
Nizan Guanaes é um provocador. O publicitário, sócio fundador do grupo ABC e proprietário da agência de publicidade Africa, com sede em São Paulo, apontada como a melhor do mundo neste ano, é daqueles que gosta de estimular aqueles que estão ao seu redor. Em Porto Alegre, não foi diferente.
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O baiano esteve na Capital semana passada participando de uma maratona de palestras: conversou com empresários sobre competitividade, criatividade e melhorias no ambiente de negócios na Casa NTX, teve um bate-papo e deu dicas profissionais a 20 adolescentes empreendedores e debateu sobre a formação de jovens com educadores, voluntários e estudantes no 5º Colóquio, evento promovido pela Junior Achievement e pelo CIEE-RS.
Para Nizan, apontado como um dos cinco brasileiros mais influentes pelo jornal britânico Financial Times, o Rio Grande do Sul tem matérias-primas fundamentais para se tornar um Estado reconhecido pela geração de inovações, como alta escolaridade e formação universitária de qualidade, mas falta ambição para fazer os negócios ganharem escala mundial. Confira alguns trechos das provocações que o publicitário fez à plateia.
Estar no extremo não é justificativa
O gaúcho tem algo muito parecido com o europeu: faz as coisas muito bem, sabe criar e produzir. Mas, no mundo, quem sabe vender e fazer escala são os Estados Unidos. É preciso aprender com eles. Gaúcho faz coisas ótimas, mas não sabe mostrar. O Rio Grande do Sul tem um tecido acadêmico precioso, universidades de ponta, mas precisa aproveitar esse potencial. O Estado tem se acomodado nesse sentido. Estar no extremo do país não é justificativa. As coisas não nascem no centro, elas se tornam o centro. Jesus nasceu em Belém e Beatles se formaram em Liverpool.
Mudar de rota quando preciso
Eu tinha um motorista em São Paulo, o seu Almiro. Excelente profissional, com uma característica peculiar: quando algum outro carro fazia uma ultrapassagem perigosa ou vinha em nossa direção, ele não diminuía a velocidade e nem mudava de pista. Permanecia na mesma rota se estivesse certo. Um dia eu disse:
- Seu Almiro, a gente ainda vai morrer por ter razão demais.
O mais importante não é estar certo. É importante saber se adaptar. Para sobreviver, isso é muito mais importante. Não dá para ter vergonha de mudar de trajeto quando for preciso.
Não vale brigar com o piloto
O acirramento da disputa entre Dilma e Aécio trouxe algo de muito positivo para o país, porque aproximou o eleitor da política. Em eleições passadas, as pessoas ficavam distante do debate. Fora os militantes, poucos se envolviam. Passado o dia de votação e definido o resultado, o momento é de união. Não adianta brigar com o piloto durante o voo. Se a aeronave cair de 10 mil metros de altitude, todo mundo perde. Agora é preciso esperar quatro anos, quando a aeronave aterrissar de novo, para decidir se é hora de trocar ou não o comandante. Até lá, tem de torcer para dar tudo certo.
Conhecimento é pilha para crescer
Quando eu estou desanimado, leio. Vou atrás de coisas que ainda não conheço, histórias que me inspirem. Às vezes, passo a madrugada inteira lendo. Conhecimento é uma pilha para o entusiasmo. Buscar conhecimento não se resume a dar um ou dois cliques no Google. Não dá para se contentar com isso. É preciso dedicação, um mergulho naquilo que se quer aprender. E pensar em coisas de impacto no mundo. Ninguém lembraria de Alexandre, o Grande se ele fosse Alexandre, o Médio. Tem de pensar grande para se tornar grande. O realizador de verdade é aquele que vê o que ainda não foi construído.
Vocação digital, mas falta ambição
O Rio Grande do Sul tem uma vocação digital, mas precisa ter mais ambição para ganhar relevância. A primeira coisa é sair daqui, romper as barreiras do Estado. E para isso, é preciso de gente com ambição trabalhando em projetos. Não basta ter um negócio, é necessário pensar em escala. A internet pode ser uma aliada nesse processo, tem capacidade de contornar uma série de problemas, mas está nas pessoas a condução para este caminho. O Rio Grande do Sul reúne potencial para se tornar a Seattle brasileira (cidade dos EUA sede de companhias de tecnologia).