
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta terça-feira (12), o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo negou o conteúdo da conversa entre o empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud, da JBS, divulgado na semana passada. No áudio, os dois afirmam que Cardozo recebia propina da JBS e que tinha o Supremo Tribunal Federal (STF) "na mão" .
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— Como advogado de Dilma Rousseff, se eu tivesse o Supremo na minha mão, ela seria presidente da República até hoje, porque eu teria ganho a causa (no impeachment) — declarou o ex-ministro.
Cardozo também afirmou que nunca recebeu dinheiro oriundo de supostos contratos fictícios firmados entre a JBS e o escritório do advogado Marco Aurélio Carvalho, hoje seu sócio, como levantado no diálogo entre Joesley e Saud.
Veja os melhores trechos
Joesley Batista disse ao MPF que mantinha um contrato fictício de prestação de serviços para manter boa relação com o senhor. O pagamento, disse Joesley, se dava por meio do escritório de Marco Aurélio Carvalho, que emitia mensalmente notas de R$ 70 mil ou R$ 80 mil para contratos fictícios. Ele disse ainda que parte do dinheiro ia para o senhor. É verdade?
O que ele disse é que o advogado Marco Aurélio dizia que (o dinheiro) iria para mim, e que ele (Joesley) não sabia se realmente chegava. É uma história bastante fantasiosa. Na época desses fatos, o Marco Aurélio tinha um escritório com seu pai, que era um tributarista famoso. E ele prestava serviços para a JBS. Eu nem era sócio desse escritório. A delação premiada, quando veio, relatava que o contrato seria fictício e que eu não saberia de nada. Isso está claro nas palavras do Saud, é só olhar o anexo dele. (Diz) Que eu não sabia de nada, que era fictício, que fora contratado um pacote de bondades para evitar qualquer problema. É um verdadeiro absurdo.
Indaguei o Marco Aurélio, que hoje, sim, é sócio de um escritório que eu participo, e ele me mostrou que é até hoje advogado da JBS, tem ações que cuida, pareceres... É um trabalho por ele prestado. Na época isso não teve nenhuma repercussão, porque o Saud disse que eu não fazia absolutamente nada, que eu sempre atendia bem todo mundo, que eu nem sabia que o Marco Aurélio havia sido contratado por eles e que na renovação ele pediu para o Marco Aurélio me levasse, e ele nunca me falou nada. Obviamente o Marco Aurélio nunca me fez nenhum pleito em nome da empresa (JBS). Isso é uma história fantasiosa que a gente é obrigado a suportar por estar no exercício da vida pública.
Em um dos áudios, ministro, há um diálogo que diz: "Quer pegar o Supremo? Pega o Zé". Inclusive falam que têm gravações com o senhor. Há alguma gravação?
Absolutamente, não. Recentemente, nosso escritório foi chamado para pegar uma causa deles (da JBS). Como eu disse, o Marco Aurélio até hoje é advogado deles em algumas causas. Eles pediram que eu fosse porque queriam me consultar sobre advogar em causas que eles estavam sendo investigados. Descubro agora que ele gravou essa conversa, com uma intenção clara de montar uma armadilha para me pegar em alguma coisa e atingir o Supremo.
O senhor sabe alguma coisa sobre ministros do Supremo?
Absolutamente nada. Inclusive ele chega a dizer, e agora desmente, que eu disse que tinha um ministro do Supremo na minha mão. Claro que não tenho. Como advogado de Dilma Rousseff, se eu tivesse o Supremo na minha mão, ela seria presidente da República até hoje, porque eu teria ganho a causa.
A seu favor, ministro, depõe o próprio PT. Segundo consta, o senhor foi criticado porque não interferia no andamento da Lava-Jato.
Eu era criticado por todos os partidos.
O senhor conviveu nas entranhas do poder. Até que ponto era promíscuo o relacionamento de empresários com o poder?
O sistema político brasileiro gera esse tipo de relação. Uma das coisas mais acertadas que tomei na minha vida foi não participar mais de eleição. Como advogado eu já fui gravado, nunca imaginei isso. Ser gravado por um cliente? Ter que ficar me explicando, é um desestímulo para qualquer cidadão participar da vida pública nessas condições.
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