
Há prédios e monumentos que mexem com o imaginário da população de Porto Alegre. Um exemplo é o Centro Administrativo Fernando Ferrari, próximo ao Monumento aos Açorianos, cujo formato já inspirou em crianças e jovens o sonho maluco de descer a rampa gigante de skate. Pois há também quem veja possibilidade de dar movimento a um dos símbolos do bairro Moinhos de Vento: o moinho que fica junto ao lago artificial do Parcão.
A ideia é que as pás do equipamento voltem a girar. Muitos desconhecem ou não se lembram, mas o moinho já teve movimento, por um breve período. De acordo com a assessoria de imprensa da Smam, responsável pela administração de praças e parques, as pás do moinho funcionaram por um período de cerca de um ano após a conclusão das obras, no início dos anos 80.
- Tive essa ideia já faz uns dois anos, em uma reunião do Rotary Moinhos. Não gosto de ver as coisas quebradas e paradas. Eu, pessoalmente, nunca vi funcionando, mas falam que já funcionou. E todos ficam de olhos arregalados ao saber disso - conta Hanneman Nobre-Vieira.
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Sociólogo por formação, Hanneman quer fazer a ideia sair do papel, com apoio do Rotary Moinhos de Vento, grupo que preside atualmente. No ano passado, buscaram informações junto à Smam para saber sobre a possibilidade e viabilidade do plano de devolver as rotações ao moinho. Moinho é uma das atrações do Parcão
Foto: RICARDO STRICHER, PMPA, DIVULGAÇÃO
- A prefeitura disse que teria de ter um motor, e alguém para ligá-lo e desligá-lo, o que seria uma dificuldade operacional. Gostaríamos que funcionasse pelo menos aos domingos de manhã, pois as pessoas já tiram muitas fotos lá, mesmo com a estrutura parada. Essas coisas são atrações turísticas. Levariam mais pessoas ao parque - argumenta Hanneman.
Morador da Rua Doutor Timóteo, o rotariano lamenta que a ideia não tenha sido implementada antes da Copa do Mundo:
- A Holanda, um país conhecido por seus moinhos, ficou hospedada aqui. E poderia ter visto um belo moinho em movimento em um parque no meio de Porto Alegre.
- Acho que ficaria bonito. O Rotary já recuperou vários monumentos do Parcão. Temos interesse na preservação e melhoria do parque - comenta Paulo Meinhardt, 76 anos, engenheiro aposentado e morador da Rua 24 de Outubro que chegou a visitar o sótão do moinho para ver se o projeto era viável.
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A ideia também é apoiada pelo médico José Valdaí de Souza. Em 2012, ele passou a sugestão à reportagem de Zero Hora. À época, ele morava próximo ao Parcão, e costumava caminhar por lá.
- Nunca vi o moinho girar. É uma pena que as pás fiquem paradas. Se as pontas alcançassem a água, poderiam oxigenar o lago, tornando-o mais limpo. Além disso, daria um brilho ao parque. Todos que escutaram a minha ideia gostaram - lembra o médico, que hoje mora na Avenida Carlos Gomes e, pela proximidade, optou por caminhar na Praça da Encol.
Um moinho que não mói
O projeto do moinho instalado no Parque Moinhos de Vento é de 1982, de autoria do arquiteto Antonio Maineri. Conforme o projeto descritivo de então, foi escolhido "um moinho do tipo fixo de pedra, por ser o modelo mais alto, tirando-se daí o seu aproveitamento visual".
De acordo com a assessoria de imprensa da Smam, "originalmente, a fim de se simplificar a mecânica de funcionamento e os custos, foram previstas alterações no projeto de um moinho propriamento dito, já prevendo-se um sistema de trava às pás e a extinção do equipamento de moagem. No item 10 do projeto original, a descrição das pás do moinho especifica que tratam-se de objetos de detalhe, de efeito visual".
No período de aproximadamente um ano em que funcionou, o sistema mostrou -se inadequado por causa do tamanho das pás, não dimensionado corretamente. Elas adquiriam velocidade alta demais, estimuladas pelo vento, tornando o sistema perigoso. Em razão disso, optou-se por fixar a estrutura, como medida de segurança e mantendo a estética do moinho, como está até hoje, com uma espécie de "travão", já constante no projeto original.
A Smam informou que a sugestão de que as pás girem pode ser implementada. "Para isso, seria preciso um novo projeto, de forma a garantir que as pás girem em velocidade constante e não impulsionadas pelo vento. Isso equivaleria a instalar um motor no moinho. Não há verba prevista para projeto nem para execução", explica a secretaria.

A origem do nome Moinhos de Vento
Por volta de 1818, Antônio Martins, conhecido como "Barbosa Mineiro" instalou moinhos na via que passou a ser chamar Estradas dos Moinhos de Vento. De acordo com o livro Moinhos de Vento - Histórias de um Bairro, de Carlos Augusto Bissón, essas estruturas de moagem de trigo permaneceram ali até 1836, "quando houve determinação militar imperial de que fossem derrubados para não se prestarem como ponto de tiro alto sobre a cidade por ocasião do cerco dos farroupilhas. Os moinhos foram esquecidos, mas o nome ficou".
Em 1857, a Câmara de Vereadores decidiu trocar o nome da Estrada do Moinhos de Vento para Independência. A antiga denominação foi transferida para um de seus prolongamentos - a atual 24 de Outubro. "No final do século XIX, a Estrada virou Rua Moinhos de Vento. A ocupação do bairro do mesmo nome, entretanto, seria lenta", descreve Bissón.