
A seleção da Argélia, que provocou surpresa no Brasil pelo bom futebol, despertou comoção ao retornar à terra natal ontem. As raposas do deserto, como são conhecidos os jogadores da equipe, receberam tratamento digno de campeões. Logo depois de desembarcar no aeroporto, deram início a um desfile pelas ruas da capital Argel a fim de comemorar a campanha histórica que lhes garantiu uma classificação inédita às oitavas.
Do andar de cima de um ônibus, receberam acenos e gritos da multidão que encheu as calçadas, e puderam acenar de volta aos milhares de fãs. Os jogadores ainda tiveram seus nomes pintados na lataria do ônibus. Além de terem conseguido passar de fase, os argelinos levaram o confronto decisivo contra a Alemanha, disputado em Porto Alegre, para a prorrogação. Acabaram derrotados pelo alemães por 2 a 1. A equipe já havia vencido a Coreia do Sul também no Beira-Rio.
Festa no México
A festa que a torcida mexicana fez nas arquibancadas brasileiras continuou em seu próprio país. Mais de mil torcedores se reuniram no Aeroporto Internacional da Cidade do México para recepcionar a seleção. Gritavam "México! México! México!" e entoavam o nome do goleiro Ochoa - um dos destaques da Copa ao realizar defesas incríveis em jogos como o confronto com o Brasil.
O sentimento de injustiça diante da derrota para a Holanda com um pênalti questionado insuflou a população. Um cartaz dizia "Ainda que nos 'Robben', sempre orgulhosos de vocês" - em um trocadilho com o nome do atacante holandês que se jogou após sofrer a falta. Para consolar os atletas, cantaram a letra da tradicional música Cielito Lindo: "Ay, ay, ay, ay, canta y no llores" (canta e não chores).
- Sofremos um descuido e viemos tristes com a desilusão de que estivemos tão perto (de passar de fase) - declarou o técnico Miguel Herrera.
Os jogadores queriam saudar a torcida, mas as autoridades do aeroporto informaram que não havia condições de segurança.
Multidão no Uruguai
Sabe-se lá quantos uruguaios estariam no aeroporto se sua seleção tivesse conquistado o título, mas a boa campanha em solo brasileiro, abalada pela suspensão do craque Luiz Suárez e encerrada nas oitavas de final pela derrota contra a Colômbia, arrastou nada menos que 4 mil torcedores à recepção da celeste.
Até o presidente José Mujica fez questão de saudar os jogadores na volta para casa - e de xingar os dirigentes da Fifa pela dura pena (quatro meses fora do futebol e nove jogos suspenso) imposta ao atacante por morder um jogador italiano.
- Bando de velhos filhos da puta - declarou Mujica à TV estatal.
O sentimento de revolta contra a decisão da entidade uniu ainda mais os uruguaios na defesa da sua equipe, por meio de faixas, cartazes e bandeiras. Os jogadores ficaram impressionados.
- Isso é muito mais do que merecemos - declarou, emocionado, Diego Lugano, conforme o jornal El Diario.
Os atletas saudaram a multidão, deram entrevistas, tiraram fotos e seguiram de ônibus pelas ruas. Nas calçadas, continuaram sendo felicitados por milhares de torcedores. Para a festa ficar completa, só faltou a taça.
ACLAMADOS
Chile - Milhares de torcedores festejaram o time na chegada ao aeroporto e pelas ruas de Santiago.
Grécia - Mais de 200 torcedores e o Ministro dos Esportes foram felicitar os atletas pela classificação às oitavas.
Japão - Mil torcedores foram ao aeroporto tirar fotos. Os atletas, como bons japoneses, ficaram envergonhados.
Chuva de balas na Coreia
Entre as muitas maneiras possíveis de receber uma seleção de futebol, a torcida da Coreia do Sul protagonizou uma das mais curiosas. Os coreanos gostam muito de futebol e costumam ser muito educados. O fraquíssimo futebol apresentado pela equipe, porém, parece ter esgotado a notória paciência oriental.
Depois de desembarcar em Seul com apenas um ponto conquistado durante a Copa, na segunda-feira, os jogadores se perfilaram a fim de tirar uma foto oficial. Um torcedor mais exaltado demonstrou sua insatisfação fazendo chover balas de caramelo sobre a delegação.
Na cultura coreana, dizer algo como "vá comer um caramelo" é algo muito, muito feio. Mesmo assim, os jogadores observaram a cena sem reagir. Limitaram-se a trocar olhares e fazer caras de vergonha.
- Sinto muito que nós não fomos capazes de retribuir o amor e o apoio demonstrados pelo nosso povo durante a Copa do Mundo - desculpou-se o técnico Hong Myung-bo ao jornal Korea Herald.
A seleção sul-coreana foi uma das equipes a jogar em Porto Alegre - quando levaram um caramelo da Argélia e perderam por 4 a 2.
Itália: "envergonhem-se, indignos!"
Não é fácil voltar para casa após fracassos da seleção italiana. Em 1966, torcedores enfurecidos com a derrota para a Coreia do Norte e a eliminação precoce da Copa do Mundo na Inglaterra fizeram tiro ao alvo usando tomates podres como munição e a cabeça dos jogadores como objetivo. Agora, decoraram o saguão do aeroporto Fiumicino com cartazes em que se via uma foto oficial da delegação sobre a inscrição "Envergonhem-se, indignos!"
Os atletas, porém, familiarizados com a verve explosiva dos conterrâneos, passaram bem longe de qualquer possível aglomeração de torcedores ou protesto. Alguns desceram numa primeira parada em Milão. Em Roma, saíram do aeroporto por um acesso secundário. Foram recebidos por funcionários que aplaudiram um ou outro jogador e fizeram algumas fotos e vídeos do desembarque - não se sabe com que propósito.
No lado de dentro do aeroporto, além dos cartazes, havia não mais que um punhado de torcedores. Um menino foi visto deixando o local, ao lado do pai, com a bandeira azzurra enrolada.
- Fomos muito mal - reconheceu o goleiro Buffon logo após desembarcar em Milão, na primeira parada da difícil volta para casa dos italianos.
Espanha evita o adeus
Depois de chamar a atenção de todo o mundo ao ganhar duas Eurocopas e um Mundial, a vitoriosa geração espanhola retornou a Madri da forma mais discreta possível após ser eliminada na primeira fase. Algumas dezenas de torcedores foram ao aeroporto consolar os atletas e agradecer aos jogadores presentes nas grandes conquistas recentes, como Iniesta, Xavi e Casillas. Porém, acabaram mais uma vez frustrados pela equipe.
Os jogadores conseguiram dar na torcida e nos repórteres os dribles que faltaram contra Holanda e Chile: escapuliram por uma saída alternativa do aeroporto. Houve correria de fãs dentro do terminal _ para saudar, não xingar.
- Nos deram três grandes títulos - explicou uma torcedora à TV espanhola, traduzindo um sentimento de gratidão e despedida verificado também nos meios de comunicação.
A chegada ainda repetiu o clima de pavor vivido por "La Roja" durante a Copa. Pouco antes da aterrissagem, a aeronave foi atingida por um raio que assustou jogadores e comissão técnica - tanto quanto a ideia de encarar a torcida no desembarque.
ENVERGONHADOS
Camarões - Foram tão mal que o presidente do país, Paul Biya, pediu uma investigação formal o mau desempenho.
Costa do Marfim - Os atletas preferiram seguir do Brasil para diferentes capitais europeias em vez de retornar ao seu país.
Portugal - O astro Cristiano Ronaldo voltou para casa de táxi após desembarcar sob o olhar de meros 40 torcedores.
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