Fiel seguidor da igreja pentecostal Brasil para Cristo, Salviano de França se agarra na religião para se manter em pé. Seu mundo desabou sexta-feira passada, quando foi avisado no serviço que sua enteada, Kálita Roque, 14 anos, tinha se matado.
Ela foi encontrada em casa, em Gramado, dentro de um roupeiro. A suspeita da Polícia Civil é que tenha firmado pacto com outros adolescentes para cometer suicídio. Uma garota, moradora de Canela e com 15 anos de idade, também se matou. Os demais chegaram a tentar, mas não consumaram a morte. A garota de Canela também era evangélica, mas seguidora de outra igreja.
Mortes de adolescentes são investigadas em Gramado e Canela
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Kálita estudava em uma escola de Gramado. O Facebook do colégio está repleto de mensagens pesarosas sobre a morte de Kálita. Nesta entrevista por telefone, Salviano - que atua como supervisor operacional numa lavanderia - descreve a rotina da filha e revela sua surpresa com o trágico desfecho de Kálita:
Zero Hora - O senhor sabe por que a Kálita se matou? Ouviu falar num pacto com outras garotas?
Salviano de França - Só sei especulação de que se combinaram. A Polícia falou nisso. Eu via o Face da Kálita, a mãe dela tinha a senha, nunca vimos algo anormal. Pelo contrário. Era uma guria com sonhos, sempre alegre e com sorriso no rosto. Falava em ser jornalista ou professora. Estava louca de vontade de viajar. Faria 15 anos agora, em 1º de novembro, e trocou a festa por uma viagem a Israel. Queria conhecer os lugares por onde Jesus passou. Era muito religiosa.
ZH - Ela e as outras garotas frequentavam a mesma igreja?
França - Que eu saiba, ela nem conhecia as outras garotas, nem a que morreu em Canela. Sei que a outra menina morta era evangélica também, ligada a outra igreja. Nós frequentamos a Brasil para Cristo. A Kálita toca baixo - tocava, custo a me acostumar - e cantava no coral.
ZH - Ela tinha namorado?
França - Não. Não está em idade de namorar e sabia disso, a gente sempre alertava. Vivíamos numa família feliz, eu, ela e a mãe dela. Quando chegasse a hora, ela teria permissão para namorar, mas agora era tempo de estudar. Fico pensando o que deu nela e nas outras meninas...
