
Da casamata do Maracanã, Joachim Löw está prestes a fazer história. Embora ele seja responsável direto pela reformulação que o futebol sofreu no país, a repaginação pela qual o esporte passou, na Alemanha, para chegar a esta final de Copa do Mundo, começou antes de Löw.
Foi no início da década passada que a Alemanha percebeu que era a hora de virar o jogo. Depois de ser campeã da Eurocopa em 1996 - seu último título de expressão até hoje -, caiu na primeira fase da mesma competição na Bélgica, em 2000. Não seria uma catástrofe considerando a chave que a seleção alemã integrava, com Inglaterra, Portugal e Romênia. Uma chave com tradição no futebol. Forte, portanto. Mas, para um país tricampeão mundial e igualmente tricampeão europeu, cair de maneira prematura marcando apenas um gol e um ponto foi a gota d'água.
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A partir de então, a Alemanha encarou o problema de frente. Espalhou academias para formação de jovens jogadores pelo país. Controla as dívidas dos clubes e tem na Bundelisga, o Campeonato Alemão, a maior média de público de competições nacionais em todo o mundo: 45 mil pessoas por jogo.
Löw, um sujeito tranquilo na maior parte do tempo e franco com jornalistas e jogadores, depois de muito batalhar, tem agora em mãos a chance de fazer esse jogo virar de vez, de forma definitiva, em apenas uma partida.
- Ele é calmo. E bastante inteligente. Não precisa gritar para chamar a atenção dos jogadores. Com os jornalistas, às vezes, ele é pouco convincente, justamente por causa da sua tranquilidade e do jeito com que fala, pois a sua linguagem pode ser complicada. Não usa frases muito fáceis - afirma o jornalista Matthias Dersch, do jornal Ruhr Nachrichten, de Dortmund, que cobre a seleção alemã desde a chegada do time ao Brasil.
Aos 54 anos, Joachim Löw foi um meia-atacante veloz e habilidoso nos anos 1970 e 1980. Fazia gols tanto de dentro quanto de fora da área. Arrancava com força e agilidade do meio-campo para bater firme na saída dos goleiros. Jogou em clubes tradicionais como Freiburg, Eintracht Frankfurt e Stuttgart, além de ter sido convocado para a seleção alemã sub-21. No Frauenfeld, foi treinador e jogador ao mesmo tempo.
Começou a carreira de técnico em 1994, nas categorias de base do Winterthur, da Suíça. Passou por Stuttgart e Fenerbahçe, da Turquia, até deixar o comando do Áustria Viena em 2004.
O meia-atacante Joachim Löw jogou entre as décadas de 70 e 80. (Foto: Divulgação/Stuttgart)
Dez anos depois de começar o trabalho como técnico, Löw estava desempregado havia três meses. Sem perspectiva, corria pelas florestas do sul da Alemanha para manter a forma quando recebeu um convite inusitado: ser auxiliar-técnico de Jürgen Klinsmann na seleção. Topou.
E assumiu o comando do time em 13 de julho de 2006, quando Klinsmann deixou o cargo após o terceiro lugar na Copa sediada no próprio país. Até agora, foram 111 jogos, 76 vitórias, 20 empates e 15 derrotas.
Löw é apenas o 17º técnico da história do Nationalmannschaft ("time nacional", literalmente), de uma história internacional que começou em 1908. Não costuma conversar com jornalistas a respeito do que sabe ou do que estuda sobre futebol. Nem por isso é considerado arrogante. Pelo contrário. Reservado, é conceituado mais como tímido e sério. Os poucos sorrisos costumam ser compensados com brincadeiras diretas à imprensa nas entrevistas (de vez em quando, é verdade). Não faz questão de aparecer em público e, neste caso, prefere a intimidade do tempo livre.
Natural de Schönau, uma pequena cidade no sudoeste germânico, na fronteira com a Suíça, Joachim Löw tem em Urs Siegenthaler, chefe de observação da seleção, o "cérebro" da comissão técnica.
- Ele é tipo um conselheiro ou até mesmo mentor de Löw. O que ele diz é muito importante para o técnico - diz Dersch, que acredita que o atual treinador deveria deixar o comando da seleção alemã após o fim da Copa, com ou sem o título:
- Mas não estou certo de que isso vai acontecer, ou se ele pensa o mesmo. Acho que ele gosta desse trabalho. Mas também sabe o que a imprensa e a mídia vão dizer caso a Alemanha perca para a Argentina. Se ele sair, certamente, se afastará do futebol por pelo menos um ano, acho. Depois, deverá recomeçar como técnico em algum clube, talvez na Inglaterra ou na Turquia.
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