Vejam o caso da bela garota que anda costurando na carona da moto de seu namorado entre os carros do trânsito enlouquecido.
Seu namorado não possuía dinheiro para comprar um carro e tinha de dar a ela o prazer de transitar por toda a cidade. Lembrou da moto e propôs a ela que aceitasse o tremendo risco de ser transportada na carona, daqui para ali, de lá para cá, correndo o risco de morrer todos os dias.
Ela topou e andam de moto pela cidade dois presuntos vivos. Daí a pouco, a moto baterá ou entrará em queda e lá se vão duas vidas prometedoras.
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Eu estou com essa menina: sem transporte é que ela e o namorado não podiam ficar.
E eles vão, na verdade, enquanto sua moto não bate ou não entra em queda, sendo felizes. E privilegiados: não ficam atrás de nenhuma fila de carros e lá se vão, costurando o destino entre os automóveis.
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Existe um outro privilégio para eles: não gastam em quase nada de combustível, a moto consome muito pouco. Na verdade, a moto consome muito são vidas no trânsito.
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Mas é preciso ter coragem para ser feliz: ela e seu namorado arriscam a vida dezenas de vezes por dia no trânsito.
Num mês, são centenas de vezes em que arriscam suas vidas. Num ano, são milhares. E só sobreviverão se contrariarem a lei das possibilidades, do jeito que arriscam a vida, dali a pouco baterão com sua moto.
Isso é fatal e acontece com milhares de motoqueiros e namoradas nas caronas de sua motos.
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Nem sei se nas motos são empregados cintos de segurança. Se existem, de que adiantariam?
Esses dias, vi um motoqueiro, presumivelmente casado, com sua mulher na carona, e no colo a mulher carregava um bebê.
Ou seja, o bebê nem tem consciência do risco que corre, mas a mulher e o motoqueiro sabem do risco que correm. E aceitaram o risco.
O diabo é que o bebê nem foi consultado.
É uma loucura o trânsito de motos. E, se as autoridades não o permitissem, estariam sendo atrabiliárias. Só elas é que podem ser transportadas em seus confortáveis carrões?
Não, todos têm direito à morte, mais ainda os motoqueiros.
Opinião
Paulo Sant'Ana: o risco das motos
O colunista escreve às segundas, quartas, sextas, sábados e domingos em ZH
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