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Funk para formar

Projeto de jovem de Canoas que visa a construir cidadania precisa de ajuda para ser retomado

Emici Ruan já trabalhou a cultura funkeira com mais de 500 alunos


Foto: arquivo pessoal
 
Foto: Bruno Moraes
 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Nos encontros promovidos pela Escola do Funk, alunos elaboravam coreografias e discutiam sobre cidadania

Dos seus 26 anos de idade, 11 foram dedicados ao funk. Mas o engajamento de Arnaldo Lima Candido, ou melhor, Emici Ruan ao ritmo que embala muitos jovens em todo o Brasil não se restringe a cantar e dançar. Criador do projeto Escola do Funk (EDF), Ruan já trabalhou a cultura funkeira na cabeça de mais de 500 alunos.

A EDF começou em 2010, em uma academia no bairro Guajuviras, onde funcionou por nove meses. Mas só depois que Ruan ingressou, como aluno, na Casa das Juventudes - projeto do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) -, que a chapa esquentou.

- Quem quer aprender violão encontra facilmente um professor. Mas quem se interessa por funk tem dificuldade. A ideia da EDF é formar um grupo para atividades extracurriculares, trabalhar problemas diversos - explica Ruan.

Pouca habilidade para movimentar o corpo nunca impediu ninguém de participar da EDF - justamente por a dança não ser a única finalidade do projeto. O espaço também serve para debater questões relacionadas ao funk e à realidade dos jovens, como drogas e sexo, e ir além da mera formação de mão de obra.

- É um espaço de convivência, onde não é obrigatório dançar. Teve gente que só foi se movimentar lá pela quinta ou sexta aula. Sempre se fala que esses jovens têm de aprender uma profissão. Tem gente que, com 14 anos, já quer trabalhar. Mas onde eles vão se divertir? Onde vão debater sobre suas vidas? - questiona Ruan.

Projeto desativado, mas em busca de ajuda

No fim de 2013, a Escola do Funk precisou ser desativada depois que Ruan terminou suas atividades na Casa das Juventudes - onde fazia cursos e lhe era permitido usar uma sala para trabalhar com seus alunos. Coordenador da Casa das Juventudes do Mathias Velho, Sergio Arruda, 46 anos, atesta a qualidade do trabalho da EDF.

- É um projeto dentro da política de combate à violência, e o Ruan se tornou um dos educadores sociais de referência da casa. Por falta de estrutura, não pode continuar o projeto aqui. Ele é um jovem promissor e não pode ficar parado - avalia Arruda.

Como ajudar

> Entre em contato com o funkeiro por meio do perfil da EDF no Facebook (facebook.com/edfescoladofunk) ou pelo e-mail ruanescoladofunk@gmail.com

Trabalho reconhecido

Emici Ruan, que tem o trabalho elogiado por profissionais e ex-alunos, busca apoio e um lugar para retomar as atividades da Escola da Funk. Segundo ele, seria necessária uma sala para receber entre 15 e 20 pessoas para ministrar cada encontro. Confira alguns depoimentos:

"É uma proposta original, e Ruan tem muito a ensinar"

Em junho de 2010, fui educadora de Ruan em um projeto de política pública voltado à juventude, no bairro Guajuviras, chamado Protejo. Assim, como educadora e educando, permanecemos até meados de 2011. Foi quando Ruan começou a contar de seu percurso dentro do movimento funk e de sua luta política por essa expressão cultural, que ainda é tão marginalizada nas escolas e nas instituições que atendem adolescentes.

Ali começou uma amizade, e também uma troca de lugar. Nesse momento, de educadora passei a educanda. Ruan, em nossos encontros, contou sobre suas várias tentativas de conversar com vereadores sobre um projeto que ele chamou de Escola do Funk. O projeto consistia em, no turno inverso ao da escola, poder conversar, ensaiar e produzir a cultura funk com adolescentes que desejassem esse aprendizado ou que gostavassem de escutar funk, mas pouco sabiam de sua origem ou qual o contexto de sua emergência.

Penso que a experiência que Ruan teve, entre 2012 e 2013, como educador em uma política pública no Guajuviras e os resultados que já existem de sua experiência nos colocam em um lugar de olharmos para isso e de viabilizarmos espaços e incentivo. Há algo de muito interessante nesse diálogo, que surge a partir de uma cultura que permite conversar sobre vários temas, e, inclusive, ser um lugar de cuidado com adolescentes e de vivência de grupo - o que é tão importante nesse período da vida. Penso que é uma proposta completamente original, e que o educador Ruan tem muito a ensinar a técnicos e profissionais que estão na rede. Eu, como psicóloga e educadora, aprendi demais.

Julia Dutra, psicóloga

"Era um grupo com diversidade"

A Escola do Funk me ajudou em muitas coisas. Primeiramente, a perder a timidez, a descobrir coisas sobre mim que eu não sabia que tinha. Quando entrei na EDF, não acreditava que podia dançar. Dizia para o meu professor, o Ruan, que não adiantaria, e ele sempre acreditou em mim, dizendo que eu podia, sim, dançar, e me mostrou que isso era possível.

Comecei logo que iniciou a EDF e participei de tudo, das dificuldades para ensaiar e de como o grupo foi crescendo. O Ruan foi criando credibilidade, a EDF foi criando um nome. Não era apenas uma aula de dança funk, mas um ensinamento da cultura funk, de como se iniciou, dos DJs e da história do funk.

Se eu sinto saudades? Lógico! Eu morava longe da Casa das Juventudes, e eu ia com prazer. Na chuva, com sol, cansado, e sempre saía de lá com algo novo. Se pudesse, eu voltaria a fazer aula de funk. A melhor coisa que tinha na EDF era que nós éramos um grupo unido, um ajudava o outro. Era um grupo com diversidade, jeitos diferentes. E isso que tornava o grupo especial.

Rodrigo Mateus, ex-aluno

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