anos.
Os dois viajam na noite deste sábado de volta para a Europa. Assistirão as semifinais e as finas em suas casas.
- Levei uma camisa da Seleção Brasileira - disse um.
- Eu vou comprar uma camisa do Bahia, meu novo time - brincou o outro.
A onda laranja que pintou o Pelourinho duas vezes não será esquecida tão cedo em Salvador. Nunca se viu tanto turista de um mesmo país lado a lado num mesmo lugar na Bahia.
- Eu quero outra Copa. Já - suplicou Maria Inês Silva, que vende caipirinha, com ou sem açúcar, a R$ 5 no centro histórico da primeira capital colonial do Brasil, fundada em 1549.