Porto Alegre

Saúde pública

Como uma doença se torna surto ou epidemia?

Dose que imuniza adultos e crianças contra os quatro tipos da doença pode custar até R$ 285 em clínicas particulares

Porto Alegre não vive um surto de meningite, como garantem a prefeitura e profissionais da saúde que trabalham em hospitais da Capital. Mesmo assim, existe uma preocupação, potencializada pelas redes sociais, de que a doença se espalhe e saia do controle. Relatos de casos fatais - reais ou não -, compartilhados pelo Facebook, geraram, nos últimos dias, uma procura intensa por clínicas que aplicam doses de duas vacinas contra meningite - a quadrivalente, que custa em média R$ 285, e a meningocócica C, cujo valor aproximado é de R$ 170.

Em algumas delas, os estoques se esgotaram e foram feitos novos pedidos para atender ao crescimento da demanda. O pediatra Benjamin Roitman, coordenador da Equipe de Doenças Transmissíveis da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) de Porto Alegre, ressalta que o índice de 21 casos registrados em 2014 na Capital - com seis óbitos - está dentro da média histórica e não é motivo para preocupação. O coordenador da Comissão de Controle e Infecção do Hospital de Clínicas, Rodrigo Pires dos Santos, tem a mesma opinião.

Então, por que as pessoas estão temendo um surto de meningite?

Com base nesse questionamento, Zero Hora conversou com Roitman e Santos para esclarecer quando uma doença se transforma em surto e quais as características que a elevam a uma epidemia. Tire suas dúvidas abaixo:

O que é o surto de uma doença?

Tecnicamente, nada mais é do que o aumento no número de casos além da normalidade. Às vezes, pode ser um número bem pequeno, desde que seja uma situação incomum. Qualquer aumento no histórico de relatos ou taxas de infecções pode ser considerado um surto. É uma coisa matemática. No caso da meningite, nitidamente não há um crescimento dos casos.

Existe algum percentual que determine o surto?

A base para avaliar é a condição específica e o histórico de casos da doença. Não existe um percentual que determine. Às vezes, um ou dois casos podem ser considerados um surto em lugares onde não ocorreu nada. Depende da condição. No Hospital de Clínicas, por exemplo, temos uma curva epidemiológica. Se acontece aumento no número de casos, adotamos uma definição quase subjetiva, baseada em avaliações das curvas. Uma taxa que sobe e desce de um mês para outro não significa necessariamente um surto.

Que tipo de critérios são levados em conta nas curvas epidemiológicas?

Quando fazemos uma taxa de infecção, é o denominador - a população que serve de base para o dado e não só o número absoluto. O cálculo é baseado na população em risco vezes o número de casos. Normalmente, são comparados meses e anos anteriores. No Clínicas, as taxas são controladas desde 2001. Há uma segurança muito boa para definir quando alguma coisa sai da normalidade.

Qual a diferença entre surto e epidemia?

A epidemia se caracteriza quando diversos locais começam a apresentar surtos, num mesmo período de tempo. O ebola é um exemplo. Quando a doença se dissemina, vira uma pandemia - aparece em várias localidades do mundo simultaneamente. Em 2009, tivemos a pandemia do H1N1. É importante ressaltar que a definição de surto independe do desfecho - se vai causar mais ou menos doença, ou se vai causar morte. O fundamental é a incidência de novos casos.

Arte / Zero Hora

Prefeitura afirma que não há surto na Capital

Meningite transmitida por parasita avança no Brasil

 

Mortes por meningite | Create Infographics

Causas da doença

A meningite pode ser causada por diversos agentes como vírus, bactérias, fungos e protozoários. A maioria das meningites, mesmo sendo uma doença grave, não é transmissível entre as pessoas. A variação que preocupa é a causada pelo meningococo Neisseria meningitidis, que pode ser transmitida de pessoa a pessoa (secreções de orofaringe - nariz e boca) e eventualmente causar epidemias.

Sintomas e vacinas

Os sintomas da meningite são dor de cabeça, febre, vômitos em jato e rigidez de nuca. As crianças muito pequenas podem apresentar prostração ou irritabilidade. A prefeitura orienta que, em caso de aparecimento dos sintomas, a criança ou o adulto deve ser avaliado por qualquer médico, que, mantida a suspeita clínica, deve encaminhar a pessoa para uma emergência hospitalar.

A vacina contra o Haemophilus influenzae tipo B também protege contra a meningite e faz parte do calendário oficial de vacinação. A vacina contra a meningite por pneumococo também fornece boa proteção. Desde 2011, a vacina conjugada contra meningite por meningococo C  faz parte do Calendário Básico de Imunização.  Uma dose deve ser aplicada aos três meses; outra, aos cinco meses e a dose de reforço, aos 15 meses.

Se aparecerem manchas vermelhas (hemorrágicas) sob a pele, a criança ou adulto deve ser encaminhado imediatamente a uma emergência hospitalar. Os telefones (51) 3289-2471 e (51) 3289-2474 estão disponíveis para mais esclarecimentos.

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