Porto Alegre

Entrevista

Rajendra Pachauri: "O Brasil é um dos exemplos mais importantes"

Cientista de órgão oficial da ONU elogia as ações do país e diz que o momento é de oportunidade para combater as mudanças climáticas

Marshall Niles / Wikicommons
O cientista indiano Rajendra Pachauri, Presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da Onu, no Fórum de Koli, na Finlândia

Presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão da ONU que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2007 pelo trabalho de construir e disseminar conhecimento sobre as alterações causadas por ação humana, o cientista indiano Rajendra K. Pachauri teria evidências de sobra para fazer um discurso pessimista sobre o futuro do planeta. Mas prefere destacar a oportunidade única que o mundo tem agora de impedir que as piores previsões se cumpram - e destaca o Brasil como um exemplo a ser seguido pelas medidas que tem adotado. Confira a seguir a entrevista, concedida ao PrOA por e-mail:

LEIA MAIS

>>> Por que se tornou impossível ignorar as mudanças climáticas

>>> Entrevista: Gregory Tasian explica como as mudanças do clima afetam a saúde da população 

O senhor disse que ninguém no planeta ficará intocado pelo impacto das mudanças climáticas. Na sua opinião, qual o principal risco ignorado?
Rajendra K. Pachauri
- O grande risco que enfrentamos é a falta de ação. Temos a tecnologia para desacelerar as mudanças climáticas. O risco é não usarmos isso e continuarmos a seguir com a queima de combustíveis fósseis, a implementação de políticas danosas de uso da terra, que contribuam para a mudança climática, e a usar energia de forma ineficiente. Quanto mais o clima for modificado, maiores riscos iremos enfrentar. Magnitudes de aquecimento aumentam a probabilidade de impactos graves e generalizados, que podem ser surpreendentes ou irreversíveis. E, quanto mais esperarmos para agir, mais caro será para evitar os piores impactos. A mudança climática já está tendo um impacto, e esses impactos são um prenúncio do futuro se não agirmos para reduzir e, finalmente, eliminar as emissões de gases que causam o aquecimento global. Esses impactos já afetaram a agricultura, a saúde humana, os ecossistemas em terra e nos oceanos, abastecimento de água, e os meios de vida de algumas pessoas. E estão ocorrendo a partir dos trópicos para os polos, de pequenas ilhas aos grandes continentes e dos países mais ricos aos mais pobres. No entanto, são os países mais pobres que mais sofrem com as mudanças climáticas absolutas.

O IPCC mostra com 95% de certeza que a influência humana foi a causa predominante do aquecimento observado desde meados do século 20 - e prevê que as temperaturas podem se elevar a 4,8ºC até o fim do século. Qual a primeira ação para evitar isso?
Pachauri
- Não há uma primeira ação. Há muitas ações que precisam ser tomadas ao mesmo tempo em todo o mundo. Felizmente, algumas já estão em andamento por parte dos governos locais e nacionais e do setor privado. Por exemplo, metade de toda a nova capacidade de geração de energia elétrica em 2012 veio de energia renovável. Estamos fazendo progressos, mas precisamos pegar o ritmo. É evidente que precisamos acelerar o nosso uso de energia renovável. Nós também nos beneficiaríamos de um acordo global vinculativo em 2015 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Como convencer os países a se adaptarem e a mitigarem esses efeitos, apesar de tantos diferentes interesses políticos e econômicos em jogo?
Pachauri -
A missão do IPCC é fornecer aos gestores políticos informações objetivas sobre a mudança climática. Essa informação é retirada de milhares de trabalhos de pesquisa, escritos por profissionais líderes de todo o mundo. Ela representa um dos empreendimentos mais ambiciosos da história da ciência. Temos esperança de que as informações que fornecemos irão instruir a discussão política sobre como responder às mudanças climáticas. Há muitos avanços para comemorar, como resultados da crescente conscientização sobre as mudanças climáticas, com base na quantidade extraordinária de informação científica. O custo da energia renovável caiu, enquanto a eficiência dos dispositivos de energias renováveis aumentou. A China, maior contribuinte mundial para as emissões de gases do efeito estufa, está avaliando um limite obrigatório para o uso de carvão, e os Estados Unidos estão tomando medidas para reduzir a poluição de carbono. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos de todo o mundo que me dão esperança de que vamos tomar as medidas necessárias para deter a mudança climática.

Que boas práticas o senhor destacaria no mundo para inspirar outros países?
Pachauri
- O Brasil é claramente um dos exemplos mais importantes do mundo quando se trata de combater a mudança climática, e vocês devem ser elogiados - e copiados. Vocês têm mostrado ao mundo que é possível reduzir os impactos das mudanças climáticas sem consequências drásticas para a economia. Estou falando, claro, sobre a política brasileira para reverter o desmatamento. Como usamos a terra, especialmente a forma como tratamos nossas florestas, tem uma grande influência sobre as mudanças climáticas, porque as plantas absorvem o carbono que de outra forma aquece a nossa atmosfera. E o Brasil reduziu seu desmatamento em 70%. Este é um resultado muito tremendo e significa esperança, servindo como um guia para o resto do mundo.

Qual a sua expectativa para a próxima década?
Pachauri
- Esta é uma questão muito difícil de responder, mas espero que os governos de todo o mundo possam chegar a um acordo climático obrigatório em Paris no ano que vem. Espero que aceleremos rapidamente o nosso uso de energia renovável e sigamos os tipos de medidas que o Brasil tem tomado para reduzir drasticamente o seu impacto sobre o clima. Estou confiante de que a consciência sobre a mudança climática continuará a aumentar e que, com essa consciência, teremos apoio crescente para as ações.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Hoje nos Esportes

17:30 - 18:50