
No mesmo dia em que a Fifa lançou uma nova campanha de combate à discriminação, durante a partida entre França e Alemanha, no Maracanã, o Rio Grande do Sul vê o inquérito do caso envolvendo o ex-árbitro gaúcho Márcio Chagas da Silva ser encerrado pela Polícia Civil de Bento Gonçalves sem nenhum indiciado. O procedimento foi encaminhado à Justiça nesta quinta-feira pela delegada Maria Isabel Zerman. Em março, ele foi vítima de injúria racial após uma partida entre Esportivo e Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho de 2014.
- Estou inconformado. O sentimento é de impunidade, de algo sorrateiro. Se aproveitar de um dia em que o foco do País está no jogo da Seleção Brasileira, sabendo que a notícia teria mais repercussão em outro data - comentou Márcio Chagas, visivelmente abalado com a situação.
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A delegada responsável pelo caso, Maria Isabel Zerman, afirmou que foram ouvidas todas as testemunhas possíveis, mas que ninguém apontou com certeza o autor das injúrias raciais.
- Não tivemos elementos suficientes para indiciar alguma pessoa. Nosso objetivo era encontrar o autor, mas infelizmente não conseguimos - disse a delegada da 1ª delegacia de Bento Gonçalves.
De acordo com o advogado de Márcio Chagas, Carlos Eduardo Scheid, a delegada relatou o inquérito policial, mas ainda depende de uma manifestação do Ministério Público (MP).
- Nós vamos aguardar a manifestação do Ministério Público, que é o destinatário do inquérito. Esperamos que o MP ofereça a denúncia ou peça investigações completares. Vamos solicitar que o promotor oficie a Justiça Desportiva para que possam ter uma melhor compreensão sobre o caso - explicou.
Em função do episódio com o ex-árbitro, o time do Esportivo, de Bento Gonçalves, foi rebaixado para a Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD). Por cinco votos a três, os auditores da corte puniram o Esportivo com a supressão de nove pontos na tabela do Gauchão, perda de seis mandos de campo e multa de R$ 30 mil.
À época, Márcio Chagas afirmou ter sofrido inúmeras ofensas relacionadas à sua cor, mesmo que a partida tenha ocorrido sem polêmicas, inclusive, com vitória do time de Bento Gonçalves por 3 a 2.
- Mesmo assim, torcedores gritavam "preto ladrão" e "volta para a selva" o tempo todo - contou o ex-árbitro e agora comentarista esportivo da Rádio Gaúcha.
Relembre o Caso
O ex-árbitro Márcio Chagas da Silva foi vítima de racismo após a partida entre Esportivo e Veranópolis, que foi disputada no dia 5 de março de 2014, na Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.
O veículo de Márcio Chagas foi encontrado com a lataria do carro batida, arranhada, e com bananas sobre ele. O ex-árbitro registrou em fotos a depredação do seu automóvel. Além disso, relatou a situação na súmula da partida.
Assista ao vídeo com a entrevista concedida por Márcio Chagas à reportagem de Zero Hora:
* ZH Esportes
Foto: Márcio Chagas/Arquivo Pessoal
