O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), foi duro ao justificar as ordens de prisão que emitiu contra dois dirigentes da empresa de beneficiamento de carnes J&F e sua maior companhia, a JBS. Foi ordenada a prisão temporária de Joesley Batista (fundador da empresa) e seu gerente Ricardo Saud, ambos colaboradores premiados da Lava-Jato.

"São múltiplos os indícios, por eles mesmos confessados, de que integram organização voltada à prática sistemática de delitos contra a administração pública e lavagem de dinheiro. A prisão temporária, quanto a eles, como requerida pelo MPF, é medida que se impõe...", diz trecho do despacho de Fachin.
Joesley e Saud tinham escapado da prisão, até hoje, porque realizaram delação premiada na qual revelam pagamento de suborno a dezenas de políticos brasileiros - incluindo o presidente Michel Temer (PMDB), que foi gravado por Joesley numa conversa em que teria indicado um colaborador para receber uma mala de R$ 500 mil.
O problema é que Joesley e Saud não teriam revelado tudo que sabem. Mais: em conversa entregue pela própria defesa da JBS, Saud e Joesley falam sobre a suposta interferência de um procurador da República, Marcello Miller, para ajudar nas tratativas de delação premiada. No diálogo, os dois dirigentes da JBS, entre drinques, comemoram a possibilidade de saírem livres após a delação e combinam versões que seriam apresentadas à Procuradoria da República.
Ao escutar os diálogos, Fachin teve certeza de que os colaboradores da JBS omitiram dados. "Em princípio, eles vinham recebendo ilegal do então Procurador da República Marcello Miller. Tal atitude permite concluir que, em liberdade, os colaboradores encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios, os quais se comprometeram a entregar às autoridades em troca de sanções premiais, mas cuja entrega ocorreu, ao que tudo indica, de forma parcial e seletiva", justifica o ministro do STF, ao decretar as prisões.
Com relação ao procurador Miller, Fachin considera que há indícios de exploração de prestígio e possível obstrução das investigações, mas não de ocultação de provas. E, por isso, o ministro não pediu a prisão dele.
O problema acontecerá daqui a cinco dias, quando vencer a temporária. Os dirigentes da JBS serão soltos? Soará como deboche perante a população. Terão transformada a prisão em preventiva? Com que argumento?
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