O trágico compositor popular Assis Valente compôs uma marchinha que encantou durante 10 anos o Brasil (anos 40) e ainda provoca fascínio entre os que porventura a ouçam. É fantástica:
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar.
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar.
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel.
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel.
Já faz tem que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.
***
É uma das belas páginas do cancioneiro brasileiro esta simples e singela marchinha em que Assis Valente demonstra um talento sem fim, a letra da música é de uma simplicidade própria das grandes obras. Fantástico. Quem tem mais de 50 anos se lembra das rádios executando nas proximidades do Natal esta música. E hoje ainda muita gente se debruça sobre a música e a melodia que revivem uma das principais lendas da humanidade: o Papai Noel.
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Este Assis Valente, autor de várias músicas lendárias do repertório nacional, entre elas Camisa Listada e Brasil Pandeiro, teve uma existência trágica. Cansava de andar pelas ruas do Rio Janeiro em farrapos e as pessoas o evitavam porque sabiam que ele iria mendigar-lhes dinheiro para comprar cocaína. Ele tentou seis vezes o suicídio para valer. Na primeira vez, atirou-se de um abismo de quase 800 metros, no Corcovado. Antes que completasse 80 metros, diante de populares, bombeiros e policiais que acorreram ao ato chamados pela curiosidade ou pelo dever, aconteceu um fato quase sobrenatural: Assis Valente teve interrompida sua queda suicida por uma árvore que milagrosamente acolheu-o em sua copa, de onde foi retirado somente seis horas depois.
***
Na sexta vez em que tentou o suicídio acertou na mosca, ou melhor, no rato, ele bebeu veneno raticida e morreu. Ele, o grande poeta popular dos dentes alvos, que como garoto tinha fugido com um circo e como homem não conseguia fugir da morte que tanto o seduzia. Está sendo editada a sua biografia por Gonçalo Jr., da Editora Civilização Brasileira. Vale a pena lê-la.
Opinião
Paulo Sant'Ana: Assis Valente, um gigante
O colunista escreve às segundas, quartas, sextas, sábados e domingos em ZH
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