Foto: Ricardo Duarte, Agência RBS

Transitar pela rodovia Sapucaia do Sul-Viamão (ERS-118) é um verdadeiro teste de paciência para os motoristas. Além de enfrentar uma série interminável de buracos e sofrer com a sinalização precária, os usuários da via ainda convivem com uma espera de oito anos pela duplicação de um trecho de 22 quilômetros.
Considerada uma das principais rotas econômicas da Região Metropolitana, a rodovia teve a ordem de início da obra assinada em 2006 e já contou com um investimento de R$ 75 milhões. Mesmo assim, apenas dois quilômetros foram duplicados.
A obra compreende um trecho que liga Sapucaia do Sul a Gravataí, passando por Esteio e Cachoeirinha. Além dos dois quilômetros já duplicados, José Thadeu Almeida, servidor da Secretaria-Geral do Governo (SGG) responsável pelo gerenciamento da obra, afirma que o governo finalizará a duplicação de mais 16,5 quilômetros até dezembro. Apesar do atraso histórico, Almeida explica que esse trecho está com 70% das obras concluídas.
Já os 3,5 quilômetros que ainda precisam ser duplicados só devem ser finalizados em 2015. O motivo para a demora da obra no trecho, conforme Almeida, é a necessidade de fazer a reintegração de posse da área, ocupada por cerca de 200 famílias.
- Já negociamos o reassentamento da maioria das famílias, mas 70 ainda insistem em ficar no local - afirma o servidor.
Antes do início das obras, cerca de mil famílias residiam às margens da ERS-118, no trecho que compreende a duplicação. Conforme Almeida, 800 já foram encaminhadas para outras moradias, com ajuda do Aluguel Social, e serão reassentadas.
- Não é uma obra simples, pois não se pode colocar uma patrola e ir empurrando todo mundo. Tem de ser um trabalho organizado, com visão social - explicou o governador Tarso Genro, quando visitou as obras na última semana.
Uma obra a conta gotas
O fato de ter passado por três governos diferentes e ter sido licitada em partes acabou atrasando a obra, na avaliação de Almeida. Um dos motivos foi a constante readequação do projeto.
- O projeto inicial era quase uma relíquia. As cidades se desenvolveram ao redor da rodovia e tivemos de fazer várias adequações - relata o servidor.
Houve ainda problemas com as empresas, como atraso no fornecimento de material e falta de mão de obra. A existência de mais de mil famílias às margens do local e a lentidão do processo de reassentamento também contribuíram para a demora.
Na linha do tempo, confira os passos dos governos para duplicar a rodovia:
Conforme dados da SGG, o atual governo investiu R$ 59 milhões na obra, que já havia recebido R$ 16 milhões da gestão anterior. Este ano, o orçamento total executado na construção deve ultrapassar os R$ 100 milhões.
- Hoje a obra está em ritmo acelerado, mas não é a realidade do início de nosso governo, principalmente por causa das reintegrações de posse - explica o secretário de Infraestrutura e Logística do Estado, João Victor Domingues.
Além da duplicação da pista, o projeto compreende a construção de seis viadutos, uma ponte e 14 passarelas. Dois dos viadutos estão concluídos, dois estão em obras e dois devem ter as obras licitadas em breve, assim como a ponte. Já as 14 passarelas ainda aguardam a licitação para a elaboração do projeto arquitetônico - ou seja, a obra só poderá ser licitada após a conclusão do projeto. Não há previsão de entrega dessas estruturas.
Também estão previstas quatro intervenções no projeto da duplicação. Uma delas é construir um acesso lateral em uma área de 15 metros que hoje pertence a um cemitério de Sapucaia do Sul. Almeida explica que terão de ser retirados cerca de 300 corpos do local, que devem ser encaminhados a outro cemitério. As outras intervenções envolvem a retirada de pontos comerciais das margens da rodovia, a transposição de dutos da Transpetro e o reassentamento de famílias que residem no Morro do Coco, em Gravataí.
No mapa, veja como estão as obras de duplicação da rodovia:
Buracos causam lentidão e acidentes
Para o coordenador da Comissão de Infraestrutura do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Estado (Setcergs), Frank Woodhead, a espera pela duplicação é um "descalabro".
- A ERS-118 é uma via importante para a economia gaúcha, pois liga cidades com muitas indústrias. A duplicação deveria ser prioridade. Não entendemos como uma obra em um trecho pequeno possa demorar tanto.
Enquanto passa por obras, a rodovia segue em mau estado de conservação, o que coloca em risco a vida dos usuários. Conforme o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), é comum que os motociclistas sofram acidentes por causa dos buracos. Outro problema são os atropelamentos no trecho de Sapucaia do Sul, onde há apenas duas passarelas. Desde 2010, foram registrados 1,4 mil acidentes na rodovia, que deixaram 1,2 mil pessoas feridas e 44 mortos, conforme dados do CRBM.
- Quando não há acidentes, há prejuízo para os motoristas. Os buracos podem danificar os veículos e causam congestionamentos - acrescenta Woodhead.

Segundo o CRBM, nos horários de pico, que vão das 8h às 9h e das 18h às 20h, há trechos da rodovia em que os motoristas têm de transitar a 30 km/h. O soldado Mauricio Espindola, do Grupo Rodoviário de Gravataí, relata que o aumento do fluxo de caminhões e a má conservação da pista contribuem para tornar o trânsito cada vez mais lento. Ele explica que, devido aos buracos, os motoristas dos veículos mais pesados têm de reduzir a velocidade, o que acaba trancando o trânsito.
- Como a rodovia tem pista simples, fica difícil para os motoristas dos carros ultrapassarem os caminhões, o que forma congestionamentos - completa Espindola.
Segundo o soldado, a duplicação dará mais fluidez ao trânsito.
No infográfico, confira o número de acidentes nos últimos quatro anos: