Chapa 4: Katiana Pinto dos Santos
Professora de Ciências da rede estadual desde 1997, participa do coletivo Luta Marxista, dissidência de esquerda do Movimento Revolucionário Socialista, que, por sua vez, é uma dissidência de esquerda do PSTU. Também milita na corrente do Cpers Construção pela Base. Não tem filiação partidária. Propõe a desvinculação do Cpers da CUT e a descentralização das decisões, dando maior poder à base. Além disso, sugere que integrantes que atuam em órgãos do governo deixem o sindicato e que o dinheiro repassado a centrais sindicais seja revertido para um fundo de greve e a formação política da categoria.

Entre esta terça-feira e quarta-feira, cerca de 80 mil filiados ao Cpers-Sindicato poderão votar na eleição da entidade representativa dos professores da rede estadual de educação. Apesar dos problemas enfrentados diariamente pelos educadores, a campanha pela direção da entidade tem sido pautada principalmente por questões da burocracia sindical, como o suposto aparelhamento partidário de candidaturas, a vinculação do Cpers à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o presidencialismo na gestão. Capaz de lotar o Gigantinho em assembleias que movimentavam o Estado em décadas passadas, o Cpers pouco trata da rede que atende mais de 1 milhão de estudantes em 2,5 mil escolas.
Rosane de Oliveira: Cpers precisa reconquistar o professor
Conversar sobre as eleições com integrantes das quatro chapas é ser envolvido num turbilhão de versões e acusações. A Chapa 1, liderada pela atual presidente Rejane de Oliveira, que concorre ao terceiro mandato, diz que a Chapa 2, de Helenir Oliveira, foi forjada pelo Piratini para encampar a luta dos professores. Ambas petistas, são chamadas de governistas pelo grupo de Neida de Oliveira, da Chapa 3, que participava da gestão de Rejane até 2013. Ao mesmo tempo, a Chapa 4, de Katiana Pinto dos Santos, acusa as três outras candidaturas de fazer o jogo de governos contra a categoria, enquanto é encarada pelas rivais como sem representatividade.
Evidentemente, todas dão respostas rápidas às críticas, num jogo em que ataque e defesa se confundem. Katiana, atuante em grupos de esquerda socialista dentro e fora do Cpers, admite a menor abrangência da sua chapa e se considera em desvantagem em relação às candidaturas que dispõem de integrantes para percorrer o Estado que são liberados de suas atividades por serem sindicalistas. Neida, do movimento Construção Socialista, elenca divergências programáticas que a fizeram romper com a direção e se diz na oposição à "ala cutista" desde 2003. Helenir nega qualquer vinculação com o governo do Estado e acusa as rivais de fazerem "política baixa" para desviar o foco do debate. A presidente Rejane, por sua vez, defende a sua gestão dizendo que o Cpers tem sido a única entidade que faz oposição sistemática ao governo Tarso.
Como ponto em comum, todas as candidatas defendem pautas como a luta pelo pagamento do piso nacional do magistério, o resgate da dignidade do IPE-Saúde e a valorização dos funcionários de escolas e aposentados.
Terreno feminino
Se a política partidária é um terreno masculino, a ponto de a Justiça Eleitoral estabelecer cotas para candidaturas femininas, a presidência do Cpers tem sido das mulheres. Dos 23 presidentes da história da entidade, apenas quatro eram homens (Oscar de Camellis Filho, Hermes Zaneti, Delmar Steffen e Paulo Egon Wiederkehr), o que segue a proporção de professores do sexo masculino na rede estadual, que fica em torno de 20%.
Quem são
Chapa 1: Rejane de Oliveira
Professora de alfabetização, entrou na rede estadual em 1982. Atual presidente do Cpers, integra a corrente A CUT Pode Mais, uma ala rebelde da central. Ocupa também a vice-presidência da CUT-RS. Filiada ao PT, tem apoio das centrais CSP-Conlutas e Intersindical, que contam com militantes do PSTU e PSOL, além da corrente partidária Movimento Esquerda Socialista, da ex-deputada Luciana Genro (PSOL). Também é apoiada pelo Sindicalismo Socialista Brasileiro. Afirma que a mobilização dos professores e o espírito combativo impediram a perda de direitos da categoria. Promete intensificar a luta pelo pagamento do piso.

Chapa 2: Helenir Oliveira
Professora de Português, atua no Estado desde 1987. Participa do grupo Articulação Sindical, corrente do Cpers e da CUT. Filiada ao PT, é apoiada por diversas tendências internas petistas com inserção sindical, como Democracia Socialista, Articulação pela Esquerda, PT Amplo, Unidade na Luta, Socialismo 21 e O Trabalho. Também conta com suporte da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e de setores do PDT e do PTB. Discorda de fazer greves sem que haja adesão maciça dos professores e propõe a discussão do uso de royalties do petróleo para garantir o pagamento do piso nacional.

Chapa 3: Neida de Oliveira
Professora de Português, ingressou na rede estadual em 1987. Atua no grupo Construção Socialista, que atua como corrente de militância sindical. Não tem filiação partidária. Conta com apoio do grupo do professor Clóvis Oliveira, referência no Cpers, e de correntes como a Unidade Classista, vinculada ao PCB, Bloco de Resistência Socialista, Unidos para Lutar e quadros do PSOL. Entre as propostas estão a desfiliação do Cpers da CUT e o fim do presidencialismo, instituindo uma direção colegiada. Também prega a retomada das grandes mobilizações e o tempo máximo de duas gestões para dirigentes sindicais.


O que pensam as candidatas sobre diferentes temas
Gestão do Cpers
Rejane de Oliveira: Vamos continuar independentes em relação a governos e partidos. Não vamos abrir mão daquilo que a categoria conquistou e intensificaremos a luta. Achamos que a disputa caiu na má política. Nossa pauta é em cima do patrão, porque ele ataca os direitos dos trabalhadores.
Helenir Oliveira: Teremos o grande desafio de resgatar o crédito do sindicato com a categoria. Há muitos colegas se desfiliando, por isso quero uma direção que escute a base e não privatize o sindicato. Visamos ao avanço da nossa categoria, sem preocupação político-partidária.
Neida de Oliveira: Tratamos de um programa para arrumar a casa e retomar a força da nossa mobilização. Defendemos o fim do presidencialismo e do continuísmo na direção do sindicato. Hoje, as pessoas trocam de cargo e permanecem 12 ou 13 anos à frente do Cpers.
Katiana Pinto dos Santos: Nossa proposta é de um sindicalismo desatrelado do Estado e controlado pelos trabalhadores de base. Estamos pautando a perspectiva de construir o Cpers a partir de núcleos por escolas, com assembleias por local de trabalho e fortalecendo os representantes de escolas.
Vinculação à CUT
Rejane de Oliveira: Eu hoje estou na CUT porque o Cpers é filiado à CUT. Nem a presidente, nem a direção, nem as chapas podem desfiliar o sindicato da CUT. Quem pode é a categoria, nas instâncias da entidade. Quando a categoria decidir que não quer ficar, toda a direção terá de acompanhar.
Helenir Oliveira: Tentam puxar a discussão de campanha para a filiação à CUT para fazer cortina de fumaça e impossibilitar o debate real, que é sobre a gestão do Cpers. Isso (a crítica à CUT) é uma tábua de salvação para ver se conseguem enganar a categoria.
Neida de Oliveira: A desfiliação da CUT é uma reivindicação de muito tempo. Para que a categoria volte a se mobilizar, precisa confiar no sindicato. Essas desconfianças que existem são semeadas por causa dessa confusão que a CUT faz ao defender mais os governos que a categoria.
Katiana Pinto dos Santos: A CUT e a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) sabotam nossas lutas e greves, fortalecendo o governo na retirada de direitos da categoria. No passado, foram representativas, mas quem participa hoje de suas instâncias são apenas as cúpulas sindicais.
Relação com o governo
Rejane de Oliveira: Qual foi a entidade que teve coragem de enfrentar o governo Tarso? Ninguém tem dúvida de que foi o Cpers. A prática é o critério da verdade. Fomos a única entidade capaz de enfrentar publicamente o governo Tarso.
Helenir Oliveira: Não vamos fazer oposição a governos porque isso não é papel de um sindicato, mas de partido político. Sindicato existe para buscar avanços para sua categoria. A minha postura como sindicalista será a mesma em relação a qualquer governo.
Neida de Oliveira: O governismo está dentro do sindicato. Quando entrei no Cpers, os dirigentes do sindicato se desfiliavam dos partidos que atacavam direitos da categoria. Agora, não: o partido ataca os trabalhadores, e as pessoas continuam filiadas.
Katiana Pinto dos Santos: A gente ouve muitas queixas dos colegas dizendo que o Cpers é um trampolim político, que muitos ex-dirigentes assumem cargos nos governos. Defendemos um Cpers independente de governos e de partidos, e não apenas nos discursos.
*Colaborou Carlos Rollsing