
Dois empreendimentos de geração de energia esperados há anos no Rio Grande do Sul finalmente devem sair do papel. Com investimento total de quase R$ 5 bilhões, os projetos contemplam uma usina térmica a carvão, em Candiota, na Campanha, e outra a gás, em Rio Grande, na Zona Sul. As duas obras devem ser viabilizadas a partir de leilão promovido nesta sexta-feira pelo governo federal, com a venda antecipada da energia que será produzida.
No caso da térmica a carvão, o Estado não era contemplado com iniciativa do tipo desde 2005. Batizada de Pampa Sul, a usina receberá R$ 1,8 bilhão e terá capacidade, nesta primeira etapa, para produzir 340 megawatts - suficiente para abastecer duas cidades do tamanho de Caxias do Sul. A empresa franco-belga Tractebel será responsável pelo empreendimento.
- O resultado do leilão é emblemático - disse o diretor-presidente da empresa, Manoel Zaroni Torres.
O presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral, Luiz Fernando Zancan, avaliou que o investimento da Tractebel "abre um novo ciclo para o carvão na geração de energia no país."
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Outro projeto com contrato assegurado no leilão pertence à Bolognesi Engenharia e envolve a aplicação de quase R$ 3 bilhões em Rio Grande. É considerado mais ousado, por implicar a conversão de gás em estado líquido a gasoso.
- Será uma mudança muito grande na matriz energética do Estado, mas isso só vai ser percebido com o tempo - afirmou o presidente da empresa responsável, Ronaldo Bolognesi.
Por contrato, as usinas deverão entrar em operação até 2019. Ambas foram avaliadas com cautela pelo presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, Alfredo Ferreira:
- Não conhecemos em detalhe as propostas, mas sempre há risco de poluição.
Apesar da desconfiança, representantes das empresas garantem que o uso de tecnologia de ponta vai reduzir o impacto ambiental.
Termelétrica Pampa Sul
Localização: Candiota
Investimento: R$ 1,8 bilhão
Potência: 340 megawatts
Combustível: carvão mineral
Empregos na obra: 2 mil
Empresa responsável: Tractebel
Prazo de entrega da obra: janeiro de 2019
Uso do carvão
A usina da Tractebel utilizará um tipo de caldeira - no jargão técnico chamada de leito fluidizado circulante - classificada como tecnologia de combustão limpa de carvão. O processo envolve a mistura de calcário com carvão e o uso de um tipo de ventilador que favorece a queima total das partículas, reduzindo a emissão. Os gases resultantes passam ainda por filtros que capturam os resíduos mais poluentes. O método é usado em usinas termelétricas de países como Itália, China, Estados Unidos e México.
Termelétrica Rio Grande
Localização: Rio Grande
Investimento: R$ 2,945 bilhões
Potência: 1.238 megawatts
Combustível: gás natural
Empregos na obra: de 1,5 mil a 3 mil
Empresa responsável: Bolognesi Engenharia
Prazo de entrega da obra: janeiro de 2019
A regaseificação
A produção de gás em Rio Grande, segundo o secretário de Infraestrutura e Logística, João Victor Domingues, envolverá navios regaseificadores. As embarcações transportarão o gás em estado líquido (para ocupar 600 vezes menos espaço) até um píer a ser construído no porto gaúcho. Ali, o combustível será convertido ao estado gasoso e enviado por tubulações a uma usina para ser queimado e gerar energia.
Prefeitos e governo estadual comemoram
O resultado do leilão foi recebido com festa em Candiota, em Rio Grande e nos corredores do Palácio Piratini. No município da Campanha, a euforia foi tanta que envolveu até fogos de artifício e carreata. O prefeito Luiz Carlos Folador (PT) disse esperar que a licença de instalação saia em, no máximo, quatro meses.
- Queremos que as obras comecem logo, porque esperávamos por isso há muito tempo - afirmou Folador.
O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), também saudou a novidade. Com as dificuldades enfrentadas no polo naval diante das suspeitas de corrupção na Petrobras, o novo empreendimento é motivo de alívio para a população.
- Isso é fruto de uma articulação que incluiu a prefeitura, a superintendência do porto e o governo do Estado. Não podíamos estar mais felizes - resumiu Lindenmeyer.
No Piratini, o secretário de Infraestrutura e Logística, João Victor Domingues, destacou a importância da produção de gás para a diversificação da matriz energética do Estado. Ele deve se reunir com a direção da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) na próxima semana para agilizar a liberação de licenças para ambos os projetos.
- Um dos fatores que define a atração de investimentos é a oferta de energia, por isso esses empreendimentos são tão significativos - ressaltou Domingues.