
A noite de comemoração de um aniversário se transformou em um pesadelo para a família de Gabriel da Silva Kruger, sete anos. Vítima de atropelamento enquanto brincava na calçada, o pequeno teve o pé mutilado, três costelas quebradas e o pulmão perfurado.
O cenário relatado à família pelos médicos que cuidam de Gabriel é pouco animador: o menino passou parte da noite em coma e segue em estado gravíssimo. Por isso, mais intenso que o desejo de Justiça em relação ao motorista responsável pelo atropelamento, um policial militar, pulsa na família o anseio de ver o menino recuperado.
- Só queremos que ele escape dessa. É nossa prioridade - relata o tio do menino, Edson Vander Sieben, 42 anos.
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Ele estava com o sobrinho na festa de aniversário de um primo do menino e testemunhou o acidente. Para o garçom, é difícil deglutir a informação de que o pequeno foi atropelado em um lugar onde deveria estar seguro, a calçada, e por um profissional que deveria zelar pela sua segurança, um policial.
- Esse cidadão tinha de dar exemplo. Quem que não vai se revoltar? Queremos que ele responda na Justiça pelo que fez - afirma.
Gabriel foi atropelado pelo soldado Endrigo Petter, que atualmente estava afastado do trabalho - recebeu uma licença médica por problemas psicológicos e por ser submetido a um conselho disciplinar. O militar dirigia pela Rua Maris de Barros, no Centro de Palmeira das Missões, no norte do Estado, quando perdeu o controle do veículo e invadiu a calçada, por volta das 21h30min de domingo.
Conforme Sieben, o veículo passou por cima de Gabriel e ainda atingiu outras duas pessoas, uma gestante e uma menina. Gabriel teve o pé direito arrancado, da canela para baixo, e desmaiou.
- O carro veio em alta velocidade e invadiu a calçada no sentido contrário - contou Sieben.
Gabriel foi socorrido por um morador batizado com o mesmo nome de anjo que possui, e encaminhado ao hospital do município. As pessoas que estavam na festa, segundo Sieben, tentaram linchar o policial.
- Iriam bater nele, mas não deixei. Queria que ficasse no local até a polícia chegar, mas fugiu. Depois, acho que foram atrás dele - relata o tio do menino.
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A mãe de Gabriel ficou muito abalada e teve de tomar calmantes. O menino foi atendido no município e também foi transferido ao hospital de Passo Fundo na madrugada, onde segue internado no CTI Pediátrico.
Sieben ainda conta que Gabriel adorava jogar futebol e teria ganho uma medalha no último final de semana, por uma vitória com o time da escola onde cursa o segundo ano do Ensino Fundamental. Caçula da família, ele mora com a mãe, uma irmã e o padrasto.
Agredido por moradores, policial teve prisão decretada
Após o atropelamento, o soldado foi agredido por moradores da cidade com chutes e socos por todo o corpo e ferido por um golpe de facada o abdômen. Ele foi atendido no hospital do município. Durante a noite, segundo a BM, quase 300 pessoas tentaram invadir o local para linchar o soldado. Na madrugada desta segunda-feira, ele foi encaminhado ao hospital de Passo Fundo, de onde teve alta por volta das 16h.
Pela manhã, o policial teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Conforme a Polícia Civil, o pedido foi encaminhado porque há a suspeita de que o soldado tenha dirigido embriagado, o que causou revolta popular.
- Ouvimos três testemunhas que relataram que ele tinha sinais de embriaguez - afirma a delegada Cristiane Van Riel Santos.
O policial foi submetido a um exame de sangue, que apontará se ingeriu bebida alcoólica antes de dirigir. Não há previsão de data para a divulgação do resultado, segundo a polícia. Cristiane relata que o soldado pode responder pelos crimes de lesão corporal ou tentativa de homicídio. O inquérito que investiga o acidente deve ser concluído em até 10 dias.
Após deixar o hospital, o policial foi encaminhado ao 3º Regimento de Polícia Montada da BM, em Passo Fundo, onde permanecerá detido. O advogado de defesa do soldado, Sílvio Martins Pinto, afirmou que ele tentou socorrer a vítima, mas teve de fugir do local, pois levou uma paulada na cabeça. Em seguida, ele correu em direção à delegacia, com objetivo de avisar a polícia do acidente, mas foi atacado no caminho por moradores. Ferido, ele correu ao hospital.
Pinto relatou que o policial não se manifestará sobre as circunstâncias do acidente antes de prestar depoimento à Polícia Civil. Ele deve ser ouvido na quinta-feira.