
Fechado quase três horas para pousos e decolagens na manhã desta segunda-feira, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mantém a rotina de complicações em maio devido à neblina, mesmo com a instalação do ILS 2. O sistema deve diminuir em até 60% os transtornos, mas ainda depende da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar. Ao todo, o Salgado Filho fechou 15.454 minutos, o equivalente a 259 horas ou dez dias, nos últimos 12 anos (veja nos gráficos abaixo) em maio.
A previsão do tempo não é otimista. De acordo com Olivia Nunes, da Somar Meteorologia, 10 dos 31 dias de maio em 2014 são propícios à formação de neblina e, consequentemente, limitações para o tráfego aéreo:
- Estamos numa época de transição do calor para massas de ar frio. O tempo seco e frio da madrugada ajuda a aumentar a umidade e formação de névoa no início da manhã. O Salgado Filho, por estar próximo a um corpo d'água (Guaíba), é afetado, já que a diferença entre as temperaturas do solo e da água propicia a neblina. Vejo nos mapas grandes chances de nevoeiros entre os dias 5 e 11 e 24 e 28 de maio.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) garante que o ILS 2, que pode amenizar a situação, já foi testado e está pronto para operar. Só que ainda não há a liberação, por parte da Anac, das cartas aéreas, mapas sobre os quais são adicionadas informações fundamentais para a navegação.
Sem definição do prazo de operação do ILS 2, há chance de os passageiros serem afetados mais um ano pelo nevoeiro. O agravante de 2014 é que é um ano de Copa do Mundo. Milhares de turistas vão desembarcar em Porto Alegre para os jogos que ocorrem na cidade a partir de 15 de junho.
- Não é apenas a neblina que complica. Há outras dificuldades de infraestrutura, como a falta de uma pista mais longa e um terminal de cargas adequado. Nós estimamos um prejuízo anual na ordem dos R$ 13,3 bilhões por ano em função disso - afirma o vice-presidente da Federasul e coordenador de infraestrutura e logística da entidade, Paulo Menzel.
Segundo ele, o Rio Grande do Sul poderia ter um alívio de caixa significativo com as mudanças estruturais que o Salgado Filho necessita:
- A carga que é produzida no Estado acaba indo para os aeroportos de Guarulhos (São Paulo) e Viracopos (Campinas) em caminhões, e de lá para o mundo. Não temos cargueiros aqui por falta de espaço na pista. O caixa do Estado está exaurido, esse dinheiro poderia voltar para nós em fretes e taxas, mas fica todo em São Paulo.
Imagem arranhada na Copa do Mundo
Além do prejuízo financeiro, a interrupção dos serviços de pouso e decolagem do Salgado Filho pela neblina causa um dano irreparável à imagem de Porto Alegre em função da Copa do Mundo. É o que entende o diretor-executivo da Agenda 2020, Ronald Krummenauer:
- A situação é desesperadora. Sei que a palavra é forte e ruim, só que é isso mesmo. Estamos há anos correndo em volta de nós mesmos, a morosidade pública é duma ineficiência impressionante. As publicações internacionais estão noticiando as fragilidades do Brasil e o Salgado Filho entrou no contexto. Ainda não temos um aeroporto em condições de fazer negócios e com problemas de neblina.
Desde 1997, diversas administrações prometeram a instalação do equipamento no aeroporto, mas o prazo de conclusão tem sido adiado. Se o ILS-2 começar a funcionar após a Copa, ficará de acordo com o ritmo das demais obras previstas para melhorar o Salgado Filho - que estão longe de serem concluídas até a bola começar a rolar no Mundial.
A ampliação do terminal 1, prevista para ficar pronta em maio, estava, em fevereiro, com 1,5% concluída, conforme dado mais recente da Infraero. O ILS 2 foi instalado antes do aumento da pista, outra obra em atraso. Quando a ampliação for finalizada (a nova previsão é junho de 2015), o equipamento precisará ser realocado, o que implicará novos gastos.
Atualmente, o Salgado Filho dispõe do Sistema de Pouso por Instrumentos Categoria 1 (ILS 1, na sigla em inglês). O plano é atender a uma reivindicação de 16 anos implantando o ILS 2, que amplia as condições de pouso e decolagem com baixa visibilidade.
Entenda o que fazem os aparelhos ILS
O ILS 1, equipamento existente no Salgado Filho, é o mais limitado dos três. Exige maior visibilidade vertical e horizontal.
O ILS 2 permite operações em condições menos favoráveis. Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro têm esse tipo.
O ILS 3 permite operações sem visibilidade. No aeroporto de Heathrow (Londres), por exemplo, o piloto consegue pousar praticamente às cegas.
O que diz a Anac
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Anac garantiu que "o processo para o início das operações do ILS CAT II está avançado. Dentro de alguns dias, técnicos da Anac visitarão o aeroporto para conferir se as alterações necessárias para a implantação do sistema foram cumpridas. Caso a avaliação tenha resposta positiva, o ILS poderá começar a funcionar. A Secretaria da Aviação Civil acredita que o ILS CAT 2 estará operando no Salgado Filho antes da Copa do Mundo."
*Colaborou Bruna Ayres